sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ana Rowena influencia Esvalda

 

A cruel Ana Rowena, a ser que é o próprio mal em pessoa, estava vindo das trevas e passando por Lagoa da Italianinha, vendo a mendiga Esvalda, que é conhecida por ser muito suja e malcheirosa. Esvalda estava solitária, meio triste por não ter amigos. Esvalda dizia:

- Será que vou ter que tomar banho pra ter amigos?

Ana Rowena disse, sem ela vê-la:

- Nada disso, Esvalda. Continue assim, sem amor próprio, usando essa mesma camisa que você usa desde 2012, colada em seu corpo cheio de grude, e com essa calça que você usa desde 2009, continua assim cheirando mal, fedendo.... eu vou lhe arrumar uma amiga. 

Esvalda ouviu a voz, e dizia:

- Quem está aí? Tive impressão de escutar uma voz, acho que estou louca. 

Ana Rowena disse:

- Seja suja, muito suja. Nada de tocar em água. Você não toma banho desde 2007, continue assim! 

Esvalda disse:

- Sim, eu nunca tomarei banho. Eu adoro ser suja! Quem quiser ser amigo meu, tem que me aceitar assim!

Ana Rowena desceu pro fogo, feliz, enquanto Esvalda continuava solitária. 


Renata e Andreza começam a se dar mal

A mendiga Renata, nos últimos dias, não anda muito bem com a mendiga Andreza, de quem sempre foi muito amiga. E o motivo é muito banal: Renata não gostou do fato de Andreza "estar tomando mais banho". Renata, que gosta de ser suja, disse, certo dia para seu amigo, o mendigo Gílson:

- Andreza tá agora metida com o moralismo da limpeza, francamente, ela ficou foi muito exibida com isso. 

- Todo dia ela tá no chafariz da praça.

- Verdade, isso me irrita. 

Enquanto isso, a mendiga Andreza estava com o mendigo Guilherme, seu amigo e admirador. Guilherme disse:

- Parece que a Renata não quer mais conversa contigo. 

- A galega malcheirosa tá arretada comigo porque tô tomando banho, vê se pode. 

- Oxe, ela queria tu suja, é?

- Sim. Renata não sabe o que é bom, ela só toma banho de mês em mês e ainda fica suja! 

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Alessandra no dia da tomada de Berlim

 

Em abril de 1945, Alessandra já havia sido liberta de um campo de concentração, e ela passou muito tempo internada para tentar se recuperar. Nessa ocasião, Alessandra soube que os soviéticos já estavam tomando Berlim, e Alessandra dizia:

- Está chegando a hora da nossa libertação!!!! 

Alessandra ainda quis se arriscar, indo a Berlim, e viu a cidade em ruínas. Alessandra dizia, vendo a cidade que um dia morou pegando fogo:

- Quem foi essa cidade um dia... tudo por que o meu povo deu ouvidos a um psicopata...

Era o dia 29 de abril. No dia seguinte, chegou a notícia de que Hitler havia cometido suicídio ao lado de sua esposa Eva Braun. 

Alessandra comemorou a notícia. Ela dizia:

- Não sou de festejar morte de ninguém, mas chegou a hora dele prestar as contas dele... 

Apenas um mês depois, Alessandra deixou Berlim rumo à Maceió, no Brasil, onde passaria o resto de sua vida. 


A antipatia entre Fabíola e Valdenes

 

Uma coisa curiosa em Lagoa da Italianinha, e Eraldo tendo que lidar com isso, é que sua irmã Fabíola, a vintage que anda como se estivesse nos anos 30, não nutre simpatia por Valdenes, o amigo de Eraldo. Sentimento esse recíproco. 

Quando soube que Valdenes havia deixado a escola de música, Fabíola disse ao Eraldo:

- Fez bem ter se livrado dele. 

- Oxe, que conversa é essa?

- Claro, ele não gira bem, imagina... Valdenes fica por aí andando descalço para os cantos, e toma banho com roupa e tudo, aí até com sapatos. Não tá ligado que ele não é normal?

- Isso é o jeito dele, Fabíola. 

- Jeito de doido, ainda dizem que a doida sou eu! 

Valdenes também acha que Fabíola "não é normal", e chegou a dizer para sua prima, a vereadora Kátia:

- Imagina, aquela maluca irmã do Eraldo. A gente tá em 2024 mas ela se acha que a gente está na década de 50, ela se veste como se estivesse nos anos 50, usa máquina de escrever, recusa tecnologia, e ainda diz que Rio é a capital do Brasil, ainda existem a União Soviética e duas Alemanhas. Doida varrida, viu? 

- É, mas ela tem esse jeito, fazer o que, né, primo?

Eraldo tenta fazer com que sua irmã e seu amigo se entendam, mas eles não perdem a oportunidade de um atacar o outro. Na realidade, os dois não se odeiam, mas apenas não nutrem simpatia um pelo outro. 

Simone tenta incomodar a mendiga Fábia

 

Numa certa noite, a perversa Simone saiu do cemitério e foi para as ruas de Lagoa da Italianinha, onde viu a mendiga Fábia, e disse pra ela:

- Olha aí a ridícula de chupeta na boca, uma velha dessa cidade com chupeta. 

- Isso é da tua conta, sua bruxa? - disse Fábia. 

- Tu morre de inveja porque não tem poderes feito eu...

Fábia disse:

- Eu inveja de tu? Jamais, tu é muito má, tu é tão má que tu já morresse, fosse pro inferno e o capeta não te quis lá!  

Simone dava risadas dela, e dizia:

- Eu ainda vou acabar com todos os mendigos de Lagoa da Italianinha, e tu será a primeira!

- Eu lá tenho medo de tu, cobra jararaca? Volta pro esgoto que é teu lugar. 

Simone saiu dali, dando risadas maldosas. Fábia dizia:

- Nojenta, ainda tá com catinga de enxofre e suja de lama...

Helga não consegue cantar e fica arrasada

 

Em Viena, a jovem cantora Helga foi tentar cantar em uma ópera, mas não conseguiu. Seus amigos Monika, Christine e Ravi ficaram muito preocupados com ela. Helga sonhava em ser cantora de ópera em nível mundial. Inclusive, tinha contatos com Giovanna Victórya, que mora no Brasil, para tentar se apresentar na América do Sul. 

Helga caiu no choro por não conseguir se apresentar. Ravi a consolou, dizendo:

- Calma, minha diva. Não fique assim. Isso acontece. 

- É o fim da minha carreira internacional. 

- Nada disso, pare com isso. Lá nos Estados Unidos, Walt Disney montou um império depois de falir três vezes. 

- É... verdade. 

- Por favor, Helga. Fique bem.

Ravi abraçou Helga. Monika e Christine ficaram olhando, e Christine disse:

- Parece que Ravi gosta dessa gorducha... o que ele viu nela?

- Ela é uma pessoa de talento, Christine. - disse Monika.

Christine olhava a cena, com inveja. 

A lenda do voo de Tia Sandra

 

O ano era 1961, e na então vila Maniçoba - dois anos depois se emanciparia de Vila Dourada, virando Lagoa da Italianinha -, a Tia Sandra, com 70 anos de idade, teria voado para o céu sob a vista de sua sobrinha Lanie, que estava ao lado do marido Jadiael e dos filhos Alycia e Arthur. 

Mesmo com 70 anos, Tia Sandra ainda agia como criança, brincava de boneca e ursinho de pelúcia, que ganhou de sua sobrinha quando foi morar no Brasil. Ela era italiana, e tendo convivido com sua família, que a rejeitava, ela foi morar nas ruas de Verona, além de ter ficado em um manicômio em Milão de 1939 a 1946.

Alycia, ainda viva hoje e residente em Verona, prestes a completar 94 anos, diz claramente, chegando até mesmo a jurar, que viu Tia Sandra voar. Em Lagoa da Italianinha, muitos não acreditam nessa história de que "Tia Sandra teria ido pro céu com tripa e com tudo", como se diz no Nordeste. Arthur, o irmão de Alycia, foi prefeito de Lagoa da Italianinha entre 1969 e 1973 - único italiano nato a ser prefeito desta cidade pernambucana -, e chegou a construir um loteamento onde deu o nome de sua tia-avó, que hoje é o bairro Tia Sandra. 


A amiga da água, da lama e da chuva

 

É muito raro em Lagoa da Italianinha não ver Cássia dentro d'água, seja na banheira em sua casa, no rio, no chafariz ou na cachoeira. Cássia gosta tanto de entrar no chafariz que ela já tem mais entrada na fonte do que alguns moradores de rua. 

