quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Cássia dorme na rua

 

Numa certa noite, a maluca Cássia ficou até tão tarde nas ruas, que decidiu não voltar para casa naquela noite. Ela se deitou em uma calçada. Estava com blusa cinza, calça jeans e tênis branco, e estava molhada, pois havia passado o dia inteiro se divertindo no chafariz e no rio. 

Os mendigos Andreza, Guilherme, Gílson e Renata passaram por ali, até cumprimentaram Cássia, mas ela não respondeu. Pegou no sono logo. 

Enquanto isso, Lúcia estava em casa, preocupada com sua irmã Cássia. Quitéria disse:

- Onde Cássia está essa hora????

- Deve estar pelas ruas, ninguém sabe onde ela está. 

- Precisamos ir atrás dela. 

- E se ela não quiser vir? - disse Lúcia. - tenho medo de contrariá-la. 

Quitéria disse:

- Bom, ela já chegou em casa de madrugada, vamos ver se hoje ela faz isso...

Esperaram ela de madrugada, ela não chegou; só voltou para casa depois que amanheceu o dia. 

Patrícia evita um assalto


 Numa certa noite, a perversa mendiga Priscila estava na praça 27 de Dezembro, quando vinha passando uma estudante, e Priscila se aproximou dela, dizendo:

- Ei, guria, passa aí o que você tem...

- Eu não tenho nada!

Priscila mostrou a faca, e a estudante ficou com medo, e Priscila disse:

- Não grita nem se mexa! Bora, bora!

Mas outra mendiga, a Patrícia, estava ali, e disse:

- Larga ela!!!!!

Priscila disse:

- Oxe, essa velhota quem pensa que é?

- Larga ela, Priscila!

- A senhora não manda em mim! 

Patrícia pegou a vara que utiliza como bengala improvisada, e rodou-a, fazendo cair a faca das mãos de Priscila. Nessa hora, Patrícia disse pra estudante:

- Corra!!!!!! 

Na hora, Priscila ainda tentou pegar a faca, mas Patrícia conseguiu colocar seu pé por cima. Priscila disse:

- Tu vai me pagar, velha abusada, sua corcunda! 

Priscila saiu dali, nervosa, e Patrícia jogou a faca fora. 

Moab prepara grande evento para Mimi

 

O deputado estadual Moab anunciou aos quatro ventos e com pompa um evento onde Mimi, a ex-sem-terra, lançaria definitivamente sua pré-candidatura a prefeita em Lagoa da Italianinha. Foram confirmadas as presenças dos vereadores Marco Aurélio, Wilon, Kauan e Fagner. Moab alugou um grande salão no centro da cidade, e disse à Mimi:

- Aqui vai estar cheio de gente, vamos trazer muitas pessoas da zona rural, ou seja, vamos lotar esse evento, de um jeito que a prefeita pé sujo não vai dormir de noite. 

- Com certeza, deputado, inclusive, lá do sítio Mandacaru, onde moro, virá muita gente. 

- Ótimo. E aqui vai estar também o ex-prefeito Aenson, e ele quer apresentar a sobrinha dele, Jane, uma empresária do setor de eletrodomésticos, como pré-candidata a vice-prefeita. 

- Jane? Acho que a conheço. Mas posso, sim, conversar com ela. 

- Ótimo. Antes desse evento acontecer, eu, você, Aenson e Jane conversaremos! 

Tensão na escola de música


Numa certa tarde, Eraldo recebeu na sua escola de música sua nova aluna, a Wiviane, que veio pronta para aprender a tocar mais instrumentos. Quem estava ali era o Valdenes, que também a recebeu. Mas quando Wiviane entrou na sala, Eraldo viu que sua irmã Fabíola estava do lado de fora. Eraldo disse ao Valdenes:

- Sujou!!!!

- Sujou o que????

- Minha irmã Fabíola, olha ela ali. 

- E o que tem, oras?

- Valdenes, ela odeia a Wiviane, se as duas se encontrarem vai ser uma baixaria das grandes, e aqui vai ser pior que sessão do Congresso Nacional! 

- O que eu faço, então?

- Vá, e tente evitar Fabíola entrar aqui. Eu não estou. Escutou????

Eraldo entrou, e Valdenes foi para o lado de fora, e disse pra Fabíola:

- Oi, você quer ver seu irmão Eraldo?

- Sim. 

- Mas ele não está, amiga. Foi pro banco e ninguém sabe que hora ele volta!

Fabíola disse:

- Eu espero. Vocês do futuro são muito impacientes, mas nós estamos em 1954 e eu posso esperar até 1960, se for o caso. 

- Fabíola, estamos em 2024...

- Como ousa me desmentir, seu insolente? Me respeita. 

Fabíola e Valdenes ficaram em silêncio alguns minutos, e depois Fabíola disse:

- Como é que tu aguenta ficar o tempo todo de pés descalços no chão, hein, maluco?

- É hábito...

- Depois a doida sou eu...

Eraldo já estava do lado de dentro, dando aula para Wiviane. Fabíola disse:

- Pensando bem... vou pra casa, pegar minha máquina de escrever e datilografar uma carta pro meu irmãozinho... depois conversamos. 

Fabíola saiu dali, e Valdenes entrou e disse para Eraldo:

- A barra tá limpa, ela já se pirulitou. Disse que ia em casa escrever uma carta na máquina de escrever...

- Na era da tecnologia, ela faz isso...

Eraldo foi para a aula, e Wiviane disse:

- Algum problema, professor? Tô te notando nervoso. 

- Nada, nada...

Uma cena trágica


A triste cena de ver sua amada Francielly morrendo em seus braços jamais saiu da cabeça de Leandro enquanto ele viveu. O ano era 1935 e ela sofreu uma queda de cavalo que lhe foi fatal. Nessa ocasião, eles moravam em um sítio juntos, nas proximidades de Maniçoba. Uma das vizinhas do casal, a camponesa Maria Clara, que se afeiçoara com Francielly, chorou copiosamente. A pedido de Maria Clara, a alemã Inalda providenciou os ritos fúnebres. 

Leandro era motorista da família Villegagnon, e se envolveu com Francielly, uma das filhas do patrão, o francês Jorge. Acontece que em 1929, foi descoberto o caso amoroso e ela acabou expulsa de casa. Ninguém da família compareceu ao enterro. Os irmãos que queriam dar o último adeus foram proibidos por Jorge, manipulado por Dalva, uma de suas filhas e irmã de Francielly.

Nessa época, Augusto, o filho do casal, tinha apenas três anos. Leandro passou a criar o filho sozinho, e em Augusto, cresceu um sentimento de revanche contra a família Villegagnon, tradicional família de Vila Dourada.

Vinte anos depois, em 1955, o sítio Maniçoba já era uma grande vila. Leandro morreu nesse ano, não sem antes receber a promessa do filho de que Maniçoba seria emancipada de Vila Dourada. Augusto liderou a luta pela emancipação ao lado dos imigrantes italianos que ali viviam. Em 1963, a luta foi vitoriosa e assim nasceu oficialmente a cidade de Lagoa da Italianinha, no agreste de Pernambuco. 

Ironicamente o prefeito de Vila Dourada era o irmão de Francielly, Carlos. Ele jamais perdoou seu sobrinho Augusto por isso. Dalva ainda tentou amaldiçoar a nova cidade, dizendo que a nova cidade "nunca seria nada" e "comeria nas mãos de Vila Dourada". Hoje, Vila Dourada tem 15 mil habitantes e Lagoa da Italianinha está perto dos 100 mil habitantes.

