quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Chico Tripa se apaixona por Gioconda

 

Morador do sítio Cafundó do Judas, nas proximidades do sítio Mandacaru, quase na divisa entre Lagoa da Italianinha e Lajedo, no interior de Pernambuco, o jovem Chico Tripa - é conhecido assim por ser muito magro -, trabalha ao lado de seu pai, seu Barnabé, e tem um gênio forte. Eles são descendentes de Olívia, a filha de Alvanir. Barnabé é neto de Olívia. 

Certo dia, ele e seu pai foram para o centro urbano de Lagoa da Italianinha, No Pátio Verona, se depararam com uma família italiana: Oscar, sua esposa Celestina e os filhos Gioconda, Rosália e Genaro. Eles eram descendentes dos italianos Hélio e Suzana, que viveram nesse local no interior de Pernambuco nos anos 30. 

Chico não parava de olhar Gioconda, em dado momento ele se aproximou dela, dizendo:

- Vosmicê é muito bonita, quero namorar com ocê!

Gioconda disse:

- Mas tu é muito atrevido, mamma mia, tu acha que io vou namorar un ragazzo feito tu?

- Porque não? Oxe, não sô mió nem pió que ninguém! Tu por acaso, tem namorado, moça?

- No! Mas io non te voglio, capisce? 

- Oxe, essa tua linguagem eu nem entendo, sô! Mas um dia tu vai namorar comigo!

Oscar se aproximou e disse:

- Está acontecendo alguma coisa?

- Nada, papa, nada... queste ragazzo só estava me dando uma informação... ecco!  - disse Gioconda, que se retirou. Ela não contou nada ao pai. 

Barnabé viu de longe e se aproximou de seu filho, dizendo:

- Desista, menino... é muita areia pro teu caminhão!

- Ara, eu faço sete viagens se for preciso! 

A inimizade de Danúzia e Gilvânia

 

Duas primas se odeiam mortalmente, além de que não existe heroína entre as duas: ambas são más, cruéis e perversas. 

Danúzia, a filha do deputado estadual Moab, tem ódio mortal contra sua prima Gilvânia, a irmã do vereador Marco Aurélio. Danúzia costuma conversar com Monalisa, a irmã de Gilvânia - que também não gosta dela -, e vez por outra, tramam contra Gilvânia. 

Mas Gilvânia também não deixa barato. Ela se aproximou de sua prima, a cadeirante Cíntia, eleita vereadora, que é irmã de Danúzia, e também não se dá bem com ela. 

Danúzia e Gilvânia acusam uma a outra de ser "doente mental". Gilvânia diz que Danúzia é uma "esquizofrênica, que vive tomando banho com roupa e tudo para se mostrar como madame até na água". Gilvânia ainda acusa Danúzia de ser racista e odiar pobres. 

Já Danúzia chama Gilvânia de "maloqueira pé sujo" - por  ela viver sempre descalça -, "vampira" - por ela dormir em um caixão - e de "nojenta" - ela tem um paladar exótico, se alimentando de insetos. Danúzia ainda alega que Gilvânia é preguiçosa, não gosta de tomar banho e vive cometendo furtos, além dela supostamente ser "drogada". 

A inimizade entre elas chegou a tal ponto que cada uma quase mandou a outra "dessa pra melhor". Em 2002, Danúzia sofreu um atentado arquitetado por Gilvânia, mas escapou. Em 2004, foi a vez de Gilvânia passar alguns dias no hospital quando quase foi morta por Danúzia e Dani Cruel, que na época, ainda morava nas ruas. 

Anos se passaram e o ódio entre as duas segue. Moab tenta controlar a filha e a sobrinha, temendo prejuízos políticos. 

Olívia, uma grande dama

 

Quando se casou em 1877 com Antônio, um jornalista que havia sido escravo em Fortaleza, Alvanir se tornou mãe de três filhas belíssimas: Lucinha, nascida em 1878, Mônica, nascida em 1880 e Olívia, nascida em 1882. Lucinha e Mônica eram brancas como a mãe, já Olívia herdou a etnia do pai. 

Mesmo quando havia se passado a abolição da escravatura, Olívia sofria preconceitos. Mas sua mãe lhe amava e ensinava suas duas outras filhas a amar a irmã. 


Quando Alvanir, já viúva e idosa, foi morar em Pernambuco, Olívia também decidiu acompanhar a mãe e comprou um sítio nas proximidades de onde sua mãe morava. O referido sítio ficava bem afastado da sede municipal de Vila Dourada, quase perto da vila de Lajedo, que na época, pertencia a Canhotinho. Olívia costumava ajudar na quermesse da igreja, ganhando o respeito do padre Francisco, apesar do ódio da beata Lady Andréia, que era racista. 

Olívia também se casara, e tinha filhos. Vez por outra, visitava Mônica, sua irmã mais velha, e Lucinha, que morou em Recife por um tempo. 

Olívia viveu 84 anos, morrendo em 1966, e deixando filhos. Um deles foi o pai do Sr. Barnabé, que hoje mora no sítio Cafundó do Judas, perto do sítio Mandacaru, atualmente pertencente a Lagoa da Italianinha, e tem um filho conhecido como Chico Tripa. 

Ana Karina segue investigando os antepassados

 

A bela professora Ana Karina, após disputar a Prefeitura de Lagoa da Italianinha, vai se tornar mesmo secretária de Educação na segunda gestão da prefeita reeleita Myllena, contra quem disputou. Myllena gostou de muitas ideias e propostas de Ana Karina, mas que ainda ficou sem saber se aceitava. 

