Quando anoitecia na rodoviária de Lagoa da Italianinha, Fábia, a icônica mendiga quarentona que tem aparência de adolescente, tentava filar um lanche para comer. Bastante suja e com um cheiro forte, Fábia ficava afastada das pessoas, mas algumas lhe deram algumas esmolas, o que a permitiu comprar alguns lanches para comer.
Além disso, Fábia ainda falava sozinha. Ela dizia:
- Muita gente pensa que é muita coisa, coitados, nem sabem que não vão levar nada daqui...
Eles não sabiam se ela se referia a alguém em específico ou a quem passava por ali e lhe negava ajuda. Houve quem oferecesse cigarro ou bebida para Fábia, mas ela recusou: é uma das poucas mendigas que não fuma nem bebe.
Marlene, que estava na lanchonete se preparando para fechar, perguntou para sua funcionária Deinha Life:
- Fábia comprou alguma coisa aqui?
- Comprou sim.
- Mas ela pagou?
- Pagou.
- Ainda bem. Eu não aguentei nem passar perto dela, ela tá com uma catinga de raposa ensopada.
- Coitada, a vida que ela leva. Olha ela ali, sujinha, os pés sujos, as solas pretas de grude, coitada, ela não tem onde dormir, onde se abrigar...
- Não tem porque não quer, ela já teve oportunidade de sair da rua e não quis. Ela é muito perturbada do juízo, isso sim.
- Agora, eu fico mais surpresa que ela tem 46 anos e parece ter muito menos. Parece ser mais nova do que eu, até.
- É, isso é um mistério que até hoje nessa cidade ninguém conseguiu desvendar.
Fábia saiu dali, e passando pela lanchonete, disse ali:
- Vou indo embora, vou ali pro posto tomar meu banho.
- Tá certo, amiga. - disse Deinha.

Nenhum comentário:
Postar um comentário