Leila enfrenta Dani Cruel


Morando na comunidade do Alto do Cruzeiro, a jovem sertaneja Leila anda enfrentando uma inimiga poderosa: a perversa Dani Cruel, líder do tráfico na comunidade. Yellow, uma das comparsas de Dani, chegou a ameaçar Leila de morte. 

A briga começou quando Dani Cruel impôs toque de recolher, proibindo os moradores da comunidade de sair de casa após 18 horas. Leila desafiou a proibição, chegando as 20 horas, quase que foi barrada pelos capangas de Dani. 

A partir daí, Dani Cruel passou a perseguir a vendedora de sorvetes. Ela disse para Yellow:

- Essa galega ta me desafiando e quem me desafia não sobrevive pra contar a história!

- Não se preocupe, vamos dar um jeito nela. 

- Acho muito bom. Você esteve a frente dos esquemas quando eu fui baleada e passei tempos no hospital, e depois, quando estive presa. É mais um teste que eu lhe repasso.

Branco, um estudante que vive na comunidade, disse para Leila:

- Tenha muito cuidado, Dani Cruel é muito perigosa. 

- Se eu tivesse medo eu não tinha deixado o conforto de minha pequena casinha e me aventurar em uma cidade desconhecida. Aqui eu cheguei a dormir nas ruas. Não é uma bandida quem vai me intimidar. - disse Leila. 


Rafinha recusa tratamento


 Circulando pelas ruas de Lagoa da Italianinha, a jovem Rafinha parece uma mendiga, bastante suja e descalça, sendo que na verdade ela tem casa e família. Entre suas irmãs estão a aeromoça Valéria, a vereadora Vanessa e a Milady, que mora na Alemanha.

Em Lagoa da Italianinha, conta-se que Rafinha sofreu uma grande decepção amorosa e nunca mais se recuperou. Milady tenta sempre convencer sua irmã a se tratar na Alemanha, mas Rafinha recusa. Valéria e Vanessa também insistem que a irmã procure um tratamento, mas Rafinha se nega o tempo todo.

Certo dia, Rafinha estava sentada perto da porta da loja de Sara, a modelo careca, a filha da juíza Suely. Sara conheceu Rafinha antes dela enlouquecer. Em dado momento, Sara disse:

- Rafinha, tu é jovem, bonita, uma pessoa tão boa, porque tu não se ama? 

Rafinha disse:

- Cuide de sua vida que eu cuido da minha...

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O Aniversário de Antônio Neto


No dia que o ex-pracinha Antônio Neto completou 99 anos, houve uma simples festinha na casa dele. Alem de sua neta Suziana, estavam outra neta, a vereadora Kátia, além de Valdenes, outro neto. A prefeita Myllena esteve na casa dele mais cedo.

Antônio Neto estava vestido com a farda que usou durante a guerra na Itália. Ele contava os fatos de sua juventude com uma cera nostalgia:

- Essa casa onde moro hoje, foi comprada pela minha avó cearense Alvanir, e cresci aqui com minha mãe Mônica. Ela vendeu e foi pro Ceará, mas anos depois pudemos comprar novamente esta casa de volta. 

Enquanto isso, Kátia conversava com seu primo Valdenes:

- Você pensou bem na proposta da prefeita Myllena em ser candidato a vereador?

- Oxe, isso me assusta...

- Valdenes, eu vou ser vice da Myllena, espero que você aceite. Você terá os votos da família.

- Quem sabe...esse negócio de política, sei não...

A Maldade de Dalva

 

Quarta filha do casal Jorge Villegagnon e Joana Villegagnon, a maléfica Dalva sempre foi a mais perigosa da tradicional família de Vila Dourada. Na década de 30, era tida como uma das mulheres mais lindas da cidade, sendo alvo se cobiça de muitos homens. Mas a sua beleza física escondia um estado de crueldade e psicopatia.

Dalva não se dava bem com os irmãos, além do mais detestava a ideia de ter irmãos, pois queria ser sozinha a herdeira da fortuna da família.

Quando estourou um escândalo onde sua irmã mais nova Francielly havia se envolvido com o motorista Leandro, foi Dalva quem mais envenenou sua família contra Francielly. Dalva também nutria ódio contra Helena, a irmã adotiva, por ela ser afrodescendente.

Quando Francielly morreu em 1935, alguns insinuaram que Dalva estava por trás do suposto assassinato da irmã. Francielly caiu do cavalo, e a sela foi encontrada fora do lugar. Dalva sempre negou o crime.

Dalva também tratava com desdém pessoas pobres e simples, como a camponesa Maria Clara, a vendedora de comidas Janaína e a mendiga Valdinha, a quem chamava de "escória social". 

Dalva sempre gostou de luxo e riqueza, mas morreu pobre aos 80 anos em 1976, rejeitada por seus irmãos ainda vivos, menos pelo Padre Gustavo, seu irmão caçula, que cuidou dela na doença dela. Anos depois, alguns peritos mais velhos soltaram uma "bomba" que abalou Vila Dourada e Lagoa da Italianinha, cidade recém emancipada: Dalva realmente havia provocado o acidente que vitimou sua irmã Francielly.

Barraco na escola de música


Numa certa manhã, na escola de música de Eraldo, estavam ele, Valdenes, Izabel, a secretária Josy, a professora Ana Karina e a índia Elly, que servia o café; nessa hora, chegou uma mulher, chamada Wiviane, interessada em se inscrever em um curso de música. Eraldo recebeu muito bem Wiviane, que apesar de estar muito simples - de blusa marrom, calça jeans meio rasgada e tênis - é de família rica, sendo sobrinha do ex-prefeito Aenson e irmã da empresária Jane. Wiviane é descendente da cantora alemã Danielly.

Mas enquanto Wiviane se matriculava, aconteceu um incidente: apareceram Tiago e sua esposa Fabíola, a irmã de Eraldo. Fabíola, como se sabe, se veste como se estivesse na década de 50. Ao ver Wiviane, ela disse:

- Mas o que essa desclassificada tá fazendo aqui?

- Oxe, sai pra lá, tu parece uma velha com esses trajes, do tempo da minha bisavó Danielly! 

- Deixe de ser ridícula, sua irresponsável, tua família não te aguenta, não quer trabalhar!

Valdenes disse:

- Fiquem calmas, por favor...

Fabíola disse:

- Jamais vou ficar calma com essa daí!

Wiviane disse ao Eraldo:

- Seu Eraldo, eu sei que ela é tua irmã, mas se ela ficar me provocando, eu desço a mão na cara dela!

- Ouse, ouse!

Os ânimos das duas se acirraram,  e elas acabaram puxando os cabelos uma da outra. Valdenes tentou intervir, e acabou "apanhando" das duas. Tiago pegou Fabíola, e disse:

- Vamos embora daqui agora!

Eraldo disse:

- Wiviane, se tu desistir da matrícula, vou entender...

- Oxe, desistir nada! Eu não tenho medo dessa maluca! 

Wiviane saiu dali, e Valdenes disse:

- Que raio essas duas têm, hein? 

- Isso é uma história longa, Valdenes...

Mimi recebe proposta para que Jane seja sua vice

 

Numa certa manhã, o deputado estadual Moab recebeu no seu escritório político a Mimi, pré-candidata a prefeita, além do ex-prefeito Aenson e sua sobrinha, a empresária Jane. Aenson disse ao Moab:

- Minha história política contigo é muito antiga, Moab, você foi meu vice-prefeito quando eu fui prefeito em Lagoa da Italianinha, entre 1989 e 1992, e você pode repetir esse feito. Estou disposto a apoiar a candidatura de sua ungida, a Mimi, e proponho que minha sobrinha Jane seja candidata a vice na chapa. 