Ela não é incomodada pela polícia, pois os policiais sabem dos problemas mentais dela. Além de brincar na água, Cássia também adora se sujar de lama. Em nenhum dos momentos, ela tira a roupa pra entrar. Sendo que em casa, ela ainda tira os tênis para se banhar, enquanto nos lugares públicos e na lama, ela entra com tênis e tudo. 

Sem contar também quando chove, Cássia sai na chuva, sem medo de se molhar, pegar gripe ou resfriado. Devido a essa obsessão de estar na água ou na lama, alguns já dizem que ela é um "peixe". 

O pastor André, seu irmão mais novo, já chegou a contar quantas horas por dia Cássia passa "molhada" ou "suja": das 24 horas do dia, ela passaria até 12 horas "molhada" ou "suja" e outras 12 horas "seca", sendo que dessas 12, apenas 2 horas são andando pelas ruas ou fazendo alguma outra coisa. Cássia dorme 10 horas por dia, devido ao efeito de seus remédios. 

O amor da vida de Sophia

 

O jovem Michael, que vivia em Fortaleza no século XIX, nutria um sentimento de amor pela bela Sophia. Ele tinha a aprovação do pai da moça, Raul, e também do irmão dela, Mauro, sendo inclusive amigo dele. Mas Tereza, a mãe dela, não gostava dele, por ele não ser muito rico. 

Não foram poucas as vezes que Sophia e Michael se encontraram ás escondidas. Chegaram várias vezes a se encontrar na casa de Alvanir, com o apoio dela. 

Michael, porém, pagaria com a vida por esse amor. Ele despertou a fúria da mãe de Sophia, Tereza. Em 1862, com apenas 32 anos de idade, morreu em uma queda de cavalo, provocada a mando de Tereza. Sophia testemunhou a hora da queda, tentou socorrer seu amado, mas sem sucesso, pois ele morreu em seus braços. A partir daí, Sophia, que sempre foi alegre e sorridente, nunca mais foi a mesma. Passou 13 anos em um quadro depressivo, até cometer suicídio se afogando no mar em 1875. Sophia, ao sair de casa para morrer, teria dito pra si mesma:

- Vou me encontrar com Michael...

Suely aprova seu novo ajudante


A juíza Suely ficou bastante satisfeita com o desempenho de Valdenes em seu novo escritório. Ele trabalhou na parte da tarde, e já foi liberado para voltar no dia seguinte. Valdenes ajudou a juíza a organizar documentos e processos. Valendo ressaltar que apesar de ter vivido muitos anos nas ruas, Valdenes sabe ler e escrever bem. 

Suely ligou para Eraldo, agradecendo por tê-lo indicado. Sua filha Sara chegou em casa, e disse:

- Mãe, a senhora gostou do novo funcionário?

- Sim, ele é bastante prestativo. 

- Que coisa boa, fico feliz que deu certo. 

- Pois é, ele trabalhava na escola de música do Eraldo, mas Eraldo precisou cortar as despesas e só ficou lá com a secretária Clíntia. Nem mesmo a esposa dele, Judilane, ficou lá. Mas ele é muito amigo de Valdenes e acabou me indicando ele.

- E combina certinho, o maluco, ele anda descalço pra todo canto que nem a senhora, de vez em quando...

- Sim, eu só me preocupo quando for pra mandar ele pra banco, se vão deixá-lo entrar descalço... mas isso eu dou um jeito. 

- Tá bom, mãe. Parabéns pelo seu novo funcionário. 

Enquanto isso, em casa, no apartamento no Bella Ciao, Valdenes disse para suas irmãs Vitória e Juju Doida:

- Eu saí da escola de Eraldo, mas eu já estou trabalhando com a juíza Suely. 

- Aquela que é careca feito eu? - disse Juju.

- Ela mesma. E ela aprovou meu desempenho. 

- Que bom irmão, que você não ficou desempregado - disse Vitória.

- E tu, Vitória, trate de arrumar emprego, depois que tu saiu lá do museu, tu não faz mais nada, e eu não quero ficar te sustentando, ok?

Vitória não gostou da fala de Valdenes. 

Aline Débora vai tirar satisfações com Valquíria

 

Numa certa noite, a Aline Débora não voltou para o sítio Mandacaru, preferindo ficar em Lagoa da Italianinha, na hospedaria de Luciana. Nessa noite, ela foi na casa de Selma, que a recebeu e disse:

- Pois não?

- Aqui mora uma tal de Valquíria, uma que anda vestida de noiva com um vestido preto?

- Sim.

Aline Débora foi logo entrando, e disse:

- Quero falar com ela.

Valquíria apareceu, e disse:

- Ouvi alguém falar meu nome. 

- Fui eu. - disse Aline Débora - que ideia é essa de falar mal de mim pra Valdenes?

- Eu não falei nada. 

- Mentira, ele me contou tudo. Vou arrancar tua cabeça e esse teu vestido encardido!

Aline começou a bater em Valquíria, e nessa hora, Selma, Malu, Anna Paula e Alice separaram as duas, e Valquíria disse, com raiva:

- Sai da minha casa. 

- Eu saio, mas não terminamos a conversa!

Aline Débora saiu, e Valquíria disse:

- Essa matuta é mais brava que um batalhão de choque da polícia! 

- Também, tia, tu vai falar mal dela pro Valdenes - disse Malu. 

- Eu falei e falo de novo, eu quero abrir os olhos dele. 

- Pra ele se casar com a senhora. Sei!

Valquíria subiu ao quarto. 

Giovanna desmente renúncia de Myllena

 

Vice-prefeita eleita em Lagoa da Italianinha, Giovanna Victórya precisou desmentir um boato que sua mãe, a prefeita reeleita Myllena renunciaria por problemas de saúde. A prefeita descalça passou mal durante um evento, e precisou ser internada. Ela foi diagnosticada com estafa severa, e precisou repousar. Sua atual vice, Marcella, é quem está no comando da cidade. 

Giovanna, que já é cotada para ser prefeita a partir de 2026, quando Myllena, aí, sim, deverá renunciar para ser candidata a deputada estadual, desmentiu a afirmação de que a prefeita já estava entregando o cargo agora, passando o bastão para sua filha. 

Giovanna disse em um vídeo:

- Parece que muita gente tá com vontade de me ver como prefeita já, mas eu não serei, ao menos, a partir de janeiro. Minha querida mãe está se recuperando de uma estafa e já já ela vai voltar. Se isso acontecer, só em 2026, caso ela venha a ser candidata a deputada. Mas até lá, a prefeita é ela, tá? 

Jacilene protege a escrava Gilmara

 

Morando na casa da Sinhá Adriana, em Vila Rica, desde 1782, a francesa Jacilene entrou em choque com sua patroa por proteger a escrava Gilmara. Sinhá Adriana não gostou nada da tentativa de sua hóspede em proteger a escrava. 

Certo dia, em 1787, Sinhá Adriana disse para Jacilene:

- Tu protege demais essa escrava, eu desconfio que tu tem umas ideias erradas...

- Eu sou ser humana, apenas isso. 

- Pois saiba que escravos não são seres humanos, são objetos. E você tem que aprender isso. Se quiser continuar na minha casa! 



Jacilene ficava ameaçada de sair da casa, mas Sinhá Adriana a mantinha mais em consideração ao seu amigo que morava na França que a indicou. Gilmara, certa noite, serviu um jantar para Jacilene, e ela disse:

- Senhora, por que me protege tanto? A senhora está em choque com a sinhá. 

- Eu não ligo pra isso, querida. Você é uma pessoa como eu e ela.

- Mas...

- Nada de mas. Chegará o dia, talvez nem veremos esse dia, que vocês serão respeitados como seres humanos que são. Eu sou europeia, francesa, mas nunca me achei melhor do que ninguém,  eu mesma sou apaixonada pelos africanos, como por exemplo, a sua prole. 

- Muito obrigada, dona Jacilene. 

- Jacilene, pode me chamar de Jacilene. 

A francesa seguia amiga da escrava, mesmo contra a vontade de Sinhá Adriana. 

Lu trama sequestrar Lara

 

Na cidade de Lagoa da Italianinha, é conhecido o ódio que a ciclista aventureira Lu tem pela menina Lara. Embora ela também odeie a irmã dela Luiza e os primos Davi e Maria Júlia, é contra Lara que Lu volta sua carga mais venenosa. 

