terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Adriana passa a se abrigar em um chalé

 

Após seis anos vivendo no meio da mata e dormindo na floresta, Adriana, ex-psicóloga e ex-vereadora, está agora se abrigando em um chalé que existe na própria reserva florestal do Vale dos Gatos, onde ela mora. Os outros que vivem na mata - Danielle, Eduardo, Rafaela e Lulu - não aceitaram sair da floresta. Entretanto, mesmo assim, Adriana ainda segue sendo amiga deles, e se dispôs a protegê-los sempre. 

Adriana foi psicóloga e foi vereadora. Prima da professora Ana Karina, ela iniciou na política em 1996, sendo candidata a vereadora, vencendo naquele ano e sendo reeleita em 2000. Foi candidata a vice na chapa de Sandra Valéria em 2004, mas foi derrotada e ficou sem mandato. Viria a ser eleita mais três vezes vereadora: em 2008, 2012 e 2016. Curiosamente, Adriana não fala mais com Sandra Valéria e as duas seguem rompidas. 

Mas durante seu último mandato, em 2018, Adriana renunciou. Largou tudo que tinha, fechou seu consultório de psicologia e até vendeu sua casa, pra ir se retirar para a mata. Ela extinguiu até suas redes sociais e simplesmente "sumiu" do mapa. Nessa época, Kátia, que era sua primeira suplente, assumiu seu lugar na Câmara. Kátia viria a ser reeleita em 2020, mas sai da Câmara por ter disputado outro cargo em 2024. 

Adriana, desde então, passou a dormir no meio da mata. Mas alguns dias atrás, conseguiu um chalé simples onde passou a se abrigar. Adriana alegou motivos de saúde para essa mudança. Mas mesmo assim, ela segue na mata e fora da civilização, como ela optou. 


Cássia quer passar Ano Novo com os mendigos

Já se aproximando o Ano Novo, Cássia chegou em sua irmã Lúcia e fez um pedido para ela:

- Lúcia, eu quero te pedir uma coisa...

- O que, minha linda?

Cássia disse:

- Deixe eu passar o Ano Novo na rua. 

Lúcia levou um susto. 

- Oxe, pirou????????

- Não... quero estar do lado dos mendigos, meus amiguinhos Rita de Cássia, dona Patrícia, Guilherme, Andreza, Gílson, Renata, Deza, Esvalda, Jéssica, Fábia, Solange, Juliana, Hyasmin, Gabriella...

- Isso não dá. 

- Por favor, eu quero. 

Cássia insistiu tanto que Lúcia aceitou. Cássia saiu de casa, dizendo aos irmãos Lúcia, André, Quitéria e Niedja que só voltaria no dia seguinte. Cássia não levou nada, estava apenas com a roupa no corpo e seus tênis. 

Tão logo chegou nas ruas, se juntou aos mendigos e foi se divertir no chafariz com eles. Estavam Rita de Cássia - sua prima -, Patrícia, Andreza, Guilherme, Gílson, Renata, Esvalda, Deza, Solange, Jéssica, Juliana, Fábia, Gabriella e Hyasmin. No chafariz, só não entraram Gílson, Renata, Deza, Esvalda e Jéssica. Mas os outros, e mais Cássia, se divertiam na fonte. Ali mesmo Cássia disse que dormiria na rua com eles naquela noite. 
 

A luta de Olívia

 

Filha caçula do ex-escravo Antônio e da bela abolicionista Alvanir, a jovem Olívia nasceu em Fortaleza e enfrentou muitos preconceitos já na sua infância. Em contraste com suas duas irmãs mais velhas Lucinha e Mônica, que eram brancas, Olívia, que havia herdado a etnia do seu pai, teve que enfrentar o preconceito até dentro de sua própria família. Olívia nasceu em 1882, sete anos antes da abolição da escravatura. 

Alvanir ensinara Lucinha e Mônica a respeitarem e amarem Olívia, e lhe dar todo amor. Alvanir disse para suas filhas:

- Vocês nasceram brancas como eu, ela nasceu negra como pai de vocês, e vocês são todas irmãs, sejam sempre unidas e se amem uma à outra. 