Mimi disse:

- Hum, ouvi muito falar de dona Jane. Famosa empresária do setor de eletrodomésticos. 

Jane disse:

- Sim, eu acho que eu posso contribuir com Lagoa da Italianinha. Já fui presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, fui a primeira mulher a presidir o órgão. 

Aenson disse:

- Eu fui vice, Moab também foi, e Jane pode construir essa carreira vitoriosa. 

Moab disse:

- Jane é um ótimo nome, pode trazer votos conservadores que não apoiam a prefeita pé sujo, eu acho que é uma boa ideia, mas deixo isso pra escolha de Mimi. 

Mimi disse:

- Eu posso, sim, conhecer melhor Jane e conversar com ela. A prefeita Myllena já saiu na frente anunciando a vereadora Kátia como vice. Com isso, passei a ter uma certa pressa em fazer o mesmo. 

- Então, falaremos muito mais sobre isso - disse Moab. 

Moab, Mimi, Jane e Aenson posaram para uma foto depois e anunciaram a reunião, publicamente, sem anunciar que Jane seria a vice. 

Fernanda chega em Lagoa da Italianinha

 

Esses dias, Vinícius, o noivo de Malu, teve uma surpresa. Fernanda, sua amiga do Rio de Janeiro, chegou em Lagoa da Italianinha. Ela se hospedou na hospedaria de Luciana, e ao chegar na cidade, foi logo procurar saber onde era o consultório dele. 

Vinícius liberou sua secretária, e a mandou para casa. De repente, alguém bateu na porta, e Vinícius disse:

- Eita, essa minha secretária é muito esquecida...

Vinícius abriu a porta e tomou um choque ao ver Fernanda. Ela disse:

- Como vai, Vinícius?

- Você por aqui????

- Sim. Vim te ver. 

Fernanda foi logo entrando, e Vinícius disse:

- Fernanda, como tu sabe, só podemos ser amigos...

- Eu sei disso. Não vim te cobrar nada. 

De repente, Malu apareceu, e ela disse:

- Quem é essa?

- Essa é Fernanda, minha amiga do Rio de Janeiro!

Malu ficou incomodada, pois o Vinícius já falara a respeito dela. Fernanda disse:

- Bom, vou indo. Depois, nos falamos mais. 

Malu estava visivelmente incomodada, e quando Fernanda saiu, Vinícius disse:

- Calma, Malu, você sabe que meu coração é somente seu. 

- Sei... mas agora não basta Wéllia, agora aparece essa outra que também gosta de tu. Agora tenho que conviver com duas rivais perto de mim, é?

- Calma, você não tem rival, Malu, eu já te amo! 

Vinícius abraçou e beijou Malu, mas o incômodo dela era visível. 

Um casamento que chamou atenção


O ano era 1875, época que o Brasil ainda era Império, e a escravidão ainda existia. Mesmo com advento dos movimentos abolicionista e republicano, a sociedade ainda era resistente a tais mudanças. Foi enfrentando tudo isso que Alvanir, a filha do Barão, se casou com um ex-escravo, o Antônio, casamento que foi muito comentado em Fortaleza. 

Inicialmente, Alvanir temia a reação do seu pai, o Barão, se aparecesse com um namorado que havia sido escravo. Depois de ter uma carta de alforria, Antônio se tornou jornalista, e conquistou o coração de Alvanir. 

Na família de Alvanir, houve quem tentasse impedir o romance, pela diferença racial de ambos. A prima dela, Armanda, dizia:

- Alvanir tá envergonhando a família se casando com um... ex-escravo! 

Armanda tentou de tudo para separar o casal, sem sucesso. O Barão, que apesar de possuir escravos, se tornara abolicionista, resistiu no início, mas depois, se rendeu ao genro, a quem ele elogiou:

- Rapaz inteligente e preparado. 

Nessa ocasião, o casamento deles foi muito comentado. Estavam presentes na cerimônia o Barão, a outra filha dele, Aurineide, e outros familiares, a exemplo de Denise e Armanda, as primas delas. Armanda olhava o casal com inveja e raiva. Thomas, que tinha 99 anos, estava na cerimônia, ao lado da freira Irmã Isabela. Valendo ressaltar que nessa época, Aline, a irmã mais velha de Alvanir e Aurineide, já estava morando na Itália. O Barão disse para Aurineide:

- Uma filha minha se casou com um imigrante italiano, e a outra, com um ex-escravo... com quem você irá se casar? 

- Bom, pai, isso é Deus quem sabe...

Antônio e Alvanir superaram preconceitos e formaram uma família feliz. Geraram duas filhas - Lucinha e Mônica -. No ano de 1925, Mônica homenageou o pai dando o nome dele ao seu filho, Antônio Neto, que iria lutar na Segunda Guerra Mundial. 

A Solidão de Izabel


Numa certa manhã, na escola de música de Eraldo, Izabel se sentia sozinha. Naquela hora, Eraldo havia saído para resolver um assunto no banco, e Valdenes estava ali, na sala, fazendo desenhos. Em dado momento, Izabel disse:

- Valdenes, tô triste...

- Mas por que?

- Porque estou sozinha, não tenho com quem dividir meus momentos, minhas alegrias, minhas tristezas... Chego em casa não tem ninguém me esperando...

Valdenes disse:

- Mas e aquele cara do bairro Bom Sucesso que era doido por tu? Tais sozinha porque quer...

- Nada disso... imagina que ele queria que eu usasse calçados, se eu quisesse namorar com ele. Não aceitei. Sou uma descalça, pé no chão, pé sujo convicta! 

- Tá bom... nesse ponto, eu e você somos parecidos...

Izabel disse:

- Imagina se a gente se unisse, um casal descalço...

- Vamos com calma...

Eraldo chegou do banco, e ao ver Izabel na sala de Valdenes, disse:

- Izabel, não mandei você ficar lá fora na recepção?

- Eita, desculpe... eu precisei só vir aqui...

- Izabel, a Josy não pôde vir hoje, porque o filho dela, Joaquim, tá doente. Cabe a você hoje ficar na recepção, imagina se entrasse alguém e cometesse assalto. 

- Desculpa, seu Eraldo. Licença!

Izabel foi para a recepção, e Valdenes continuou fazendo desenhos. Eraldo foi para sua sala. 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Os quadros de Inalda sobre a guerra


Durante o período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, a pintora alemã Inalda produziu e pintou o maior número de quadros. Em muitas de suas telas, retratava a tristeza pelo conflito, por vítimas inocentes e pela ascensão de regimes totalitários. E as críticas dela não se limitavam apenas ao regime totalitário de seu país, mas ao facismo italiano e ao comunismo soviético.

Morando no interior de Pernambuco desde 1915, Inalda, mesmo angustiada, conseguiu ficar longe dos terrores do que poderia lhe acontecer, pois além de tudo era judia e sabia das perseguições que o regime de seu país fazia contra os judeus. Sua prima Danielly quase foi vítima dessa perseguição, tendo inclusive uma loja sua atacada na Noite dos Cristais. Danielly queria ficar na Alemanha, mas ela só resistiu até o começo da guerra, e acabou indo para o Brasil, a convite de Inalda. 

Depois da guerra, Inalda realizou uma exposição de seus quadros sobre o tema em uma galeria na cidade de Vila Dourada, o que chamou muita atenção pelos horrores retratados. Danielly havia lhe relatado tudo que havia visto na Alemanha antes de se aventurar para o Brasil. Mas o que nem Inalda e nem Danielly imaginava seria revelado no Julgamento de Nuremberg, em 1946. Elas choraram horrorizadas com os crimes que o ditador da nação delas havia cometido. Quem acabou contando a elas foi Ed, o dono da venda, que ouviu tudo pelo rádio. Valendo ressaltar que Inalda e Danielly tinham tido seu rádio confiscado por serem alemãs. 