Lu disse, certo dia para Gilvânia:

- Tem uma molequinha atrevida, que vive debaixo de uma barraca, ela anda descalça feito tu, ela se chama Lara. É uma porquinha melequenta e metida, eu estou doida pra cuidar dela. 

- Lara te incomoda tanto assim?

- Muito. Eu odeio essa pirralha! 

- Lu, a gente pode planejar um sequestro dela, eu estou disposta a te ajudar. Desde que tu me ajude a derrotar Danúzia!

- Oxe, tá feito então! Fechado! 

Fabiana perambulando pelas ruas

 

A venezuelana Fabiana, que mora nas ruas de Lagoa da Italianinha, passa a noite e a madrugada perambulando pelas ruas. Ela dificilmente dorme cedo, sendo apenas por volta das 4 da manhã que Fabiana se deita em uma calçada para dormir. 

Os seus filhos, porém, dormem cedo, ao contrário da mãe. Fabiana passa por bares e restaurantes para pedir esmolas. 

Seu sotaque venezuelano, língua espanhola, chama atenção das pessoas. Alguns a provocam por ela ter vindo da Venezuela. Alguns falam:

- Quem mandou votar em Maduro? Agora aguente. 

Mas Fabiana, que já foi alvo de xenofobia várias vezes, não se incomoda. Um outro detalhe curioso sobre Fabiana é que apesar dela já ter três filhos, ela sonha em se casar. E já disse que prefere se casar com um mendigo, pois não quer viver debaixo de um teto. Até chegou a sugerir que seu "candidato a marido", caso tenha casa, saia dela pra viver nas ruas com ela...

Frannie será homenageada em clube de lazer

 

Andy e Josenilda se associaram e compraram um clube de lazer, que tinha quatro piscinas. Deram ao clube o nome de Frannie, que viveu em Lagoa da Italianinha nos anos 40, e era conhecida por usar roupas modernas para a época. Dizem que ela tomava banho sempre de roupa e teria introduzido esse hábito no pequeno sítio. 

Josiane, porém, não gostou da ideia. Josiane, que é sobrinha de Andy, disse:

- Não sei porque homenagearam essa italiana, pois minha avó Jennifer, sua mãe, também tomava banho de roupa. E muito antes dessa Frannie vir da Itália chegar aqui, ela já praticava esse hábito. 

- Calma, nós homenagearemos Jennifer, também. 

- Acho bom, viu?

Andy disse:

- É porque Frannie é mais longe de disputas partidárias... como minha mãe Jennifer é também a mãe do deputado estadual Moab, ela poderia levar pro lado político. Foi necessário optar por Frannie. 

- Está bem, ao menos, homenageie Jennifer em algum ponto lá no clube. 

- Isso será feito, pode ter certeza, sobrinha. 

A revolta de Warlla

Numa certa noite, solitária nas ruas de Lagoa da Italianinha, a "mendiga chique" Warlla parecia muito nervosa. No meio da rua, ela gritava:

- Esses imbecis hão de me pagar. Não tenho mais casa, mas não perco minha pose, não. Sou uma madame linda e poderosa. Bocado de salafrários. Quando eu tinha casa, viviam na minha cola, agora que moro na rua, fingem que não me conhecem! Mas tudo bem... eles irão pagar muito caro!

Algumas pessoas passavam por ela, e viam-a falando sozinha. Warlla dizia:

- Tão olhando o que? Nunca viram uma madame feito eu?

Um homem respondeu:

- Suja e morando na rua, não...

- Vai pro inferno!

Alguns notaram que Warlla havia bebido além da conta. Warlla disse:

- Vão pro inferno todos vocês!

A misteriosa Ana Rowena apareceu e disse pra ela:

- Não fica mandando gente assim pra lá, não, tá mais lotado que o Maracanã em dia de Flamengo e Vasco!

- Quem é tu? 

- Não interessa. Pare de mandar gente pra lá. 

- Oxe, moça, tu tá com uma catinga de enxofre, viu? 

- Já tá avisada!

Ana Rowena desapareceu, e Warlla pensou consigo mesma:

- Oxe, acho que estou sonhando... preciso parar de beber...

Algumas pessoas estavam rindo, pois viam que além de Warlla falar sozinha, ela tinha conversado com alguém que não foi vista por eles. 


 

Ex-modelo reconhece Andreza

 

Numa certa noite, em Lagoa da Italianinha, um homem que tinha por volta de 60 anos estava pelas ruas quando viu os mendigos Andreza e Guilherme. O homem saiu do seu carro, assustado, e disse:

- Andreza??????

Ela disse:

- Quem é tu? Tu me conhece?

- Fomos modelos juntos lá em Caruaru, não se lembra? Eu já desfilei muitas vezes na passarela com você. 

Andreza disse:

- Quero distância dessa época maldita. 

- Mas o que aconteceu com você, Andreza? Você era tão linda, era a mais linda da equipe, as outra morriam de inveja de tu. Mas hoje você tá...

- Pode falar, eu estou suja, fedida, feia e desdentada. Mas essa foi minha opção depois do que aquele cabra safado do teu amigo que foi meu noivo fez comigo. 

- Lamento muito o que ele fez com você, por sinal, rompemos a amizade, ele também tentou roubar outras modelos.

Guilherme disse:

- Já tá conversando demais, mocinho... chispa. 

- Espere, parceiro... - disse Andreza - nem se preocupe. Onde tu mora hoje?

- Eu moro em Canhotinho, aqui perto. Estou com minha mulher aqui. 

- Tá bom, boa viagem...

- Andreza, tu vive nas ruas sem teto, e...

- E quero continuar assim. 

Ele entrou no carro, e foi embora. Mais na frente, ele disse para a esposa:

- Tu nem sabe quem eu vi.

- Quem?

- A Andreza. 

- A que foi modelo e miss?

- Ela mesma. Ela está nessa cidade. 

- E como ela está?

Ele disse:

- Não é nem a sombra de quando desfilávamos nas passarelas. Ela era muito linda, parecia uma índia, despertava inveja. Hoje, ela está morando nas ruas, velha, feia, descabelada, meio que sem dentes, tava até fumando, e bastante suja. Tava até descalça e do lado de outro mendigo, que acho que é namorado dela. Ainda estava fedendo a urina, a sovaco e o mau hálito forte, nem aguentei ela falando perto de mim. 

- Isso é o que um cabra safado pode fazer na vida de uma mulher...

- Nem me fale, aquele cara foi um estorvo na vida dela... o tal de Hamilton. Não gosto nem de falar o nome dele. 

- Oferecesse ajuda pra ela?

- Sim, mas ela não quis. Ela quer continuar morando nas ruas. 

- Coitada, ficou louca, mesmo... 

Monalisa trama contra sua própria irmã

 

A Monalisa, irmã do vereador Marco Aurélio, conhecida por ser sinistra, anda em pé de guerra com sua irmã Gilvânia. Monalisa, que também é detetive - porém trabalha para as pessoas más - anda investigando os crimes de Gilvânia para tentar que sua irmã seja expulsa de casa. 

Monalisa se aliou com sua prima Danúzia, que odeia Gilvânia, para essa tarefa. Acontece que Monalisa sempre odiou Gilvânia, a quem chama de "porca", "nojenta" e "preguiçosa". 

Mas Gilvânia não tem medo de sua irmã careca. Ela já disse:

- Monalisa, eu não tenho medo de tu, visse? É melhor tu ter medo de mim. 

- Ô, sua pé sujo, tu dorme dentro de um caixão, né? Tem medo de ficar pra sempre dentro dele, não?

- Olha só, minha irmãzinha me ameaçando... mas tu sabe, nosso irmão é vereador, um assassinato em família não seria bom pra ele. 

- É só por isso que eu ainda não te matei, Gilvânia. Mas deixa nosso irmão sair da política que a gente conversa...

Renata enfrenta Wéllia

 

Numa certa noite, em Lagoa da Italianinha, a mendiga Renata entrou em discussão com a publicitária Wéllia, que a humilhou. Quando Wéllia ia saindo do seu escritório, Renata estava deitada na calçada, e Wéllia disse:

- Sai daqui, sua fedida. Não quero que contamine meu lindo escritório. 

Renata se levantou disse:

- Oxe, trambiqueira, tu se acha, né?

- Me respeita, galega suja atrevida. 