Quando ela ainda tinha sete anos, enfrentou o trauma de ser refém da transloucada Armanda, a prima de Alvanir, que entrara na casa disposta a assassinar a família. Armanda dizia claramente que mataria primeiro a Olívia, bem como o pai, por conta da cor deles. 

Mas Olívia, apesar de todos os preconceitos, se integrou à sociedade. Ela se casou e teve filhos, e quando sua mãe Alvanir - a quem amava profundamente - estava idosa, se mudou para Pernambuco, junto com ela, se estabelecendo em Vila Dourada, perto de sua irmã Mônica. Olívia, já conhecida como Dona Olívia, se tornou uma dama respeitada em Vila Dourada, patrocinando quermesses, e sendo querida por todos - menos pela racista Lady Andréia. Olívia viveu até 1966 e deixou um grande legado em Vila Dourada. 

Josiane decide lutar por Valdenes e enfrentar Aline Débora

 

Filha mais velha do deputado estadual Moab, a Josiane decidiu de uma vez por todas, lutar para ter de volta Valdenes, seu antigo amor da época que ele ainda vivia nas ruas. Mas era claro que novamente ela enfrentaria a reprovação do seu pai, que não admitia que sua filha namorasse um pobre. 

Atualmente, Valdenes não é mais mendigo. Ele mora em um pequeno apartamento em um conjunto residencial de ex-mendigos, além de trabalhar no escritório da juíza Suely e acabar de ser nomeado secretário de Turismo na gestão de Myllena. Mesmo assim, Moab o despreza como um "pobretão sem futuro". 

Josiane, certa tarde, viu Dona Ruth, que foi entregar doces para a festa de ano novo em sua casa. Sabendo que Dona Ruth é uma ex-mendiga e vizinha de Valdenes, Josiane foi falar com ela:

- Dona Ruth, eu preciso falar com a senhora. 

- Diga, dona Josiane. 

- Olha... seu vizinho Valdenes, eu preciso vê-lo. 

Dona Ruth disse:

- Ele está passeando agora com a namorada dele, Aline Débora. 

- Namorada dele por enquanto, porque eu vou casar com ele. 

Dona Ruth levou um susto, e disse:

- Oxe, pirou? E tu acha que seu pai vai deixar tu se casar com ele?

- Desculpe, mas se eu ficar pensando no que meu pai vai pensar, eu vou morrer solteira! 

- Seu pai sempre teve preconceito com Valdenes, por ele viver na rua, na época, e até hoje, fala mal de Valdenes porque ele anda descalço, ele toma banho de roupa, apesar que tu também faz isso. Mas ele não gosta. 

- Não posso ficar mais preocupada com o que meu pai pensa. 

- Ah, e a Aline Débora? Tu acha que ela vai deixar?

- Eu estou disposta a enfrentar essa caipira, se for preciso. 

- Boa sorte... vai precisar muito. 

Enquanto isso, naquela tarde, Valdenes e Aline Débora estavam passeando no Pátio Verona, e estavam na lanchonete de Quitéria. 

Na solidão de um manicômio

 

No Ano Novo de 1944 para 1945, o penúltimo que Tia Sandra passaria em um manicônio em Milão - ela sairia dali em 1946 -, foi melancólico para ela, como tem sido outros anos. Sentindo-se rejeitada e desprezada pela família - que não admitia uma doente mental na família -, Tia Sandra se lembrava ainda da sua sobrinha Lanie, a única que a amava, mas que estava morando no Brasil desde 1935. 

Tia Sandra, que tinha mente de criança e carregava uma boneca de pano, já tinha nessa ocasião 53 anos de idade. Havia passado várias noites dormindo nas ruas de Verona, tendo sido inclusive dois anos seguidos - de 1935 a 1937. 