Uma história de superação


Quem vê Flávia hoje com seu grande escritório de advocacia e sendo secretária de Ação Social em Lagoa da Italianinha sequer imagina que ela já passou dez anos morando nas ruas da cidade. Os mais antigos se lembram da época, entre 1995 e 2005, que Flávia, mineira de nascimento, havia se aventurado em Lagoa da Italianinha e perambulava pelas ruas da cidade, suja e descalça, sem eira nem beira. 

Sua trajetória começou a mudar a partir de 2005, quando Flávia recebeu ajuda de Jane, e ela passou a trabalhar, chegando até mesmo a alugar um quartinho. Flávia, então, que pouco sabia ler e escrever, foi alfabetizada e fez supletivo. Anos mais tarde, conseguiu fazer faculdade de Direito, e se formou recentemente. 



Muitos que a conhecem de perto, dizem que Flávia superou essa fase de sua vida por ter herdado um gênio guerreiro: seu avô, Gabriel, foi pracinha na Segunda Guerra Mundial, na Itália, sendo um dos que lutou ao lado de Antônio Neto, o avô de Valdenes. 

Atualmente, Flávia se dedica a causas diversas, e costuma descontar o preço para pessoas mais humildes. Apesar de ter crescido na vida, Flávia não perdeu a humildade; atualmente, como secretária de Ação Social, ajudou a tirar alguns mendigos das ruas da cidade, além de servir sopão voluntariamente para os que permaneceram ao relento. Ela costuma usar sapatos salto alto, mas às vezes também anda descalça, como que querendo ser despojada. 

Na política, a prefeita Myllena tem interesse que Flávia seja candidata a vereadora em seu palanque. Ela chegou a fazer o mesmo convite ao Valdenes. Se ambos aceitarem e forem eleitos, a Câmara de Vereadores passaria a ter dois ex-mendigos como representantes do povo. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A nova piscina de Suely

 

Numa certa manhã, a juíza Suely não tinha nenhuma audiência marcada, e resolveu estrear a nova piscina que construiu em sua casa. A juíza careca estava nadando, com um vestido longo azul, e sua filha Sara ia saindo, e disse:

- Mãe. Não vai trabalhar hoje?

- Hoje vou relaxar, filha. Venha pra cá. 

- Não posso, mãe, vou trabalhar, tô em ponto novo, tenho que conquistar clientes. Demorei um pouco porque eu tava raspando minha cabeça. 

- Tá bom filha. 

Suely dava vários mergulhos. Sara saiu dali, e pegando seu carro, foi para sua loja. Em sua loja, Sara recebeu a Cileide, dona da floricultura vizinha. Cileide disse:

- E sua mãe está no fórum?

- Não, ela está se divertindo na piscina nova que construiu em casa. Minha mãe é um amor de pessoa, mas esquisitinha... ela é bem diferente. 

- Oxe, falando mal de sua mãe?

- Claro que não. É esse jeito estranho que eu mais gosto nela... ela é diferente. 

Enquanto isso, Suely seguia na piscina...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

O novo empresário de Milady e Ludmylla


Em Berlim, a alemã Ludmylla decidiu romper contrato com um empresário quando descobriu que ele apoiava a expulsão de imigrantes da Alemanha. Ela conversou com a sua amiga brasileira Milady e ela concordou em encerrar o contrato. 

A professora Carol, outra brasileira, amiga de ambas, indicou um outro empresário, chamado Wilhelm, para cuidar da carreira delas. Wilhelm viera de Hamburgo, e em Berlim, se encontrou com Milady e Ludmylla, e disse:

- É um prazer conhecer vocês duas. Quando Carol me falou, eu me entusiasmei, porque eu particularmente, gosto das duas. 

Ludmylla disse:

- Pois é, nosso antigo empresário se revelou um extremista, e queria defender a expulsão de imigrantes daqui da Alemanha!

- Isso é um tolo, merece todo repúdio. 

- Eu fico até assustada com essas coisas que falam, de extremistas - disse Milady. 

- Não se preocupe, Milady, o governo está cuidando disso. Mas vamos ao que interessa, falar sobre a carreira das duas. - disse Wilhelm. 

Eles conversaram alegremente e fecharam o contrato. Wilhelm, para comemorar, convidou Milady, Ludmylla e Carol para um jantar em um belo restaurante de Berlim. 

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

As traquinagens de Ellen


Ex-moradora de rua, Ellen foi uma das que ganhou um apartamento no condomínio Luar do Sertão, onde vive. Mesmo saindo das ruas, Ellen permaneceu suja e descalça, com a mesma roupa. Não que ela seja uma golpista, mas simplesmente odeia limpeza.

Ellen chega em seu apartamento e depois de tomar café, vai logo dormir, com a mesma roupa que vive usando e os pés sujos. Ela costuma ir na rodoviária, onde faz lanches algumas vezes e incomoda as pessoas com seu mau cheiro.




Muitas vezes, alguns dizem pra ela:

- Vai tomar banho!

Ellen as vezes responde com ignorância:

- Cuida de tua vida, velho desocupado!

Pri é a unica amiga de Ellen. Pri também morou nas ruas e atualmente mora no conjunto Bella Ciao, vizinho ao Luar do Sertão. Pri tenta aconselhar Ellen a tomar banho, mas Ellen já ameaçou romper a amizade se ela insistisse nisso. 

O sofrimento de Antônio Neto

Depois que voltou da guerra, em 1945, Antônio Neto não era mais a mesma pessoa. O simples agricultor que sempre esbanjava alegria não conseguia mais passar olhares felizes. Tudo fruto dos horrores que presenciou durante alguns meses do norte da Itália.

Sua mãe Mônica estava preocupada com o estado do seu filho. Ele tinha pesadelos com bombas e canhões, além de ser visto falando sozinho como se estivesse brigando. Ele ainda cultivava a terra, sem camisa e descalço, e mesmo ali tinha alucinações.

Mesmo depois que se casou com a italiana Roberta, não melhorou. E até tratava com uma certa frieza a italianinha Alycia, sua amiga de infância. Pesou ainda contra ele o ódio de dona Joana Villegagnon, que o responsabilizava pela morte de seu filho Arnaldo Villegagnon, que também foi pra guerra e morreu nos braços de Antônio Neto durante a tomada de Monte Castelo. Joana era a matriarca de uma tradicional família de Vila Dourada, a quem Lagoa da Italianinha pertencia, no agreste de Pernambuco. 

Hoje, Antônio Neto tem 98 anos, mora com a neta Suziana na mesma casa onde cresceu. Melhorou um pouco do seu estado de depressão, mas não superou completamente os meses terríveis da guerra. Ele tinha tido todo esse estado psíquico reverso por não acreditar até onde o ser humano poderia ir com suas maldades para com o próximo...

 

Uma Amizade Colorida


Em Lagoa da Italianinha era muito comentada a aproximação grande entre Valdenes e Aline Débora. O ex-mendigo e a florista praticamente não se desgrudam, e isso chama a atenção de pessoas próximas a eles. Valdenes, que até 2022, vivia nas ruas, hoje mora em um apartamento no conjunto Bella Ciao, enquanto Aline Débora vive no sítio Mandacaru, praticamente na divisa com Lajedo. 

Ambos são pernambucanos, e têm em comum serem descendentes de italianos. Valdenes é neto da italiana Roberta, de Florença, que se casou com seu avô Antônio Neto, que a conheceu na guerra. Já Aline Débora é bisneta de Giuliana, que era de Nápoles, e veio se aventurar no Brasil quando a Segunda Guerra Mundial começou. 