Renata riu e disse:

- Respeito????? Tu, que tentou matar sua irmã que vive nas ruas e sua prima? Tu, que rouba idosos, tu que come aposentadoria dos outros? Tu, sua vagaba? 

- Olha que eu vou te...

- Me mate, vamos. Pode me matar, tô aqui, em carne, osso e grude pelo corpo! Bora, me mate. 

Wéllia disse:

- Isso não vai ficar assim, sua mendiga enxerida. Saia daqui. 

- Vou sair! Não vou me rebaixar ao seu nível. 

- Uma mendiga falando em se rebaixar ao meu nível?

- Tu vale menos que nós, que não temos casa. Pelo menos, eu tenho caráter. 

Renata saiu dali, e Wéllia disse:

- Odeio essa galega pé sujo enxerida. 

Rita de Cássia aparece na lanchonete de Quitéria

 

Certa noite, Rita de Cássia, a maluquinha que tem mente de criança, apareceu na lanchonete de Quitéria, que é sua prima distante. Naquele momento, as funcionárias Flaviana, Santa e Pri estavam, e o movimento ali era grande. Entretanto, alguns clientes se incomodaram com a presença de Rita, que estava cheirando a urina e fezes. 

Santa disse:

- Dona Quitéria, tem uma mulher de boneca na mão fedendo a bosta que tá aqui, mais suja que ficha de político corrupto!

- Eita, é Rita de Cássia, ela é minha prima!

Quitéria disse:

- O que deseja, Rita? 

- Comer...

Rita mostrou as moedas que tinha. Mesmo sem o dinheiro dar, Quitéria mandou preparar um jantar pra Rita. Flaviana disse:

- Ela tá fedendo...

- Rita caga e mija nas calças, ela tem esse costume nojento. 

Quitéria se aproximou de Rita, que estava em uma mesa distante dos outros clientes, e disse:

- Rita, por que tu quer viver assim nas ruas? Tu tem uma família!

- Não tenho mais! Minha família são os mendigos! 

- Tu tem certeza mesmo que quer ficar nas ruas?

- Sim. Nunca mais morarei debaixo de um teto. 

Pouco depois de jantar, Rita deu as moedas, mas Quitéria disse:

- Fica com elas, Rita. É por conta da casa. 

- Obrigada...

Rita colocou a chupeta na boca e saiu. Foi perambular pelas ruas antes de se deitar na praça. 

Suely ganha um ajudante

Numa certa tarde, no seu pequeno escritório, estava a juíza Suely olhando uns papéis, quando alguém bateu na porta. Suely disse:

- Entre!

Era o Valdenes, que havia sido indicado por Eraldo para ser o novo ajudante dela. Suely disse:

- Que bom te ver, Eraldo falou comigo.

- Sim, mas não sei se a senhora me contrataria, sabe... 

- Por que não?

Valdenes disse:

- Olha, eu morei nas ruas por muitos anos, só agora que estou começando a aprender muitas coisas, sabe? Mas eu gosto de trabalhar, viu? Ah, como a senhora está vendo, eu ando descalço, viu? Não uso calçado, a não ser nos banhos, e... 

- Eu não me importo com isso, eu também ando descalça. Agora mesmo, estou descalça. 

- Que bom. Bom, eu também tomo banho de roupa...

- Oxe, pois somos dois. Eu acho que você é a pessoa ideal pra me ajudar. 

- Mas... nem vai me fazer perguntas?

Suely disse:

- Valdenes, você é excêntrico, bem diferente, é tipos como você que eu quero mesmo me ajudando. Se for uma pessoa normal demais, vai ficar me olhando de cara feia, porque sou careca e tenho esses outros hábitos. 

- Quer dizer que posso começar quando?

- Agora, mesmo. O que você tem a fazer é apenas alguns serviços simples. Lhe pagarei bem, e é só de segunda a sexta. No sábado, você pode fazer o que quiser, pode até ajudar seu amigo Eraldo. 

- Muito obrigado, dona juíza. 

- Pode me chamar de Suely, mesmo, não tenho essas frescuras, não. 

Mais tarde, Sara apareceu no escritório e viu Valdenes lá trabalhando. Sara disse:

- Já tem um ajudante, mãe?

- Sim, filha, uma pessoa excêntrica feito eu e você. - disse Suely. 

Raquel no chafariz da praça

 

Uma jovem cantora em ascensão, Raquel passou pelo chafariz da praça 27 de Dezembro, e ela não resistiu, entrou na fonte. Começou a se divertir na água, se molhando e até jogando água para os lados. Raquel estava relembrando quando morava nas ruas, que costumava tomar banho no chafariz. Ela estava de jaqueta, blusa, calça e sapatos. 

Os policiais Júnior e Ana Clécia passaram por ali, e Ana Clécia disse:

- Raquel, tu aí no chafariz?????

Raquel disse:

- Um calor desses, me deu lembranças de quando eu morava nas ruas, eu fiquei com vontade e não resisti, entrei.

- Mas não pode, querida. 

Raquel saiu da água, e disse:

- Que pena... eu amei tomar banho no chafariz de novo. 

- Pois é, de vez em quando uns mendigos entram aqui e temos que mandá-los sair. - disse Júnior. 

- Está bem, vou pra casa, trocar de roupa... obrigada.

Raquel saiu dali, e os policiais riam dela. 

Escola de música de Eraldo reduz despesas

 

Um certo dia, Eraldo, preocupado com suas contas, reuniu seus amigos da escola de música e disse para eles:

- Olha, aumentaram o preço do aluguel daqui e vou ter que cortar algumas despesas. Infelizmente, não poderei manter muita gente aqui. 

- O que pretende fazer? - disse Valdenes. 

- Por ora, manterei somente Clíntia na recepção. 

Valdenes ficou preocupado. Mas Eraldo o chamou em sua sala e disse:

- Valdenes, tu não acha que vou te deixar na mão, né?

- Acredito que não. 

- Valdenes, eu falei com a juíza Suely, a careca, a irmã da prefeita. Ela abriu um escritório aqui próximo e quer um ajudante. 

- Oxe, será que ela me aceita como ajudante? 

- Acredito que sim. 

Enquanto isso, a juíza Suely estava no escritório, com sua filha Sara, e lhe disse:

- Parece que eu arrumei um ajudante. 

- Sério, mãe?

- Um tal de Valdenes. Aquele que foi candidato a vice de Eraldo. 

- Sei quem é, um que anda com roupa social mas descalço?

- Ele mesmo. Bom, falta ele vir aqui, se ele topar, será meu ajudante. 

- Dizem que ele é bem maluquinho... mas gente boa. 

- Mas é esse tipo de gente que eu quero, mesmo. Se for muito normal, vai ficar nos olhando de cara feia, principalmente por que eu e você somos carecas, não é mesmo?

- Verdade, mãe...

O banho de Fabiana


Numa certa manhã, em Lagoa da Italianinha, a mendiga venezuelana Fabiana estava com um balde de água, e pediu ajuda a seu filho, Eduardo Felipe, para lhe ajudar a tomar um banho. 

Eduardo Felipe ia pegar água numa torneira próxima, e levava para Fabiana, enquanto ela se banhava, de roupa e tudo, até passando sabonete na cabeça. Alguns a olhavam e zombavam dela. 

Uma pessoa passou por ela, dizendo:

- E a senhora toma banho com a roupa, mesmo, é?

Fabiana entendeu e disse:

- Ni siquiera me quitaré la ropa en público, hombre. Pero de todos modos sólo me ducho con la ropa puesta.

O banho demorou mais de 40 minutos, e Fabiana, com a roupa molhada mesmo, foi caminhar pelas ruas. Eduardo Felipe disse:

- ¿De verdad usas ropa mojada, mamá?

- Por supuesto, se secará de todos modos.


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A pior notícia que Jacilene recebeu

 

Morando em Vila Rica desde 1782, Jacilene estava longe de seu país, a França, quando começou a Revolução Francesa, em 1789. Ela ficou preocupada e ao mesmo tempo, esperançosa de que seu país finalmente abandonasse o famigerado absolutismo. 

Jacilene, porém, sentiu angústia quando soube que um amigo seu de infância estava lutando na Revolução. François, como era chamado, era tão ligado à ela que queria namorar com ela quando era criança. 

Mas a notícia ruim chegou em 1793: Jacilene, que estava morando sozinha em um sobrado - havia saído da casa da Sinhá Adriana no ano anterior -, recebeu uma visita: era sua amiga Milena. 

Jacilene disse:

- O que foi, Milena, que cara de preocupada é essa?