Tia Sandra derramava lágrimas, enquanto ouvia alguns barulhos de bomba - nessa época, o norte da Itália estava ocupada pela Alemanha nazista, e alguns exércitos aliados, incluindo brasileiros, estavam lutando por lá. 

Algumas vezes, na solidão do quarto, Tia Sandra escrevia. Algumas dessas cartas são guardadas ainda hoje por sua sobrinha-neta Alycia, que tem 94 anos atualmente e mora em Verona. 

Rita de Cássia e Wéllia na lama

Numa certa tarde perto do fim do ano, em um local distante do centro de Lagoa da Italianinha, as duas primas Rita de Cássia e Wéllia estavam brigando na lama. Rita de Cássia havia sido provocada pela publicitária, que não a perdoa por ter deixado sua família e virado mendiga. Wéllia disse:

- Tu envergonha o nome de nossa família, vivendo feito mendiga, tu é uma nojenta. 

- Não mais do que tu, Wéllia, eu faço cocô nas calças feito você, inclusive aprendi com você. 

- A única coisa que preste que tu faz, sua inútil! Por que de resto, tu não faz nada que preste. E tu ainda fica com essa tua boneca encardida!

- Não fale assim de Dalila!

- Falo, sim, tu e ela são encardidas!

As duas trocaram tapas e acabaram caindo na lama. 


Algumas pessoas filmaram as duas brigando na lama e acabou viralizando o vídeo. Wéllia saiu dali, suja de lama, pegou seu carro e foi pra casa. Quando Wéllia chegou em casa, Selma, sua mãe, disse:

- Wéllia, que espetáculo deprimente tua irmã Malu me mostrou, tu brigando na lama com Rita. 

- Me deixe, mãe!

- Nada disso, como é que tu que se diz uma madame fina, se reduz a brigar com uma, que com licença, é doente mental, age como criança e largou a família pra ir morar nas ruas? 

Wéllia saiu dali, e foi pro chuveiro, de roupa e tudo. 

A melancolia de Warlla

 

A véspera de Ano Novo costuma ser muito melancólico para a mendiga Warlla, que já viveu esse momento diversas vezes no luxo. Quando era rica e antes de perder tudo, Warlla tinha festas e mais festas, tanto em sua própria casa como quando era convidada para outra casa. 

Mas após virar moradora de rua, Warlla não tem mais nenhum contato com seus antigos "amigos" de farra. Todos a abandonaram. Eles continuam fazendo as festas, mas Warlla não faz mais parte do ciclo social deles. É desprezada como uma moradora de rua, mesmo ela se vestindo chique, onde se parece ainda ser rica. 

Warlla não tem amigos nem mesmo entre os mendigos, que não gostam do estilo exagerado dela. Mas conseguiu arrumar uma parceira para suas traquinagens: Lua, a mendiga gótica. Essa parece ser a única disposta a passar o Reveillón ao lado de Warlla, em alguma rua da cidade. 

Warlla, porém, é orgulhosa: não aceita convite de nenhum de seus antigos "amigos". Não quer ser tratada com pena nem com piedade. E não quer saber de morar de favor ou de aluguel, prefere muito mais continuar morando nas ruas. E a sua conta segue zerada. Conta-se ainda que Warlla, mesmo morando nas ruas, está cheia de dívidas ainda. E assim seguem as aventuras de uma mendiga diferente, que já experimentou o outro lado da vida social, mas que não abre mão de um estilo elegante, mesmo estando na bancarrota. 

Flaviana e sua mudança de vida

 

Uma outra ex-moradora de rua que se deu bem foi a Flaviana, que atualmente trabalha na lanchonete de Quitéria com suas amigas Santa e Pri. Flaviana, quando morava nas ruas, costumava fazer fofocas com Eliane Josefa, outra mendiga, e se envolveu em várias confusões com isso, indo parar na cadeia várias vezes. Em 2022, quando os prédios Luar do Sertão e Bella Ciao foram construídos para os mendigos, Flaviana quis logo sair das ruas, assim como Eliane Josefa, e ambas foram morar no Bella Ciao. 