Cyntia Fernanda, a irmã de Aline Débora, dá um grande apoio ao possível romance. Mas parte da família de Aline Débora reprovava, pelo fato do rapaz ter morado nas ruas, além de alguns hábitos que ele tem, como andar descalço pra todo canto e tomar banho de roupa, algo que curiosamente, Aline Débora também faz. 

Valdenes busca superar decepções amorosas passadas, como o fato de ter gostado de Wéllia - que o humilhou sem dó nem piedade pela condição dele de mendigo na época -, e Josiane, que embora tenha sido correspondido, o romance foi impedido pelo fato dela ser filha do deputado estadual Moab, político "poderoso" de Lagoa da Italianinha. 

Aline Débora também sofreu decepções passadas, que busca superar, e quer um namoro sério, formar uma família. E Valdenes, que mora com suas irmãs Vitória e Juju Doida, também já expressou o desejo de ter sua própria família. Eles se encontram com frequência na praça 27 de Dezembro, no Pátio Verona ou na beira do rio, do lago, ou cachoeira, onde chegam a mergulhar e se divertirem na água.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Cássia leva bronca de Lúcia


 Numa certa noite, Cássia mergulhou no chafariz da praça 27 de Dezembro, e ficou por ali por cerca de 1 hora e 35 minutos. Sua irmã Lúcia passou por ali e chegou a entrar no chafariz para tirar Cássia de lá. 

Lúcia levou sua irmã mais nova para casa, e Cássia se sentou na sala, e Lúcia disse:

- Cássia, o que tu tem na cabeça, por que tu fica se molhando naquela água suja?

- Eu me divirto...

- Suas diversões já estão passando dos limites, Cássia. Hoje, vieram me contar que na rodoviária, tu até fez cocô na sua calça, as pessoas ficaram lhe olhando e zombando de tu!

- Mas você sabe que eu gosto de me encharcar na chuva, me divertir no rio, no chafariz, sou uma peixinha na água, e adoro me sujar, me lambuzar...

- Cássia, tu precisa se tratar, isso é exagero. Ainda por cima, tu mija na calça, caga na calça, sua maluca. 

- Eu gosto e me sinto bem, eu me sinto feliz. 

- E quando tu vai pra chuva, tu acaba ficando gripada!

- Não importa! 

- Cássia, chega, não vou aceitar mais isso!

Cássia se levantou e saiu, e Lúcia perguntou:

- Pra onde tu vai?

Cássia não respondeu, e desceu para a rua. Cássia acabou dormindo na rua naquela noite, na calçada de uma loja. 

Jacilene e Brenda se reencontram


No ano de 1820, a francesa Jacilene se deslocou de Pernambuco para o Ceará, onde foi encontrar sua amiga de longas datas Brenda. No fim do século XVIII, as duas moravam em Vila Rica, sendo que elas tomaram destinos diferentes: Jacilene se casou com um pernambucano e se estabeleceu no interior, devido à sua saúde, nas terras da atual Vila Dourada. Já Brenda se casou com um cearense e foi morar em Fortaleza. Brenda vendia frutas pelas ruas de Vila Rica e era muito pobre, mas melhorou de vida com seu casamento. Thomas, o menino que ela criara quando ele ficou órfão, estava nessa altura com 44 anos e já era casado, morando também em Fortaleza. 

Jacilene ficou emocionada quando reencontrou sua velha amiga Brenda, e as duas conversaram bastante tempo em um banco de praça em Fortaleza. Nessa ocasião, Jacilene tinha 68 anos e Brenda tinha 70 anos. Brenda apresentou à Jacilene inclusive o seu netinho, que ainda era menino: ele seria o futuro barão, o pai de Aline, Alvanir e Aurineide. 

Jacilene disse:

- Seu netinho é muito lindo, você tem uma linda família. 

- Obrigada. 

- Será que ainda veremos o Brasil ser independente?

Brenda disse:

- Eu acho que breve, breve, veremos isso. 

Brenda acertou, pois apenas dois anos depois, D. Pedro I deu o famoso "Grito do Ipiranga". 

Paula aluga dois espaços no mesmo dia


Em Lagoa da Italianinha, Paula, a dona do restaurante, tinha dois pontos para alugar nas proximidades da escola de música de Eraldo. Por coincidência, tinham exatamente duas pessoas que queriam alugar ponto por ali. 

A advogada Flávia estava insatisfeita com seu atual escritório, e procurava um mais "central". Ela foi na escola de música, onde estavam Eraldo e Valdenes, e eles indicaram uma sala que havia ali perto. Flávia foi falar com Paula, a dona do espaço, e fechou o negócio imediatamente. 

Flávia caminhava pelas ruas, e em dado momento, ao passar em frente ao restaurante de Nayara, se lembrou de quando era moradora de rua, e foi expulsa dali pelo dono de um antigo restaurante que havia no mesmo local. Flávia dizia:

- Muito triste lembrar disso, mas eu fico feliz e agradeço por estar onde estou hoje...

Paula 

Sara 

Flávia 


Pouco depois, a juíza Suely também foi na escola de música, e Eraldo e Valdenes indicaram um outro ponto que havia ali perto. Sara, a filha da juíza, estava insatisfeita também com o espaço onde ela estava, em uma rua sem movimento. 

Suely e Sara foram falar com Paula, que estranhou as duas serem carecas. Suely disse:

- Algum problema em eu ser careca?

- Nenhum, só não é muito normal por aqui...

Sara disse:

- Minha mãe raspou a cabeça, eu achei ela doida, mas eu quis fazer o mesmo e gostei tanto que raspo de quatro em quatro dias, não deixo mais meus cabelos crescerem. 

Suely disse:

- Espero que isso não impeça de fechar negócio com Sara.

- Claro que não! - disse Paula - vamos ver o ponto!

Sara também gostou, e fechou o negócio. Paula recebeu as fianças de Sara e de Flávia, e as duas foram para lá na noite do mesmo dia. Flávia abriu seu escritório de advocacia e Sara, sua loja de roupas, agora em um trecho importante de Lagoa da Italianinha, perto da escola de música de Eraldo e da floricultura de Cileide. 

Danuzia abandona Wellia e se alia a Horácio


Danuzia, a advogada filha do deputado estadual Moab, tem amizade com Wellia desde menina, tendo inclusive estudado juntas. Em Lagoa da Italianinha, Danuzia e Wellia são duas madames tidas como malvadas e perigosas.

Com a chegada de Horácio na cidade, Wellia esperava obter o apoio de Danuzia para sua causa. Horácio quer reclamar a guarda da sua filha Alice, algo que Wellia, a mãe dela, não aceita. 

Mas Horácio foi procurar Danuzia, e ele disse:

- Sei que você é muito amiga de Wellia...

- Olha, eu sou amiga de quem me paga mais. - respondeu Danuzia.

Horácio ofereceu o dobro do valor que Wellia costuma pagar por suas causas. Danuzia aceitou na hora. No dia seguinte, Danuzia foi conversar com Wellia. Ao contar que agora defendia a causa de Horácio, Danuzia foi expulsa do escritório de Wellia, que a chamou de "traidora". 

Apesar disso tudo, Danuzia não se arrependeu e passou a trabalhar com Horácio. Wellia estava inconformada com a traição daquela que tinha sido sua "melhor amiga". 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Assustada com a guerra

 

Apesar de ser no geral uma pessoa muito calma, Tia Sandra, no período que esteve no manicômio, entre 1939 e 1946, no norte da Itália, andava muito nervosa por conta da Segunda Guerra Mundial. Não foram poucas vezes que Tia Sandra, que embora adulta, tinha mente de criança e não largava de sua boneca de pano, se assustou com as bombas que caíam nas proximidades. 