- Eu recebo notícias do que tá acontecendo na França. E aconteceu que algumas pessoas lá estão sendo guilhotinadas. 

- Sério???? Estão perdendo a cabeça?

- Sim. E seu amigo François foi guilhotinado. 

Jacilene começou a chorar, desesperada:

- Não! Não! Não é possível!

- Foi. Isso aconteceu há um mês atrás, e eu soube hoje. Você tinha me falado dele. 

- Me deixa sozinha, Milena. 

- Você tá bem?

- Só quero me deixe sozinha. 

- Como quiser...

Milena saiu, e Jacilene, chorando e triste, começou a tocar violino em homenagem ao seu amigo. 

Josenilda quer fazer um empreendimento inusitado

 

A Josenilda, que mora no Edfício Lusitânia, está bolando um empreendimento em Lagoa da Italianinha um tanto inusitado. Ela busca um sócio ou sócia para comprar um clube de lazer, com piscinas. Até aí nada anormal, a não ser por um detalhe: nesse clube, seria permitido que as pessoas pudessem se banhar totalmente vestidas, como ela mesma faz. 

Josenilda soube que além dela, algumas pessoas em Lagoa da Italianinha costumam tomar banho de roupa e tudo, a exemplo de Aryella - sua vizinha de prédio -, Flor, as irmãs Josiane e Danúzia, o Andy, a Cássia, o Valdenes, a Wêdja, a juíza Suely, a Ana Clécia, a Niedja, a Wiviane - também sua vizinha-, a jornalista Taciana e a Adilma, a Josy, a Aline Débora, entre outras pessoas. 

Josenilda decidiu falar com seu tio Andy, que pratica esse mesmo hábito e se entusiasmou pela ideia. Apesar dela não ser bem vista na família, Andy - que é irmão do deputado estadual Moab - decidiu investir na ideia de de sua sobrinha. Josenilda disse:

- Tio, pelo que eu vi eu vou ter uma grande clientela, eu fui pesquisar as pessoas que têm esse mesmo gosto que eu. É muita gente, isso nem é comum aqui no Nordeste. 

- Verdade. Pelo menos a gente se sente representado. Por que aqui, praticamos isso, mas várias pessoas torcem o nariz pra gente, a maioria não nos aceita. 

- Pois nem ligo, eu tomo banho até com sapatos, comigo é assim. 

- Verdade, fazemos parte de uma minoria aqui na cidade...

- Está bem. É uma minoria, mesmo. 

- Aí, Josenilda, é uma minoria... como tu vai fazer se o lucro não tiver dando muito? É pouca gente levando em consideração que a cidade tem por volta de 100 mil habitantes. 

- Oxe, isso é simples. Faremos duas piscinas... uma para quem toma banho de roupa e outra para quem preferir traje de banho. Muito simples. 

- Geniosa você! 

- Claro, por isso estou bem de grana. 

Myllena é internada no hospital


Durante um compromisso oficial em Lagoa da Italianinha, a prefeita Myllena passou mal e precisou ser socorrida. Muitos na cidade ficaram preocupados com o estado de saúde da prefeita descalça, que passou por bateria de exames no Hospital Mary Dee. 

Claudiane, a médica, cuidou da amiga, e deu o diagnóstico de que Myllena estava com estafa elevada, devido ao ritmo da campanha eleitoral. Já fazem meses que a prefeita descalça não para nem mesmo nos sábados, domingos e feriados. 

Marcella, a atual vice-prefeita - que será substituída por Giovanna Victórya, a filha de Myllena, a partir de janeiro - tranquilizou os munícipes, dizendo que a prefeita está bem, mas precisava repousar. 

Myllena, na cama do hospital, disse para Claudiane

- Vai me proibir de alguma coisa?

- Não, só precisa melhorar seu ritmo, você trabalha demais, querida. Tem que descansar. 

- Pode falar o que quiser, só não me peça para usar calçados, por favor. 

- Você é obcecada em nunca usar calçados, né, Myllena?

- Claro, eu nasci descalça e continuarei assim pra sempre. 

Myllena dormiu no hospital, mas estava previsto que ela receberia alta no dia seguinte para voltar pra casa. 

Akemi em Vila Dourada

 

Na zona rural de Vila Dourada, no sítio Facheiro, já próximo à divisa com Cupira, uma senhora vive ali de forma discreta, sem muito alarde. Ela tem traços japoneses, e seu nome é Akemi. Ela já tem por volta de 70 anos, e é filha de um brasileiro, uma japonesa, e neta de francês. 

Akemi é a filha do Eduardo Villegagnon, que se casou com Naksu na década de 50, mesmo indo de encontro a muitos membros da família. Akemi viu seu pai envolvido em lutas comunistas e sendo até perseguido pelo Regime Militar. Sua mãe, Naksu, também chegou a ser presa pelo Regime Militar. Nesse meio tempo, Akemi, ainda muito jovem, chegou a morar com o tio, Kenji.

Mesmo o romance de Naksu com Eduardo tendo sido reprovado pelos pais de Naksu - Masato e Yumi, que vieram para o Brasil por causa da guerra  -, os avós japoneses a amaram muito

Akemi, porém, escolheu viver uma vida discreta. Comprou um pequeno sítio com o dinheiro da herança dos pais. O referido sítio fica muito afastado do centro de Vila Dourada, já na direção de Cupira. Pouco fala com os vizinhos, a não ser com a camponesa Alexsandra, sua vizinha, que costuma cuidar de Akemi quando ela fica doente por conta da idade avançada. 

Alexsandra disse:

- A senhora não tem vontade de ir morar no Japão?

- Teria, sim, mas tô velha pra isso... me conformo em ser uma representante da cultura japonesa aqui nesse belo lugar que é Pernambuco...

- Lá deve ser muito bonito. 

- Sim, e muito desenvolvido. O país é muito rico. Tecnologia avançada. 

- Que diferença aqui com o Brasil...

Mesmo morando em um sítio do interior de Pernambuco, Akemi se orgulha da sua origem, da cultura japonesa e gosta muito de comidas orientais. Esteve em Lagoa da Italianinha visitando o restaurante de comida oriental inaugurado por Nayara, também descendente de japoneses. Akemi se sentiu sempre mais ligada ao país de sua mãe e seus avós do que mesmo ao país onde nasceu. Já chegou a visitar o Japão quando era mais jovem. 

Fabiana na Câmara


Numa certa manhã, na Câmara de Vereadores em Lagoa da Italianinha, a mendiga venezuelana Fabiana apareceu lá, querendo pedir esmolas para os vereadores.

Fabiana estava bastante suja, descalça e com um mau cheiro forte. Um guarda da Câmara tentou barrar Fabiana, mas ela acabou entrando.

Karoline, a presidente da Câmara, passou por ali, e Fabiana pediu dinheiro. Karoline disse:

- Tenho não, mulher. 

Fabiana estava sentada em um sofá. Alguns zombaram dela. Um dos assessores disse:

- Essa mulher parece que não toma banho faz tempo, a catinga tá subindo aqui.

- Ser pobre não é defeito, mas ser suja é... - dizia outro.

Fabiana ainda abordou alguns outros vereadores, como Josimar, Kátia, Vanessa, Marco Aurélio e Wilon. Fabiana só conseguiu com 10 reais com Vanessa.

Fabiana saiu da Câmara irritada e falando mal dos vereadores.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Tia Sandra na adolescência

Enquanto vivia em Verona, na Itália, a Tia Sandra, tia de Lanie, chamava atenção por seu jeito simples de ser. O ano era 1908, e Tia Sandra tinha 17 anos. Mas muitos na sua família chamaram atenção para um detalhe: mesmo já com essa idade, Tia Sandra - que andava sempre descalça e usava um vestido longo - não largava de sua boneca e se comportava como criança. 

Nessa época, Lanie tinha apenas um ano de idade, e Tia Sandra gostava de ficar pegando na criança e balançando-a. A família tinha uma fazenda nos arredores de Verona, onde Tia Sandra gostava de ficar dando voltas com sua boneca. 

Tia Sandra foi levada ao médico, e diagnosticaram que ela tinha mente de criança, o que foi um choque para a família. Sabia-se que mesmo quando ficasse idosa, ela continuaria se comportando como criança. 

A família nunca aceitou a condição de Tia Sandra, e ela se sentia rejeitada. Devido a isso, a partir de 1911, deu início a inúmeras fugas para dormir nas ruas de Verona, sendo o ápice entre 1935 e 1937, quando passou dois anos seguidos como mendiga. 