Mas Flaviana decidiu se afastar de Eliane Josefa e foi logo trabalhar com Marlene, mas depois, passou a trabalhar com Quitéria. Flaviana também mudou seu visual: quando ela morava nas ruas, era careca, mas deixou os cabelos crescerem, e ainda passou a tomar banho de roupa e tudo mesmo tendo saído das ruas, convencida por Valdenes, de quem se tornou amiga. Ela já se banhava assim no chafariz, mas depois que saiu das ruas, passou a adotar como hábito. 

Flaviana era conhecida por ser uma das poucas mendigas que nunca andava descalça, pois ela sempre usava chinelos, mesmo quando tomava banho e dormia. E permanece assim até hoje. 

Mas as recaídas aparecem: vez por outra, quando Flaviana vê dois clientes conversando, ela se aproxima para saber o que estão conversando. 

Ela permanece morando no mesmo apartamento que adquiriu em 2022, e Flaviana cumpre um extenso horário na lanchonete. Ela gosta de seu trabalho. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Oposição dividida e enfraquecida em Lagoa da Italianinha

 

Enquanto a prefeita Myllena se prepara para assumir a Prefeitura pela segunda vez, ao lado de sua filha Giovanna como vice, a oposição em Lagoa da Italianinha se encontra em pedaços. Existe uma situação de enfraquecimento da oposição na cidade, de modo que até não estão se entendendo em alguns aspectos. 

A única coisa que a oposição pôde comemorar foi o ingresso da vereadora Vanessa, que rompeu com a prefeita. Mas ao mesmo tempo que Vanessa foi para a oposição, isso desgostou o deputado estadual Moab, que chegou a puxar a orelha da deputada federal Sandra Valéria por ter aceito Vanessa no grupo. Existe uma desavença muito antiga, desde quando Vanessa, lá em 2009, rompeu com o então prefeito Moab e o acusou de vários atos de corrupção, tendo até sofrido um atentado e acusado Moab, que entrou em um processo contra a descalça por calúnia e difamação, processo esse que corre até hoje. 

Apesar disso, o vereador Marco Aurélio, sobrinho de Moab, e a vereadora eleita Cíntia, filha de Moab, deram as boas-vindas à Vanessa, que juntamente com eles e com a vereadora Taciana - sobrinha de Sandra Valéria - formarão a bancada de oposição. 

A expectativa também na cidade é em relação à Mimi, líder política que disputou a eleição de prefeita, e o vereador Kauan, que não foi reeleito e estará na oposição. 

Mas a imprensa também está divulgando que Sandra Valéria e Moab podem desfazer a parceria que dura desde 2013. Caso isso aconteça, Sandra já terá ao seu lado as vereadoras Taciana e Vanessa, e Moab terá Marco e Cíntia, e mais um detalhe surpreendente: Mimi e Kauan já admitiram que acompanharão Moab caso a oposição se divida. Mesmo os dois sendo de esquerda e Moab tendo construído sua carreira na direita, Mimi é muito grata ao Moab por ele ter dado apoio incondicional à sua candidatura a prefeita. Caso isso aconteça, Moab ficará mais forte que a própria Sandra Valéria. 

Edneide recebe convite para trabalhar na Secretaria de Turismo

 

Depois que foi escolhido para ser secretário de Turismo - uma escolha que surpreendeu a muitos -, Valdenes começou a querer montar sua equipe, e de cara já quer chamar logo uma amiga de longas datas, desde a época que ele ainda vivia nas ruas: a jovem Edneide, uma hippie nômade que costuma se mudar de casas de seis em seis meses. 

Valdenes recebeu carta branca de Myllena e foi pessoalmente convidar Edneide para trabalhar na secretaria com ele. Edneide disse:

- Logo eu?????

- Porque não? Você me ajudava quando eu vivia nas ruas, me dava comida, e quando saí das ruas, você me aconselhou a ser quem sou, a continuar andando descalço, tomar banho de roupa, do jeito que eu gosto, e me incentivou a não me preocupar com opiniões alheias. 

