Sozinha em uma praça de Lagoa da Italianinha enquanto anoitecia, a vintage Fabíola se sentia solitária em um mundo moderno. Olhava para os lados e via pessoas com celulares nas mãos, e ela se sentia uma estranha no mundo atual.
Fabíola via até casais de namorados com celulares nas mãos, e dizia:
- Em vez de um estar olhando para outro, estão olhando para esse tijolo estranho...
Fabíola olhava para outros lados, e dizia:
- Quer saber? Dizem que eu sou doida, mas eu acho que estou certa em estar na época que eu estou. Essa turma do futuro são um bocado de obcecados por esse tijolo, que chamam de "celular". Prefiro continuar na década de 50, é muito mais bonito.
De repente, nessa hora, apareceu Eraldo, o irmão de Fabíola, e disse:
- Falando sozinha, Fabíola?
- Não, só pensando alto mesmo.
- Pensando em que?
- Esse troço aí que chamam de tec... tec o que?
- Tecnologia?
- Isso. Olha isso, as pessoas não se olham mais, só olham pra esse tijolo eletrônico. Parecem zumbis, oxe. Depois, eu que sou a doida.
Eraldo não falou nada, e Fabíola disse:
- Eraldo, diga alguma coisa!
- Desculpe, tenho que ir.
- Tá certo, irmão. Até amanhã.
Eraldo pegou seu carro e foi para sua casa, e estava pensativo. Judilane, a esposa, disse:
- O que houve, Eraldo? Que cara é essa?
- Quando eu vinha pra casa, encontrei minha irmã Fabíola.
- A doida. O que ela aprontou?
- Tava na praça, metendo o pau na tecnologia, chamou as pessoas viciadas em celular de "zumbis".
- Essa é doida, mesmo...
Eraldo disse:
- Nem tanto, nem tanto... acho que dessa vez, ela tem razão.
- Eraldo!
- Mas é verdade. Veja, as pessoas da época que ela acredita que está se olhavam nos olhos, hoje se destraem com celulares. Será que isso não tem sentido?
- Bom... eu não tinha pensado nisso.
- Pensa direitinho. Fabíola pode ser destrambelhada, mas muitas coisas que ela fala são coerentes, e ela é inteligente. Embora seja doida de pensar que tá há sete décadas atrás.

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