Depois de recusar o convite pra ser modelo na agência de Sara - teria que raspar a cabeça para isso -, Morango saiu à procura de trabalho. Ela mora em um apartamento no condomínio Luar do Sertão, onde vivem ex-mendigos. Sua mãe Josinete tem uma barraca de lanches, mas Morango não tem interesse em ajudá-la. Persegue seu sonho de ser modelo.
Mesmo sendo prepotente, arrogante e esnobe, Morango, ao menos, não é preguiçosa. E foi por isso que ela rompeu sua amizade com Galega, que se viciou em viver pedindo esmolas, mesmo morando com dois irmãos, Rodolfo e Pedrinho, numa casa em uma vila pequena, sem contar que sua outra irmã, Clíntia, mora em uma outra casa, na mesma vila.
Numa certa tarde, Morango desabafou para Galega:- Eu não entendo, sou tão bonita, inteligente, e não arrumo trabalho.
- Oxe, faz que nem eu. Pede.
- Eu???? Tá louca? Eu não sou mendiga, não. E quer que eu diga a verdade? Tu se passa por ridícula, tu uma mulher tão bonita, saindo assim suja e descalça pelas ruas pra despertar pena no povo.
- Tu fala isso porque tu é besta, eu apuro até 600 reais num dia só. Vê se tu ganha isso por dia, vê se um trabalhador neste país ganha isso por dia. O que os bestas aí levam um mês pra ganhar, eu ganho em dois dias!
Morango disse:
- Eu nunca vou me prestar a isso. Sou uma mulher fina e elegante.
- Morango, tu é muito metida, isso sim. Tu é pobre, filha de dona de barraca e quer se meter a rica. E quer saber? Nem quero conversa com tu.
- Nem eu, sua vagabunda preguiçosa.
- Vagabunda, mas me dou bem, encho meu bolso de grana. Basta eu pegar um vestido velho, sair sem calçados e eu me dou bem.
Morango saiu dali, nervosa. Galega disse:
- Nem quero mais papo com essa nariz empinado. Quer ser o que não é...
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