Outrossim, Tia Sandra, nessas ocasiões, era enrolada com uma camisa-de-força, já que ela quebrava algumas coisas quando ficava nervosa, embora não oferecesse perigo para outras pessoas. Nesse período, a família - que a considerava um estorvo - pouco visitou ela. A única parente que se preocupava com ela era sua sobrinha Lanie, mas ela estava morando no Brasil desde 1935. 

Enquanto Tia Sandra usava camisa-de-força, ela levava injeção e era colocada na cama, onde começava a se acalmar. Mesmo no manicômio, passava o tempo todo de vestido branco e descalça. 

Depois do final da guerra, Tia Sandra foi levada para o Brasil por Lanie, e ela nunca mais teve crises como as que passou no manicômio. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Valdenes recebe um convite de Myllena

 

Numa certa tarde, Myllena estava na prefeitura, quando pediu para sua filha, Giovanna Victórya, chamar Valdenes, que estava na escola de música de Eraldo. Giovanna foi até lá e o trouxe para a Prefeitura. A prefeita descalça disse:

- Seja bem vindo, amigo descalço, vamos conversar. 

- O que deseja, prefeita?

Myllena disse:

- Olha, tu sabe, até pouco tempo você morou nas ruas, depois ganhou na nossa gestão um apartamento lá no Conjunto Luar do Sertão e Bella Ciao, no Loteamento Monte Castelo. 

- Sim, senhora. 

- Sei que você exerce ali uma liderança, é síndico dos dois prédios e comanda uma espécie de associação naqueles dois prédios. 

- Sim, senhora. Mas onde queres chegar?

Myllena disse:

- Valdenes, como você sabe, Kátia, sua prima, não será candidata a vereadora, pois vai pra chapa ser vice comigo. Daí, quero convidar você pra ser candidato a vereador. Arrumaremos votos pra você lá nos Loteamentos Monte Castelo e Maria Clara, onde Kátia e seu amigo Eraldo moram. 

Valdenes ficou surpreso, e disse:

- Mas... eu? Eu nunca pensei em entrar na política. 

- Pois trate de pensar, amigo. Você é inteligente, persuasivo, até anda descalço feito eu. Preciso de você na Casa do Povo. 

- Bom, isso é algo que eu preciso pensar... não posso dar uma resposta assim na lata...

- Pois pense. Tem aí já uns 700 votos garantidos pra tu, só pra que tu saiba. 

- Está bem, vou pensar e lhe dou uma resposta...

Valdenes se retirou, e Myllena depois recebeu sua filha Giovanna e sua irmã Karoline, a atual vereadora e presidente da Câmara. Myllena determinou que as duas fossem candidatas a vereadora, por partidos diferentes que fariam parte de uma mesma coligação. A prefeita descalça fez as contas e viu que era possível colocar sua filha e sua irmã como vereadoras na mesma legislatura. 

Flávia recusa defender causa de Horácio

 

Numa certa tarde, Horácio se dirigiu ao escritório de advocacia de Flávia, a secretária de Ação Social que já foi mendiga no passado. Flávia é advogada e mantém um escritório, onde está quando não dá expediente na Prefeitura. 

Horácio disse:

- A senhora é a dra. Flávia?

- Pois não?

- Eu quero aqui brigar pela guarda da minha filha Alice, que quero tirar das mãos daquela louca da Wéllia. 

Flávia disse:

- Moço, antes de aceitar sua causa, preciso lhe fazer perguntas.

- Faça. 

Flávia perguntou:

- Você por acaso cuidou dessa filha dela? 

Horácio ficou suado com a pergunta, e ele disse:

- Por favor, doutora, eu quero tirar essa menina das mãos de Wéllia, todos aqui na cidade sabem que ela é uma psicopata perigosa...

- Eu sei disso, eu conheço Wéllia. Mas ela cuidou da filha sozinha. Quando eu morava nas ruas, ela já me humilhou. Mas sei que ela cuidou da filha sozinha. 

- Tô vendo que não vai dar em nada. Vou procurar outra pessoa, outro advogado. 

- Fique à vontade, moço. Quero ver se algum advogado vai aceitar te defender. Tu falasse mal de Wéllia, mas tua lista de crimes é bem conhecida aqui na cidade. 

Horácio saiu dali, nervoso, batendo a porta. Flávia disse:

- Sujeitinho folgado esse! 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Leila busca o conhecimento


 A jovem Leila, que veio do alto Sertão de Pernambuco para se aventurar em Lagoa da Italianinha, mora na comunidade do Alto do Cruzeiro e ganha a vida vendendo picolés, trabalho do qual ela se orgulha muito.

Mas quando não está vendendo picolés, ela se dedica a estudar. Leila não sabe ler nem escrever, mas luta para aprender. A Barbie descalça inclusive se matriculou em uma escola e desde então ela vem aprendendo alguma coisa. 

Depois que chegou em Lagoa da Italianinha, Leila já aprendeu a assinar seu nome, mas quer muito mais. Em Matemática, Leila já é ótima, pois precisa aprender por conta de seu trabalho.

Leila ainda coleciona livros e cadernos, para estudar nas horas vagas. Algumas vezes, é vista estudando inclusive na rodoviária, depois que termina de vender picolés. 

Horácio chega em Lagoa da Italianinha


 Numa certa manhã, na rodoviária de Lagoa da Italianinha, o misterioso Horácio chegou na lanchonete de Marlene pedindo café. Horácio disse:

- Onde fica a hospedaria mais próxima?

- Logo ali, de dona Luciana.

Horácio pouco falou, e foi para a hospedaria, onde alugou um quarto. Ele chegou na cidade com o intuito de obter a guarda de sua filha, Alice, a filha de Wellia. 

Horácio ainda pretendia se vingar de Wellia. Tão malvado e perigoso quanto ela, ele pretendia vingança.

Horácio foi procurar Valdenes na escola de música. Valdenes ficou surpreso ao saber de quem se tratava. Ele pretendia saber mais sobre Wellia.

Valdenes foi avisar a Wellia sobre a chegada de Horácio. Ela ficou temerosa. 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Prefeita Myllena escolhe sua futura vice

 

Numa noite de jantar, a prefeita Myllena, em Lagoa da Italianinha, anunciou quem deve ser a pessoa que vai formar chapa com ela. A prefeita descalça quis sair na frente de seus adversários , além de preparar a pessoa. 

Sua atual vice-prefeita, Marcella, optou por não querer disputar a reeleição, e ela mesma ajudou na escolha da nova vice. Myllena chamou seus secretários e os vereadores Karoline (sua irmã), Kátia, Josimar, Vanessa, Ari, Maria Isabel, Alba Valéria e Flávia Andréia. A filha da prefeita, Giovanna, também estava presente. 



Myllena também chamou a imprensa para o momento. Em dado momento, Myllena se levantou e disse:

- Eu quero agradecer à presença de todos, e eu quero sem muitas delongas anunciar a escolha da pessoa que será minha companheira de chapa na busca pela minha reeleição. É uma mulher, uma pessoa maravilhosa, carismática, e muito querida na comunidade dela. Ela já começa desde já a se preparar para esse novo desafio. E todos aqui já conhecem a escolha, não só minha, como de todos os que nos apoiam. Quero anunciar a vereadora Kátia como sendo minha futura vice-prefeita. 



