sábado, 13 de dezembro de 2025

O benfeitor de Vitório

 

Em Vitalba, na Toscana, vive no Edifício Veneza um homem chamado Sílvio, que paga os estudos de Vitório no colégio onde ele estuda. Sílvio é amigo de Maria, a mãe adotiva de Vitório, e vendo que o menino tem muita inteligência, decidiu apoiar seus estudos. 

Sílvio é um dos poucos que não critica Vitório por ele andar descalço. Ele até incentiva:

- Garoto, se se sente bem assim, não fique com vergonha, não. 

- Obrigado, quase todos me criticam porque eu não quero usar calçados. 

- Não estou entre eles, pode estar certo. 

Sílvio ainda gosta de política, sendo um militante comunista. Ele costuma contar ao Vitório, que é católico e até coroinha na igreja onde frequenta, histórias referentes à Igreja Católica. Vitório ficou um tanto assustado quando escutou falar na Inquisição. 

Apesar de também reconhecer o talento do garoto em fazer desenhos e criar histórias, ele costuma desaconselhá-lo a investir em seu sonho. Ele acha que fazer arte é muito difícil e há outras formas de ganhar dinheiro. Sílvio estimula apenas que Vitório tenha sua arte como hobbie. 

O desabafo de uma mendiga

 

Numa certa tarde de sábado, no Pátio Verona, em Lagoa da Italianinha, a mendiga Fábia estava perto da lanchonete de Quitéria. Ela foi vista falando sozinha, pois estava fazendo um desabafo:

- Teve uma dona aí que disse lá no Rio que não se deve dar comida a quem mora nas ruas, pois incentiva a gente a ficar nas ruas, aumenta a criminalidade... oxe, é muito fácil ela, que come três ou mais vezes ao dia dizer isso, né? Não é fácil pra gente, nunca sabemos quando vamos comer. Criminalidade não é exclusividade nossa... tem pessoas que moram em mansões envolvida com crimes diversos... ah, e nem todos que moramos nas ruas somos envolvidos com coisas erradas, não. Tem muitos de nós que somos gente de bem e não mexemos com ninguém. 

Quitéria, a dona da lanchonete, disse para sua funcionárias Santa e Flaviana:

- Parece que aquela mendiga tá falando sozinha. 

- É verdade... - disse Flaviana. 

Santa disse:

- Deixem ela... a coitada nem tem com quem conversar...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O soldado italiano

 

Durante o período que esteve lutando na Segunda Guerra Mundial, o pracinha brasileiro Antônio Neto chegou a render um italiano que acabou se entregando. Era março de 1945, quando a guerra já se aproximava do fim. 

O soldado italiano se chamava Fausto, e ele andava descontente com o fascismo. Ele se rendeu e acabou mostrando esconderijos de alemães no norte da Itália. 

Mas o que pareceria uma inimizade acabou virando amizade: quando a guerra acabou, Antônio Neto ajudou Fausto a ir para Pernambuco. Fausto chegou no agreste pernambucano, e ao se encontrar com a camponesa descalça Maria Clara, acabou se apaixonando por ela. 

Antônio Neto, que era casado com a italiana Roberta, viu sua amiga Maria Clara também se casar com um italiano, o Fausto. E Maria Clara ainda impôs a Fausto que ele deveria andar descalço feito ela e dormir no chão, na cabana onde ela morava, assim como ela mesma fazia. E o mais curioso é que ele aceitou tais condições...

Valdenes na cachoeira

 

Numa tarde de sexta-feira, quando não estava trabalhando, Valdenes foi passear na cachoeira Sol Nascente, e foi nadar um pouco. Entrou de roupa e tudo na água, e ali se divertia. 

Alguns o olhavam de forma estranha, já que ele estava todo vestido. Mas ele não ligava, e além de nadar, mergulhava. 

Quando ele saiu da cachoeira, depois de várias horas, se sentou em uma pedra, esperando suas roupas secarem e ele poder ir para o centro da cidade. 

Quando Valdenes estava no caminho voltando para o centro de Lagoa da Italianinha, ele viu seu amigo Joni Von, que disse:

- Oxe, tu fosse pra cachoeira?

- Fui, sim, como tu sabe?

- Oxe, tu aí descalço e molhado. E tu com essa mania de entrar com roupa, hein?

- Claro, ela seca mesmo. 

- Coisa de doido, mesmo. 

- Mas me faz bem... melhor que fazer pilantragem...

Joni disse:

- Alto lá, Valdenes. Eu sou um pilantra honesto! 

Valdenes riu e foi embora. 

Suely na igreja


 A juíza Suely, conhecida em Lagoa da Italianinha por seu visual excêntrico - é careca por opção e anda sempre descalça -, também é evangélica. Depois de ser rejeitada em algumas igrejas por causa do seu jeito de ser, acabou sendo aceita em uma delas, ao lado de suas filhas carecas Sara e Diná. 

Suely é responsável pelos louvores. Sua voz louvando atrai demais os irmãos da igreja. Mesmo assim, alguns lhe torcem o nariz por causa do visual dela. Algumas mais radicais dizem que Suely "peca em não deixar o cabelo crescer". Também não são poucos os que a olham com desprezo por ela andar descalça. 

Alguns de fora acham até que Suely devia deixar a igreja por ser alvo de tantos preconceitos, mas ela diz:

- Meu alvo não são os seres humanos. 

Quando se aposentar de sua função de juíza, Suely pretende ser cantora evangélica. 

Uma dama vencida pela inveja

 

Nascida em Fortaleza mas tendo passado boa parte de sua adolescência no Rio de Janeiro, a bela Armanda era de alta sociedade, sendo sobrinha do barão Almir. Na capital federal da época, Armanda rejeitou muitos pretendentes porque achavam que eles "não estavam à sua altura". 

Retornando a Fortaleza em 1865, aos 25 anos, Armanda começou a planejar maldades contra sua prima Alvanir, uma das filhas do barão. Armanda, mesmo sendo rica igual sua prima, nutria inveja contra ela, já que Alvanir tinha um brilho especial. 

Armanda tentou até matar sua prima algumas vezes, mas sem sucesso. Na última delas, em 1889, acabou presa em um hospício, de onde não saiu mais. Diferente de sua irmã Denise e de seus primos, não deixou descendentes diretos, já que havia passado sua trajetória planejando contra sua prima. 

A criança crescida

 

Rita de Cássia, a mendiga que tem mente de criança e dorme pelas ruas de Lagoa da Italianinha, não larga de sua boneca Dalila, e devido a isso é alvo de zombarias, assim como pelo fato de usar chupeta. Tem 43 anos de idade, mas mente de uma criança de 5 anos.

Alguns a chamam de "criança crescida". Muitos não sabem de qual família ela veio, de onde ela é. Ela vive nas ruas desde menina, e é a mais conhecida entre os moradores de rua da cidade. 

Rita de Cássia costuma dormir ao lado de sua boneca e de chupeta na boca. Ela é flagrada diversas vezes assim nas ruas. 

Por outro lado, Rita nunca aceitou sair das ruas. Ela já teve a oportunidade, mas não quis. Seu principal argumento é o de que "não quer perder a liberdade".  

O benfeitor de Vitório

  Em Vitalba, na Toscana, vive no Edifício Veneza um homem chamado Sílvio, que paga os estudos de Vitório no colégio onde ele estuda. Sílvio...