Amigas na piscina

 

Um certo dia, duas amigas de longas datas marcaram para ir a uma piscina na casa de um conhecido delas. A policial Ana Clécia, que estava em dia de folga, se encontrou com Wiviane. Ambas moram em edifícios em Lagoa da Italianinha: Ana Clécia mora no Edifício Germânia, e Wiviane, no Edifício Lusitânia. 

As duas amigas se viram, e Ana Clécia disse:

- Que bom te ver, estudamos juntas, infelizmente, te prendi uma vez, mas agora, tu tomasse juízo?

- Oxe, tomei juízo nada! Eu até pisei no freio, mas continuo rebelde!

- Ah, é? 

- Sim, inclusive, nós duas vamos entrar de roupa e tudo na piscina. 

- Oxe, é pra já!

As duas se jogaram de roupa e tudo, e se divertiam bastante. Quando saíram da piscina, Ana Clécia disse:

- Chegar de roupa molhada lá, vão me chamar de doida. 

- Eu nem me importo que me chamem de doida. - disse Wiviane. 

- Sua irmã Jane agora é vereadora eleita, vai ter que se comportar melhor...

- Oxe, tenho nada a ver com isso, nem gosto de política!

As duas amigas conversaram longas horas e depois cada uma delas voltou para seu apartamento. 

Denúncia de Lady Andréia provoca onda de confisco de rádios

 

Em Vila Dourada, a madame Lady Andréia, conhecida por ser uma madame religiosa - era beata e andava lado a lado com Mônica - e tinha duas filhas - Gisella e Allana Hevellyn, escondia seu verdadeiro caráter na igreja. Malvada, perversa e cruel, nutria ódio contra a pintora Inalda, a alemã judia. Certo dia, ela ameaçou denunciar Inalda às autoridades. 

O Brasil havia declarado guerra ao Eixo em 1942, e nessa ocasião, foram decretadas diversas restrições contra imigrantes italianos, alemães e japoneses, que eram parte da aliança contra qual o Brasil lutava naquele momento. Em Vila Dourada, no interior de Pernambuco, haviam famílias de imigrantes das três nações: alemãs e italianas no sítio Maniçoba e japoneses na própria sede municipal. 

Lady Andréia foi procurar o delegado e disse:

- Inalda, uma alemã, vive por aqui, com a prima dela, Danielly. Ela tem que ser investigada. Aqui é uma cidade pernambucana, e tem gente do Eixo aqui, delegado. 

- Vamos investigar isso...

Nesse período, eles não foram presos, mas tiveram seus rádios confiscados. Inalda e Danielly estavam na mansão quando receberam a polícia na porta. Inalda disse:

- O que querem?

- A senhora tem um rádio? Não poderás mais ter, porque imigrantes do Eixo estão proibidos de ter rádio para se informar. 

Inalda tentou resistir, mas os policiais entraram e retiraram o rádio. Foram na casa também da família de Jadiael, o italiano. Lá estavam ele, sua esposa Lanie e os filhos Alycia e Arthur. Nessa ocasião, Arthur provocou os policiais, dizendo:

- Io sono italiano, com orgulho!

- Deixa, filho, deixa! - disse Jadiael. 

Pouco depois, Jadiael foi na casa do seu inimigo, o coronel Jefferson, falar do que havia acontecido. O coronel cearense respondeu:

- Italiano, lamento te informar, mas não tenho nada a ver com isso. 

O italiano Hélio, sua esposa Suzana e os filhos Bianca e Kayque também receberam visita dos policiais que tiraram o rádio da casa. Na cidade de Vila Dourada, sobrou também para a família japonesa também recebeu a visita dos agentes. Seu Masato ainda tentou resistir, mas não conseguiu. A esposa Yumi e a filha Naksu e o pequeno filho Kenji viam a cena, atônitos. 

Ed, o dono da venda no sítio Maniçoba, ofereceu espaço na sua venda para que os que perderam seus rádios pudessem escutar as notícias, principalmente do "Repórter Esso" e da "Hora do Brasil". Só muito tempo depois que descobriram que perderam seus rádios após uma denúncia de Lady Andréia, o que a fez ser muito odiada entre os imigrantes. 

Guilherme e sua vida nas ruas

 

Vivendo pelas ruas de Lagoa da Italianinha, o mendigo Guilherme segue ao lado da mendiga Andreza, de quem gosta bastante. Ao contrário de seu irmão Valdenes, Guilherme não quis sair das ruas, especialmente para ficar ao lado dela. 

Mesmo recebendo apelos de seus irmãos Jad, Valdenes, Juju Doida e Vitória para sair das ruas, Guilherme se recusa, e diz "já estar acostumado". Além de Andreza, Guilherme diz também "nunca se imaginar debaixo de um teto".

Ironicamente, ao contrário de seu irmão Valdenes, que anda descalço, Guilherme usa sapatos o tempo todo. Valdenes, que só usa sapatos quando se diverte na água, costuma dar vários pares para seu irmão usar. 

Guilherme ainda carrega consigo uma bolsa, onde tem um caderno e escreve seus pensamentos. No caderno, tem vários dedicados à Andreza, lamentando que ela só o veja como amigo e insiste em não abrir o coração depois da decepção que ela teve com seu ex-noivo Hamílton. 

É muito raro não ver Guilherme lado a lado com Andreza. Mas embora Andreza ande sempre com ele, ela já deixou claro que não quer nenhum relacionamento - que não seja amizade, apenas - com ele. Andreza, a ex-modelo, está determinada a envelhecer nas ruas e sozinha, sem nenhum marido.  

Deza e seu amigo Lúcio

 

A moradora de rua Deza, que é a mendiga que mora há mais tempo nas ruas de Lagoa da Italianinha - desde 1987 - anda agora lado a lado com um idoso, bastante sujo, barbudo, que também é morador de rua. Sabe-se apenas que ele se chama Lúcio e tem uns 80 anos de idade. 

Num certo dia, Deza e Lúcio estavam juntos em uma parada de ônibus. Passando por algumas barracas, alguns que ali estavam ficavam com nojo de ambos, já que os dois estavam bastante sujos e encardidos, além de exalar mau cheiro. 

Um dos fiscais de ônibus que ali estava dizia:

- Pronto, agora essa porca da Deza achou a dupla certinha. 

Deza aumentou mais as especulações sobre sua idade, pois ela disse que "Lúcio é seu amigo de infância", sendo que ele já é octogenário. Os dois estavam cheirando tão mal que nem mesmo alguns mendigos sujos, como Gílson, Renata, Esvalda ou Jéssica, aguentavam estar perto deles. 

Lúcio parecia falar pouco, e muito calado, só se sentia à vontade com a Deza. Lúcio fumava um cigarro de palha, e Deza continuava conversando, mas misturando os assuntos e falando coisas sem nexo. 

Rita de Cássia no restaurante de Paula

 

Num certo fim de tarde, o restaurante de Paula abriu, e logo, a mendiga Rita de Cássia entrou com sua boneca Dalila. Paula disse:

- O que você deseja, Rita?

Rita de Cássia mostrou umas moedas, e disse:

- Dá pra comer o que aqui?

- Minha linda, não dá pra comer nada, aqui a comida é muito mais valor que essas simples moedas. 

- Puxa, eu tô com fome...eu e minha filha. 

Paula disse:

- Oxe, e a boneca também sente fome?

- É minha filha Dalila, e ela é especial, também sente fome! 

Paula disse:

- Rita, não é por nada, não, mas tu tá com uma catinga de bosta, mulher...

- É que eu cago nas calças, eu já caguei agora há pouco...

- Isso é nojento demais, tu não acha?

- Oxe, é muito bom, esse foi um dos motivos que eu quis ir morar na rua, fico mais livre pra fazer isso. 

- Rita, faz o seguinte, tu tá muito suja, cheirando mal, cheirando a cocô... se chegar cliente aqui, não vai ser legal. Você quer ficar lá fora? Eu te preparo uma comida. 

- Jura????

- Sim, é por conta da casa. Fique na praça aí na frente, que daqui a 20 minutos tá saindo uma comida pra tu. 

- Obrigada, dona Paula!

Rita foi para a praça, esperar a comida. 20 minutos depois, Paula trouxe a marmita, com garfo, colher e faca, e Rita comia alegremente. 

