terça-feira, 3 de dezembro de 2024

As marcas do castigo

 

Em 1812, a francesa Jacilene, morando no interior de Pernambuco, no pequeno povoado que viria a ser Vila Dourada, tinha 60 anos de idade. 20 anos já haviam se passado desde que foi açoitada em um tronco, por Sinhá Adriana, por proteger a escrava Gilmara, quando morava em Vila Rica. 

Mas ela ainda carregava em seu corpo a marca do açoite. Num certo dia, uma empregada ia lhe servir o café, quando ela perguntou:

- Que mal lhe pergunte, dona Jacilene, o que é isso nas suas costas?

Jacilene disse:

- Uma marca que representa o dia que defendi uma vida. 

- Como assim? Desculpe a intromissão...

- Não se preocupe, filha... quando eu morava lá em Vila Rica, eu vivia na casa da Sinhá Adriana...

- A senhora já morou em Vila Rica????

- Sim, por que a surpresa?

- Pensei que a senhora tivesse vindo da França direto pra cá. 

- Não, eu morei lá. Bem, havia uma escrava chamada Gilmara, e ela era muito maltratada. Eu ajudei ela a fugir, mas os capatazes de Sinhá Adriana a encontraram e ela foi castigada. Eu também levei açoites no tronco. Coitada dela, foi humilhada, muito humilhada... isso foi há muito tempo atrás, em 1792, faz 20 anos. 

- Puxa, que triste...

- Nem Gilmara e nem Sinhá Adriana estão mais nesse mundo. Mas eu me lembro desse dia até hoje por conta dessa marca que vou carregar enquanto viver. 

- A senhora não se arrepende?

- Jamais. 

A empregada ficou impressionada com a história e a postura de sua patroa. 

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