Ana Karina se orgulha de sua história e de seu passado. Bisneta da professora Issa, uma das primeiras professoras lá da época que Lagoa da Italianinha era o sítio Maniçoba ainda pertencente a Vila Dourada - década de 30 -, que por sua vez, era neta de Adriállina, que havia sido escrava lá na época do Império em Fortaleza, na casa do Barão Almir. A professora Issa fez história na Educação local, enfrentando preconceitos diversos, mas sendo muito querida na localidade. 

Uma das irmãs de Ana Karina, a Cileide, é empresária do ramo de floricultura e foi eleita vereadora; Já outra irmã, Luz, é jornalista. Outra parente, Adriana, ex-vereadora e ex-psicóloga, largou tudo para viver na floresta. Uma outra parente, Sandrinha, mora no Edifício Lusitânia. 

A própria Ana Karina, que também é historiadora, e investiga a história dos seus antepassados, está desconfiada que Adriállina e sua irmã Socorro descendiam de uma outra escrava, a Gilmara, que viveu no século XVIII e foi escrava de Sinhá Adriana. Ela teria descoberto algo na vizinha cidade de Vila Dourada, onde a francesa Jacilene viveu sua velhice. No começo do Século XIX, Jacilene teria pedido para sua amiga Brenda, que morava em Fortaleza na época, para levar os filhos de Gilmara para lá. Um dos filhos de Gilmara teria sido avô de Socorro e Adriállina. 

Ana Karina ainda quer ir em Vila Dourada, para investigar a história. 

Uma guerreira na África do Sul


 Antes de casar com o alemão Becker, a jovem Adanna, da África do Sul, sempre foi bastante combativa. Adanna morou com seus pais nos arredores de Johanesburgo e trabalhava ajudando os pais. Viveu em um país onde uma minoria branca oprimia a maioria negra. 

Adanna assistiu em 1962 a prisão do jovem militante Nelson Mandela, o que a deixou profundamente abalada. Foi nessa época que começou a olhar com outros olhos o médico Becker, de quem tinha certa raiva, por ele ser branco e de um país colonizador - a Alemanha havia colonizado a vizinha Namíbia. 

Entretanto, dr. Becker, que na Segunda Guerra Mundial, tirou crianças de campos de concentração, se uniu à Adanna e tinha repulsa a qualquer ideia que alimentasse o preconceito racial. Inclusive, ambos desafiaram o Apartheid ao se casarem, visto que essa lei proibia o casamento entre pessoas de raças diferentes. 

Viveram o suficiente para ver Mandela solto e o Apartheid terminar, finalmente, em 1994. Ainda passaram muito tempo felizes juntos. Geraram um filho chamado Abdalla, que hoje mora em Johanesburgo com sua esposa Charlize e a filha Abeni, que é historiadora. 

A escrava e a francesa

Em Vila Rica, a escrava Gilmara recebia maus tratos da Sinhá Adriana, a quem serviu entre 1776, quando foi vendida a ela, e 1794. Mas os anos tenebrosos que passou com a dama foram abrandados com a chegada da francesa Jacilene, em 1782. 

Apesar de morar com a Sinhá Adriana, Jacilene não concordava com os maus tratos contra Gilmara, e não foram poucas as vezes que a francesa enfrentou a dona da casa onde estava hospedada para proteger a escrava. Jacilene tinha visão fortemente anti-escravagista, fruto de ideias iluministas que havia cultivado quando ainda morava na França. Jacilene até era contra o absolutismo, que ainda imperava no seu país. 

Jacilene tornou-se tão amiga de Gilmara que até ensinou-a a tocar piano. Em 1792, Jacilene e Gilmara foram castigadas em um tronco. A francesa foi junto por ter ajudado a escrava a tentar fugir das crueldades de Sinhá Adriana, que não perdoou a sua hóspede. 

Jacilene saiu da casa da Sinhá Adriana em 1792, mas Gilmara ainda permaneceu ainda dois anos na casa, sendo alforriada já idosa e doente, em 1794, já com 64 anos. Mesmo idosa, doente e morando em uma simples casa, Gimara, inspirada pelos ideais de Jacilene, desejava a libertação dos escravos, algo que nem ela e nem a francesa veriam, pois só viria a acontecer em 1888. 


Leila e suas amigas

 

No feriado, Leila, a "Barbie descalça", não foi vender picolés. Mas não deixou de se encontrar no centro de Lagoa da Italianinha com suas colegas Faby Pés Sujos e Janielle, a surda-muda. As três conversavam bastante, e Faby disse:

- Tu não quis mesmo aqueles tênis que Santa te deu?

- Não. Não me adaptei. Mas estou com eles, não vou jogar fora. Vou usar apenas quando necessário. 

- Pois eu jogaria fora. Esse lance de usar calçado não combina contigo. Eu mesma não uso nem chinelos, tu sabe.

Janielle, que também vive descalça, dava sinal de positivo para as falas de Faby. Leila disse:

- Eu fui do sertão, da roça, lá eu vivia na pobreza, meus pais são humildes, até peguei na enxada, e eu só vivia descalça; E eu vim pra cá, mas não mudei, eu mesma me acho estranha usar calçado. Eu gosto e me sinto bem andando de pés no chão. 

Faby disse:

- Tomara que continue assim mesmo, eu fico muito feliz. A gente amanhã volta pro batente pra vender picolés, não é?

- Com certeza! 

Chico Tripa se apaixona por Gioconda

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