Taline e Teane abrem um museu

 

Poucos dias depois de ser inaugurado um museu dedicado à portuguesa Mary Dee em Lagoa da Italianinha, as gêmeas Taline e Teane, bisnetas da pintora alemã Inalda, abriram um museu na mansão onde Inalda morou. Diferentemente do que aconteceu com o Museu de Imigração Italiana e o Museu Mary Dee, essa inauguração não foi muito badalada. 

As gêmeas guardaram ali as pinturas de Inalda, além de exaltar algumas tradições alemãs. Em uma cidade nordestina fundada por italianos, os descendentes de portugueses e alemães também buscavam espaço. 

Aryella, uma prima delas, não quis comparecer ao espaço. Elas não se dão bem com Aryella. Outros descendentes da prima de Inalda, a Danielly, compareceram: Esdras, com sua filha Hadassa, ficaram encantados com o espaço. 

Já as irmãs Jane e Wiviane, que são bisnetas de Danielly, e o tio delas, o ex-prefeito Aenson, que também é descendente, apareceram e ficaram felizes com a iniciativa. Jane, inclusive, disse:

- Eu fui eleita vereadora, e se precisarem de apoio, estarei disposta a ajudar. 

- Muito obrigada, Jane - disse Teane. 

Inclusive, as gêmeas contaram com a ajuda de Jane para descobrir a placa de inauguração do espaço. 

Suely busca ajudante

 

A juíza Suely anda muito atarefada, com muitos processos a estudar. Preocupada, a juíza careca já está em busca de alguém para ajudá-la, pois além dos processos, ainda existem as preocupações extras. Suely abriu um pequeno escritório fora das dependências do Fórum, para onde costuma levar suas atas e documentos. 

Bruna, que trabalha com ela, tem outros trabalhos fora do Fórum. Suely, certo dia, estava muito preocupada, e sua filha Sara chegou e disse:

- O que foi, mãe? 

- Estou aqui cheia de tanta coisa, tanto processo... estou buscando uma pessoa pra me ajudar. 

- Mãe, se eu souber, posso te falar. 

- Sara, seria bom mesmo. Estou muito atarefada. 

- Verdade, mãe, teus cabelos estão até começando a crescer, esquecesse de raspar, foi?

- Foi, sim, vou raspar hoje mesmo. 

- Certo, mãe, mas se eu souber de alguém pra te ajudar, eu te falo. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

As amizades de Jacilene

 

Quando a francesa Jacilene chegou em Vila Rica em 1782, foi morar na casa da Sinhá Adriana, que queria que sua hóspede tivesse amigos da alta sociedade. Mas Jacilene recusou-se a isso, tendo na cidade, amizade com pessoas simples e humildes, como a vendedora de comidas, Brenda, a Neide, a camponesa Fabiana e até mesmo a escrava Gilmara, que era escrava da Sinhá Adriana. 

Em dado momento, no ano de 1785, Sinhá Adriana disse num jantar para Jacilene:

- Jacilene, quero te falar uma coisa. 

- Fala, senhora. 

- Tu veio de um país rico e te vejo andando com pessoas que são ralé da sociedade, feito aquela que vende comidas, a tal de Brenda, aquela outra que vive com animais, a tal de Neide, a matuta Fabiana e até mesmo a minha escrava aqui tu tem amizade com essa gente. Não te vejo andando com ninguém do nosso nível. 

- São pessoas das quais me agradei, senhora.

- Pois tô vendo que tu é ruim de escolher amizades. Enquanto tu estiver debaixo do meu teto, não quero tu andando com a ralé. Nem muito menos com essa escrava suja e descalça que tem aqui na minha casa!

- A Gilmara...

- Me recuso até a dizer o nome dela! Por favor, se quer continuar vivendo aqui, é assim. Caso contrário, arrume suas malas e volte pra França!

Sinhá Adriana se levantou, mas Jacilene continuou mantendo essas amizades, discretamente.  

A pregação de uma mendiga

 

A mendiga Gabriella, que vive nas ruas de Lagoa da Italianinha, certa noite, estava em uma parada de ônibus e começou a mostrar uma Bíblia, dizendo:

- Algum de vocês querem essa Bíblia? 

As pessoas passavam por ela e fingiam que nem a viam. Gabriella disse:

- Não vão pagar nada, estou doando de graça! 

Mesmo assim, ninguém pegou. Gabriella, triste, disse, em voz alta:

- Bem que Jesus dizia, nos últimos dias, os homens iam se tornar amantes de si mesmos, não iam suportar a sã doutrina. Ofereci esse livro maravilhoso para várias pessoas mas NINGUÉM pegou! Ninguém. Não pagava nada, mesmo assim, recusaram. Isso é sinal da volta de Cristo, cada dia mais o amor está esfriando! 

Uma mulher disse:

- Tu é santa, não é? 

- Não. Eu pequei e peco, mas estou lavada e remida pelo sangue do Cordeiro!

Um homem disse:

- Quem vai querer escutar uma mendiga suja e descalça?

Gabriella disse:

- Posso ser uma mendiga suja e descalça, mas eu já fui rica, fui avarenta, rebelde e inconsequente. Perdi tudo, fui parar nas ruas, mas encontrei a riqueza maior, que é a salvação. E você pode alcançar! 

- Oxe, conversa...

Alguns deixaram a mendiga falando sozinha. Mas algo lhe chamou atenção: a venezuelana mendiga Fabiana escutava com atenção. Gabriella disse: 

- Tu estava me ouvindo? 

- Sí... Dios está contigo. Y quiero la Biblia.

Gabriella disse:

- Pero está escrito en portugués, y me doy cuenta de que hablas español... Hablo porque ya estudié español cuando era rico. ¿Sabes leer?

- No, no sé leer... pero quiero la Biblia de todos modos.

- Él está bien. - disse Gabriella, dando a Bíblia para Fabiana, que começou a ler, mesmo com dificuldade. As duas mendigas se abraçaram. 

Rita de Cássia encontra Alice e Paulo

 

Numa certa noite, Rita de Cássia estava em uma calçada perto de uma parada de ônibus em Lagoa da Italianinha. Estava com sua boneca Dalila, contemplando as pessoas. Morando nas ruas há mais de dois meses, Rita estava bastante suja, com roupa quase encardida. Usando um chinelo no pé direito e o pé esquerdo descalço, e sua calça suja de fezes. Continuava com mente de criança e usando chupeta. 

Alice, sua sobrinha, apareceu ali com seu amigo Paulo, que vem do sítio Cafundó do Judas. Alice disse:

- Tia Rita. Você está assim, tão maltratada...

- Não. Estou bem. 

- Não está bem, não. A senhora virou mendiga, não pode. A senhora tem casa e tem família. 

- Não tenho mais! 

- A senhora tá fedendo a bosta, tia. 

- Eu gosto, me deixa assim. 

- Tá bom, se a senhora quer...

- Quem é esse rapaz? - perguntou Rita. 

- Meu amigo Paulo, ele veio do Cafundó do Judas, lá perto da divisa com Lajedo. 

- Seu namorado?

- Não, apenas amigo. 

Alice deu um beijo em Rita, e depois, saiu para pegar um ônibus com ele. Alice disse:

- Minha tia pirou, mas vou dar uma jeito dela voltar pra casa...

Paulo disse:

- Esqueça isso, ela nunca mais vai viver debaixo de um teto. 

- Oxe, que conversa é essa? 

- Eu vi nos olhos dela. Ela nunca mais dormirá debaixo de um teto. E tem mais, ela vai rejeitar vocês e vocês vão rejeitar ela. 

- Isso nunca vai acontecer, eu a amo, jamais vou rejeitá-la. 

- Espere e verá. Isso vai acontecer.

- Tu é metido a vidente, é? Me dá o número da Mega Sena!

- Nada, isso é só o que vi... mas pode não acontecer, já teve coisas que vi e não aconteceram...

Luciana é chantageada por Gilvânia

 

Luciana, a dona da pensão que também toma conta do Museu Mary Dee - homenagem à sua bisavó portuguesa -, estava tranquila no museu, quando apareceu Gilvânia. Luciana a viu e disse:

- O que tu quer?

- Esse é o museu que tu toma conta?

- Sim. E tu nem devia entrar descalça, Gilvânia.

- Deixe de tuas frescuras, que aqui já entrou gente pé no chão feito eu!

Luciana disse:

- Fala logo o que tu quer?

