quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

O Natal de uma família venezuelana

 

Na rodoviária de Lagoa da Italianinha, a venezuelana Fabiana e seus três filhos Emerson Isaías, Eduardo Felipe e Everton Samuel haviam passado o dia por ali, pedindo esmolas. Fabiana e o mais velho Eduardo Felipe pediam juntos, enquanto os outros dois mais novos brincavam. Everton Samuel era o mais inquieto e agitado.

Fabiana, que havia saído da Venezuela por conta da crise no seu país, passou por alguns estados do Norte e Nordeste, até chegar em Lagoa da Italianinha, no agreste de Pernambuco. Longe de seu povo e de sua família, Fabiana e seus filhos viviam mais um Natal sem teto, dormindo pelas ruas e longe de casa. Apesar de sentir saudades de sua terra natal, Fabiana não tem planos de voltar para Venezuela. 

Diferente de outras duas famílias venezuelanas que vivem em Lagoa da Italianinha, Fabiana não quis ir para nenhuma casa ou abrigo. Ela alega que teve terríveis experiências em um abrigo. Seus três filhos também pareciam rechaçar a ideia de estar debaixo de um teto e não saíam de perto de sua mãe. 

Fabiana, além da pobreza, é conhecida por seu jeito um tanto excêntrico. Ela, que por exemplo, anda sempre descalça, quer que seus filhos sigam seu exemplo. Se um deles estiver usando um chinelo, já é motivo para Fabiana puxar-lhe a orelha, e até exigir que ele doe os calçados para outro mendigo. Além do mais, Fabiana, como já foi dito acima, se recusa a viver debaixo de um teto, parecendo gostar de viver pelas ruas. Não trabalha e pede esmolas. Seu sotaque espanhol torna um pouco difícil que ela consiga algum tipo de bico. Fabiana e seus filhos também costumam tomar banho, de roupa e tudo, em um posto de gasolina ou no chafariz da praça. 

Na noite de Natal, passaram ali mesmo na calçada da rodoviária. Fabiana havia conseguido alguns alimentos e dividiu com os filhos. 

Mas a presença deles incomoda um tanto Marlene, a dona da lanchonete da rodoviária e diretora do Terminal. Ela, quando fechou sua lanchonete, disse a um vigia que ficaria naquela noite:

- Tu fica de olho aí nesses venezuelanos, eu não gosto que eles passem a noite aqui. Se eles quiserem dormir na calçada do lado de fora, façam, mas não aqui dentro do Terminal. 

- Sim, senhora. - disse o vigia. 

Marlene foi embora, e o vigia chegou a reclamar com Emerson Isaías e Everton Samuel quando eles foram brincar de correr dentro do Terminal. Os portões da rodoviária costumavam ser fechados às 10 horas, mas nesse dia, fechou-se às 9, e tanto Fabiana quanto seus filhos estavam do lado de fora e passaram a noite ali, enquanto muitos faziam ceias de Natal no conforto de seus lares. 

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