Kátia foi ovacionada, se levantou e disse:

- Eu fico muito honrada com a escolha da prefeita, e quero dizer que eu farei todo o possível para ajudá-la a governar nosso município. 

Marcella também falou, e disse:

- Eu fico feliz em ver que Kátia vai ocupar a cadeira que eu atualmente ocupo. Uma substituta à altura. Uma grande mulher!

Kátia foi muito aplaudida e ovacionada. A partir dali, Kátia passou a ser presença frequente ao lado da prefeita descalça.

Confusão na Padaria


 Numa certa tarde, na frente da padaria no centro de Lagoa da Italianinha, Joni von, que gosta de uma confusão, pegou uma mesa e colocou pães para vender em frente a padaria de Claudines. Ele dizia:

- Comprem pão aqui, muito melhor que lá dentro.

Claudines viu e saindo, enquanto ele atendia um cliente, disse:

- O que tu tá fazendo aqui, vendendo pão aqui na frente da minha padaria?

- Calma, estou atendendo.

- Tu tem alvará? 

Joni von disse:

- Não tenho roupas sujas pra colocar varal...

- Eu não disse varal, eu disse alvará, seu picareta safado!

- Epa, me respeita eu sou um pilantra honesto!

Beto, o marido de Claudines, saiu e disse: 

- O que está acontecendo aqui?

- Esse cabra safado tá vendendo pão na frente da minha padaria, espantando os fregueses!

Beto disse:

- Sai daqui, pegue seus pães e vaza daqui se não quiser levar uma coça!

- Mas estou vendendo pães.

- Vai vender pão no quinto dos infernos!

- Oxe lá é muito quente!!!?

Beto pegou os pães de Joni von e jogou no chão, e disse:

- Limpa , pega seus pães e vaza daqui antes que eu chame a polícia!

- Isso não vai ficar assim!

Joni von pegou os pães e saiu dali. Claudines disse:

- Esse sujeito é mais folgado que calça de palhaço viu?

- Se ele voltar, leva uma coça!

domingo, 7 de janeiro de 2024

Alycia conversa com Bella

 

Depois que voltou a Verona, a nonagenária Alycia não parava de lembrar do dia que reviu Antônio Neto em sua passagem por Lagoa da Italianinha, no Brasil. 

Ela contava para Bella, sua vizinha, sobre essa experiência. Bella disse:

- O que eu mais gostei naquela cidade é uma turminha que anda descalça, feito eu!

- Ali é comum, mesmo, Bella. Você se daria bem lá. 

- Ecco, mas eu gosto daqui, mesmo, vou ficar descalça por aqui mesmo...

Alycia disse:

- Eu ainda espero trazer Antônio Neto aqui, ele vai adorar Verona!

- Será que ele vem???? Ele já tem 98 anos. 

- Eu acredito que sim. Eu tenho 93 e já viajei pra lá e voltei. Nós estamos velhos, mas não morremos! E assim como eu, ele tem uma saúde de ferro, tu notou, né?

- É vero! 

- Tu tem algo a fazer hoje, Bella?

- Não, dona Alycia, hoje tô livre...

- Senta e vem conversar comigo... quero contar tanta coisa...

- Estou pronta pra te ouvir. 

Alycia começou a contar as histórias de sua infância e juventude para Bella, que ouvia atentamente. 

sábado, 6 de janeiro de 2024

Confusão na Pizzaria

 

Por trás de uma igreja no Pátio Verona, em Lagoa da Italianinha, havia uma espécie de "praça de alimentação", onde se localizavam algumas pizzarias. Valdenes e Aline Débora foram para lá, e escolheram uma pizzaria onde os dois, mesmo estando descalços, não seriam barrados. 

Eles estavam lanchando juntos, quando de repente, um senhor de idade avançada, em outra mesa, estava com sua namorada, uma mulher muito jovem, que tinha idade pra ser sua filha. Ele lhe pediu em casamento, e ela aceitou. Ele gritava:

- Eu amo essa mulher!!!!!

Valdenes e Aline Débora olhavam, com supresa, dada a diferença de idade entre ambos. Em dado momento, o senhor disse:

- Vou no banheiro, já volto!

Ele foi ao banheiro, e enquanto isso, a moça se beijou com um garçom, e Valdenes e Aline Débora ficaram chocados. Quando ele voltou, ela disfarçou, e o garçom ficou de longe. Aline Débora se levantou, e disse:

- Senhor, tenho que te avisar uma coisa, essa moça tá lhe botando chifre!

- O que??????? 

A moça disse:

- Mas o que essa pé sujo tá falando?????

- Eu vi tu se beijando com esse safado desse garçom, você e ele são safados!

O senhor se levantou e disse:

- Não ouse levantar falso contra minha amada, senão...

Valdenes se levantou e disse:

- Senão o que????? Vai fazer o que com ela????

A moça disse:

- Vamos embora, amor. Deixe esses dois maloqueiros sujos pra lá! 

Valdenes disse:

- Vai-te embora, corno manso! 

O casal se retirou, e Valdenes disse:

- Esse garçom é muito virado, também, ele traiu uma mulher maravilhosa com quem ele era casado. A fama dele é essa!

- Por isso eu digo, os dois são safados!

O dono da pizzaria apareceu, e Aline Débora disse:

- Não voltarei pra cá enquanto esse garçom estraga famílias estiver aqui! 

- Calma, eu tomarei as providências. 

O garçom foi demitido, e jurava vingança contra Aline Débora, mas enfrentou olhares de raiva de Valdenes. Pouco depois, os dois foram embora. 

Leonardo tenta conquistar Laura

 


Mesmo sendo apenas um menino, Leonardo, filho adotivo de dona Aurora, a filha de Alycia, tentava conquistar sua colega de classe Laura.

Certo dia, com a permissão de dona Aurora, Leonardo foi na casa de Laura, que ficava perto da casa dele, no centro de Siena. Ele foi até bem recebido pelos pais dela, Giuseppe e Marta, e pelo irmão dela, Giovani. Mas Laura não gostou da presença dele. 

Leonardo trouxe um buquê de rosas, e Laura rejeitou, dizendo:

- Não quero!

Marta disse:

- Não seja mal-educada, filha. Aceite. 

- Mas, mãe...

Giuseppe disse:

- Esse menino tem um carinho por você, você deveria tratá-lo melhor. 

A contragosto, Laura recebeu o buquê de rosas. Leonardo foi até convidado para fazer um lanche com a família de Laura, e ele dizia:

- Eu gosto de estudar, quero um dia ser alguém na vida. 

Essa fala enchia mais ainda os olhos dos pais de Laura. Quando Leonardo se retirou, os pais deram uma bronca em Laura, e o irmão dela Giovani ainda disse:

- Cuidado pra não ver ele em boas posições, sendo um grande homem da Itália e vendo outra mulher no seu lugar. 

- Não fale besteira! 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

A história de Thomas


O personagem Thomas nasceu em 1776 e recebeu esse nome em homenagem a Thomas Jefferson, principal autor da Independência dos Estados Unidos, que aconteceu no mesmo ano do seu nascimento. Em 1782, ficou órfão de pai e mãe quando sua casa foi atingida por um incêndio, e acabou indo morar com Brenda, a humilde vendedora de frutas, que o adotou. Morava em Vila Rica e também tinha amizade com a francesa Jacilene.