- Eu quero te falar sobre aquela boboca que a gente roubou no passado. Cássia, tá toda maluca, foi ela me ver, ela se jogou na lama. Puxa, a gente tapeou ela, nem imaginava que ela ia ficar louca... mas foi bom, que ela nunca virou médica. 

- Gilvânia, eu participei desse jogo sujo com você, foi ideia sua, e eu não me perdoo por isso. 

- Coincidência, Cássia também não nos perdoa. 

- Fora daqui, Gilvânia. E não me apareça mais. 

- Quer bancar a santa, é? Tu é tão suja quanto eu, Luciana, você me ajudou a roubar aquela bocó da mola! 

- Vá embora! 

Gilvânia se retirou rindo ironicamente, e Luciana começou a chorar lembrando da maldade que fizera com Cássia. 

Um amor improvável em Vila Dourada

 

Em 1939, pouco depois de começar a guerra, uma família japonesa chegou em Pernambuco, e se estabeleceu na cidade de Vila Dourada. Não imaginavam eles que ali no mesmo município, só que no sítio Maniçoba, já viviam famílias alemã e italianas. 

Masato, o patriarca, veio com sua esposa Yumi e os dois filhos, a bela Naksu e o pequeno Kenji, que ainda era menino na ocasião. Discretos, eles se estabeleceram em um sobrado, que acabou conhecida como "Casa dos Japoneses". Na pequena cidade do agreste de Pernambuco, alguns os receberam bem, mas haviam outros que os olhavam com desconfiança. 

Mas a bela Naksu chamou atenção em especial de um jovem de família tradicional da cidade. Estêvão Villegagnon se apaixonou pela japonesa, que inicialmente o rejeitou, mas depois, começou a andar ao seu lado. Estêvão, que tinha conflitos com a família, por ser comunista, e vivia metido em encrencas, também sabia galantear mulheres. Mas aquela ali parecia-lhe muito especial. 

O ano era 1940, e Estêvão estava na venda de Ed, onde estava também a camponesa Maria Clara. Estêvão disse:

- Ed, estou namorando. 

- Sério? E quem é a coitada... digo, a felizarda?

- Oxe, meu amigo. É a Naksu, a filha do japonês que chegou em Vila Dourada no ano passado. 

- Oxe, tem uma família japonesa em Vila Dourada???? - disse Maria Clara. 

- Sim, e por sinal, a filha mais velha muito bela... tu nem imagina. 

Ed disse:

- Teu pai e o pai dela, já estão sabendo?

- Bem, isso ainda vai ser conversado...

- Danou-se, estão namorando escondido? 

- Sim, por enquanto...

Estêvão teve razão em esconder o namoro. Isso por que seu pai, Jorge Villegagnon, francês de nascimento, não aceitou que seu filho namorasse uma japonesa. Jorge disse:

- Tanta mulher nesta cidade tu escolhe logo uma japonesa?

- Oxe, meu pai, o que tem? 

- França e Japão são inimigas na guerra!

- Ah, pai, desculpa a expressão, com todo o respeito, mas tô cagando pra isso!

- Mais respeito! 

Joana, a mãe dele, tentou desaconselhar o filho a namorar com Naksu. Dos irmãos - Arnaldo, Beatriz, Carlos, Dalva, Gustavo e a adotada Helena, só esses dois últimos apoiaram Estêvão. Valendo ressaltar que Francielly já havia morrido. 

Nasku também não teve a aprovação do pai. Masato disse:

- Ele é filho de francês, e a França é nossa inimiga na guerra!

- Desculpa, pai, mas não tenho culpa disso!

Estêvão e Naksu enfrentaram tudo e todos, mas se casaram anos depois. Uma filha deles, chamada Akemi, vive hoje no sítio Facheiro, em Vila Dourada. 

Wéllia reencontra Valdenes e trocam provocações

 

Numa certa noite, Wéllia, um tanto atordoada, foi na lanchonete de Quitéria, sua prima distante, e ao chegar lá, encontrou Valdenes. Ela disse para Quitéria, em tom irônico:

- Não sei como a senhora deixa entrar aqui certos maloqueiros do pé sujo, que embora se vista com roupa social, mas ficam andando de pés no chão feito maloqueiros. 

- Isso é comigo? - disse Valdenes. 

- Entenda como quiser. 

Valdenes riu e disse:

- Mulher, tua situação tá feia, viu? 

- Isso é da sua conta?

- Oxe, e como não? Tua irmã gêmea Malu tá lá em Tambaba com Vinícius, o cara que tu ama, mas que te rejeitou, não quer nada com você. Tu tentou matar Capitu, sua outra irmã gêmea, a tua filha Alice se afastando de tu, e tu na tua agência de publicidade perdendo contratos, e devendo a muita gente, inclusive agiotas. 

- Parece que tu tá muito bem informado, garoto... mas claro, você nunca se esqueceu dessa coisa linda que sou eu, tu era doido por mim, mas eu nunca te quis. Claro, meu negócio é com gente da alta, não com um lixo feito tu. Valdenes, tua única qualidade, é tu ter bom gosto, em ter ficado doido por mim, mas eu não quero. 

Valdenes disse:

- Já cometi essa loucura, mas nem que eu tivesse subindo nas paredes de desespero que eu te queria, bruaca. E eu tenho hoje Aline Débora. 

- Que decadência. Deixou de gostar de mim pra gostar daquela camponesa matuta pé sujo. 

- Decadência foi quando eu gostava de tu, mas ainda bem que tive Eraldo e Malu para me abrir os olhos. Josiane, que eu namorei com ela, ainda é muito melhor do que tu. 

- Josiane, Aline Débora, só ladeira abaixo. Josiane ao menos é rica... já Aline Débora...

-Ô, sua cobra descabelada, dobre a língua pra falar de Aline Débora que tu não chega nem ao nível da sujeira da sola dos pés descalços dela! 

- Vocês se merecem...

Quitéria apareceu e disse:

- O que está acontecendo aqui?

Wéllia disse:

- Nada, eu ia jantar aqui, mas encontrei esse mentecapto. Vou procurar um lugar mais chique. 

Wéllia saiu dali, e Valdenes disse:

- Me desculpe, dona Quitéria, por minha culpa, ela não jantou aqui...

- Não se preocupe, eu nem queria ela aqui mesmo. Isso é uma desequilibrada, tá em maus lençóis, mas não deixa de ter nariz empinado. Pode ficar à vontade, você é de casa!

Valdenes continuou jantando, e Wéllia andava pelas ruas falando sozinha. 

Cássia reencontra sua inimiga

 

Numa certa tarde, em Lagoa da Italianinha, Cássia caminhava pelas ruas, quando viu uma pessoa que lhe fez mal: era Gilvânia, a irmã do vereador Marco Aurélio. Gilvânia a viu, e deu risadas, dizendo:

- Olha só, a maluca... como você tá? Pirou desde aquela época?

- Eu não posso acreditar que tu apareceu nessa cidade. 

- Apareci, e vim pra ficar! 

Cássia começou a ficar agitada, e até se jogou na lama em um lugar ali próximo. Gilvânia ficou rindo dela. 


A irmã de Gilvânia, Monalisa, notou o que tinha acontecido e disse:

- O que deu nessa moça?

- Ela é louca. Só isso. 

Cássia, mais tarde, chegou em casa suja de lama. Lúcia disse:

- O que foi, minha linda? Por que você tá assim?

- Eu encontrei a pessoa que foi falsa comigo, que me roubou. 

- Ué? Sério???? 

- A Gilvânia, que se dizia minha amiga. A gente ia junto para a faculdade, andávamos juntas eu, ela e Luciana, e as duas se uniram para me roubar. Gilvânia sempre foi irresponsável, e se metia em muita confusão, eu e Luciana apartávamos as brigas dela, e ela até ia descalça pra faculdade. 

- Sim, ela só vive descalça, mesmo. 

- Eu tenho medo dessas duas. Principalmente da Gilvânia. 

- Calma, querida. Ela falou com você?

- Falou, sim, e só fez debochar de minha cara! 

- Calma, tu tá toda suja de lama, querida. Tome um banho, tome o remédio e tente dormir e descansar. 

Cássia foi atender ao pedido de Lúcia. Gilvânia chegou em casa, e colocando os pés em cima do sofá, disse:

- Aquela maluca que queria ser médica é quem precisa de tratamento... eita. 

O orgulho da "mendiga chique"

  A mendiga chique Warlla, que vive pelas ruas de Lagoa da Italianinha desde 2022, segue chamando atenção por sua pose de elegante. Warlla n...