Numa certa manhã, Marcella, que vende comida, passava pela rodoviária de Lagoa da Italianinha, quando viu Sílvia sentada ali. Marcella disse:
- Quer alguma comida, senhora?
- Obrigada. Quero não, tenho até pena de tu andar assim pelas ruas levando sol pra arrumar trocado.
Marcella disse:
- Olha, como todo o respeito, Sílvia, não sei como tu aguenta ficar o dia todo assim, sem fazer nada...
- Eu já estou acostumada. Mas você é injusta quando diz que não faço nada.
- Ah, é, e tu faz o que?
Sílvia disse:
- Eu grito no meio da rua, corro de cavalo, tomo banho no chafariz, de vez em quando saio correndo na rua...
- Ah, sei. Muito maluca tu.
- Isso é verdade, sou maluca mesmo.
Marcella disse:
- Olha, eu não tenho a riqueza que tu tem, tu é sobrinha de deputada federal, eu sou uma pobre mulher e tenho que lutar pra sobreviver. Já tu, toda bonita, já dá pra arrumar casamento...
- Oxe, e quem disse que eu quero casamento?
- Não????
- Não. Não quero saber de marido mandando em mim, eu quero ser livre, leve e solta. Eu já dispensei uns 400 pretendentes só em outubro!
- Credo! Vou embora, que essa loucura pode ser contagiosa...
Marcella se retirou, e ali perto, Deinha, que trabalha na lanchonete de Marlene, disse:
- Discutisse com aquela doida, foi?
- Ela insinuou uma coisa que eu não gostei.
- Ela é azuada do juízo mesmo, Marcella. Tu acredita que ela mora na fazenda mas dorme dentro de um barril perto dos cavalos?
- Verdade????
- Sim, a pobre mãe dela, dona Maria Bonyta, fica desesperada pra arrumar casamento pra ela, mas ela não quer.
- Oxe, cheia de problemas.
Marcella se despediu de Deinha e foi vender comidas. E Sílvia ficou ali.

Nenhum comentário:
Postar um comentário