Foi morar em Fortaleza, no Ceará, se casou e constituiu família. Já idoso e viúvo, morava em um sobrado, sendo vizinho de um Barão, o neto de Brenda. Conheceu as jovens filhas do Barão, a Aline, a Alvanir e a Aurineide, e as viu já adultas, inclusive. Viveu exatamente um século.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Aline, Alvanir e Aurineide


As irmãs Aline, Alvanir e Aurineide, filhas de um poderoso barão de Fortaleza, em pleno Século XIX, na época do Brasil Império, chamavam atenção por serem mulheres finas e distintas. Elas eram amigas uma da outra e se davam muito bem. Entre as três, Alvanir se destacava mais por ser uma escritora, cantora, pianista e abolicionista, mas as outras duas irmãs, embora mais recatadas, também eram muito respeitadas pela sociedade cearense. Aline nasceu em 1844, Alvanir em 1845 e Aurineide em 1846, atingindo a maioridade em meados dos anos 60 do Século XIX. 

Elas também costumavam andar juntas pelas ruas de Fortaleza, e chamavam atenção de homens que as cortejavam. O barão nutria muito orgulho de suas três lindas filhas. 

Dessas três irmãs, descendem boa parte dos habitantes de Lagoa da Italianinha, em Pernambuco. Aline, a mais velha, casou-se com um imigrante italiano e foi viver em Verona, na Itália. Jadiael, o imigrante italiano que aportou no sítio Maniçoba, a futura Lagoa da Italianinha, era seu neto. Entre os atuais descendentes de Aline estão também descendentes de italianos, entre eles, Cássia e as irmãs gêmeas Wéllia e Malu. 

Alvanir, por sua vez, teve duas filhas, Lucinha e Mônica sendo que Mônica é mãe de Antônio Neto - pracinha que lutou na Itália na Segunda Guerra Mundial -, que é avô de Valdenes e da vereadora Kátia, que são primos, entre outros descendentes. 

E Aurineide, por sua vez, é avó de Jefferson, que por sua vez, viria a ser avô do deputado estadual Moab. Da linhagem de Aurineide ainda descendem a deputada federal Sandra Valéria,  a atual prefeita Myllena, além do músico Eraldo e sua irmã Fabíola. 


quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Wéllia em apuros

 

Wéllia recebeu uma intimação para comparecer ao fórum em Lagoa da Italianinha. Ela foi acompanhada por sua advogada Danúzia, onde foram recebidas pela juíza Suely e por um advogado que as esperava. Wéllia perguntou para Suely:

- Esse é o advogado????

- Sim, por que???? - respondeu a juíza careca. 

- Bom, é que... deixa pra lá. 

O referido advogado era afrodescendente, e isso despertou incômodo em Wéllia e Danúzia. Ele disse:

- Bom, estou aqui representando um casal de idosos que sofreu um golpe dessa mulher, a sra. Wéllia.

- Tá louco? Eu não dei golpe nenhum. 

- Fez eles solicitarem empréstimos, quando a grana ia pra sua conta. Sem contar os empréstimos que a senhora mesma fraudou!

- Mas isso é um absurdo! 

Danúzia disse:

- Minha cliente não tem esse tipo de prática, isso é uma calúnia!

O clima começou a ficar pesado e a juíza Suely teve que intervir. A audiência terminou sem nenhum acordo, mas o advogado prometeu levar Wéllia para a cadeia. Ela disse à ele, em tom desafiador:

- Eu sou rica, e no Brasil, rico não fica preso! 

Elas saíram, e Suely disse ao advogado:

- Por um momento, tive vontade de mandar prender essas duas, até por racismo, pois notei como elas te olharam. Mas tive que me controlar para o andamento da audiência. 

- Não se preocupe, doutora. 

No meio do caminho, mais um problema para Wéllia: ela recebeu uma ligação. Era o pai de sua filha Alice, dizendo que estava pra chegar em Lagoa da Italianinha. Ela ficou desesperada. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Moab atrai mais um apoio para Mimi

 

Certa manhã, o deputado estadual Moab mandou chamar Mimi em sua fazenda, para irem juntos a uma fazenda de um amigo seu que fica na divisa Lagoa da Italianinha e Vila Dourada. O seu Amâncio, fazendeiro poderoso da região, é eleitor fiel de Moab e costuma votar em candidatos indicados por ele, além de ajudar financeiramente suas campanhas. Mas ele resistiu à ideia de votar em Mimi porque ela mesma já invadiu uma terra sua no passado, quando era sem-terra. 

Moab e Mimi foram bem recebidos por Amâncio, que disse:

- Bem, eu sou eleitor de Moab desde que ele foi candidato a vice-prefeito em 1988, meu pai foi muito amigo do pai dele, coronel Pontes Florêncio, e meu avô era amigo do avô dele, seu Jefferson, cearense arretado. Nunca votei em candidatos contra ele. Por isso, pedi que ele me enviasse você, pra eu lhe conhecer. 

- Pois eu sou a Mimi. 

- Lembro que quando tu invadisse minhas terras, tu tinha cabelos e usava calçado num pé só... que mal lhe pergunte, porque vosmicê tá careca?

- Opção minha, senhor. E hoje eu calço os dois pés...

- Sim... entendi. 

Moab disse:

- Te garanto, meu grande amigo, que seu não visse nela capacidade, eu não colaria meu nome ao nome dela. 

- E eu não duvido disso. Moça, comece a falar, quero saber dos seus planos para Lagoa da Italianinha. 

Mimi disse:

- Bom, senhor, precisamos começar gerando empregos nessa cidade, nós temos que estimular o empreendedorismo, e queremos que as pessoas mais humildes sejam lembradas. Eu ainda sou adepta das ideias de Justiça Social, mas creio que é possível acontecer com a participação dos senhores. Inclusive, estarei em breve montando meu plano de Governo, e conto também com a sua participação. Assim como o senhor, sou da área rural, eu moro no sítio Mandacaru, lá perto da divisa com Lajedo e Ibirajuba, e nós conhecemos muito bem os problemas do campo. 

- Gostei de você, moça. 

Mimi detalhou mais projetos que estavam em sua mente. O fazendeiro ficou tão impressionado que já declarou apoio à pré-candidatura de Mimi. Moab, conseguia assim, mais uma importante adesão para a ex-sem-terra. 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O Aniversário de Cássia


A maluquinha Cássia costuma dizer que "o maior presente do seu aniversário é chover forte", para que ela possa andar na chuva. Pois exatamente no dia do seu aniversário, choveu forte em Lagoa da Italianha, e Cássia saiu na chuva. Mesmo sendo uma chuva forte, ela andava tranquilamente. Chegou até mesmo a se sentar em uma calçada. 


Cássia não se importava com os pingos fortes que caíam sobre ela, muito ao contrário, se sentia muito bem. Enquanto isso, em sua casa, Lúcia, sua irmã, mesmo sabendo que Cássia estava na chuva, fez um bolo de aniversário para comemorar com a família. 

Quando a chuva terminou, depois de muito tempo, Cássia chegou em casa, bastante molhada. Lúcia a viu e disse:

- Troque de roupa, para não pegar resfriado!

- Não, por favor... deixe eu com essa roupa...

Lúcia, mesmo contrariada, deixou. Estavam ali os irmãos Lúcia, Quitéria, Niedja e André, além de alguns convidados, como Eraldo, Valdenes e Ana Karina. Eles lhe deram os parabéns pelo aniversário, e ela apagou as velinhas. Cássia disse:

- Muito obrigada!!!!!

Cada um pegou o pedaço do bolo, mas Cássia fez diferente: ela jogou seu rosto sobre o bolo de chocolate e ficou com rosto lambuzado. E assim, ela se sentia feliz por mais um aniversário ao lado de familiares e amigos, além de ter abraçado sua maior paixão, a chuva. 


A mendiga Juliana

A mendiga Juliana costuma perambular pelas ruas centrais de Lagoa da Italianinha, pedindo esmolas, não só no centro como também na rodoviári...