- Verdade, amigo. Eu nasci muito rica, imagina o que falaram de mim quando larguei tudo pra viver pelas ruas feito hippie. Já pensou se eu fosse me incomodar? Hoje, a gente vende artesanato e tiramos nosso sustento, por isso, alugamos quartinhos pra morar, e a gente se muda de seis em seis meses para não nos apegarmos a nenhum lugar. 

- Ótimo, então, por favor, eu quero que você aceite o convite. Não se preocupe, Edneide, não precisa se enpiriquitar, tudo pode ir vestida como hippie, de chinelos, do jeito que tu gosta. 

- Obrigada... bem, eu...

- Não aceito um não como resposta. 

- Está bem... mas posso pensar um pouco?

- Certo, mas me dê a resposta até amanhã. Quinta, já serei empossado. 

- Certo, amigo descalço. 

Valdenes se retirou e Edneide pensava no convite. 

Giovanna Victórya preparada para o desafio

 

Após ter crescido longe de sua mãe, a prefeita Myllena, e ter passado oito anos na Europa, entre Alemanha e Áustria, a jovem Giovanna Victórya está preparada para um grande desafio: acabou de entrar na política, e de cara, já foi eleita vice-prefeita na chapa de sua própria mãe. 

Ela substitui a ex-vice-prefeita Marcella, que já renunciou ao cargo depois de abdicar da disputa pela reeleição. Myllena, a princípio, não pretendia colocar sua filha como companheira de chapa - pra evitar acusações de nepotismo -, mas ela acabou cedendo à pressão dos partidos. 

Desde a eleição, Giovanna acompanha a sua mãe, a prefeita descalça, em todos os lugares. Já foi escolhida inclusive para chefiar a Secretaria de Governo, já para se acostumar com o dia-a-dia da gestão. Acontece que se agora, Giovanna já está diante de um desafio, existe a possibilidade de um desafio ainda maior para a garota: assumir a Prefeitura já em 2026, uma vez que a sua mãe é ventilada para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco. 

Inclusive, tendo em vista isso, Giovanna já anda sendo mais requisitada em encontros com políticos e empresários do que a própria Myllena. Alguns até brincam dizendo:

- Pelo menos, essa jovem dama usa sapatos, ao contrário da mãe dela... 

Mas Myllena também, preocupada com sua filha, sempre a alerta contra as "serpentes" existentes no meio político. Alguns na cidade até falam:

- Pobre moça, tão nova e já está no meio desse ninho de cobras e escorpiões...

Alice se aproxima mais de sua tia Malu

A jovem Alice praticamente anda mais ligada à sua tia Malu do que à sua mãe Wéllia, irmã gêmea de sua tia. Alice não consegue se adaptar às ideias e atitudes de sua mãe, em geral, condenáveis. Muitos em Lagoa da Italianinha não conseguem entender como mesmo sendo filha de um pai de caráter duvidoso e uma mãe prepotente e arrogante, ela conseguiu se manter com bom caráter. 

Para muitos, a influência da tia Malu fez a diferença, pois Alice cresceu sem o pai, convivendo com outros membros da família de sua mãe. 

Alice também vem se afastando mais de sua mãe. Sendo alvo de disputa agora entre seu pai Horácio e sua mãe Wéllia, Alice parece não se interessar em ficar com nenhum deles. 

Certo dia, Alice estava na lanchonete de Quitéria, quando esta disse:

- Admiro tu, você é muito diferente de sua mãe. 

- Verdade, detesto a prepotência dela, a forma que ela trata os pobres, e até essas coisas nojentas que ela faz... oxe. E a forma como ela me trata, também...

- Como assim?

- Ela quer controlar minha vida, o que eu visto, o que eu faço, quer proibir que eu tenha amigos pobres, ela queria que eu fosse igual a ela. Olha, saiu essa história aí, vazou os hábitos nojentos dela, né? Tu acredita que um dia eu estava com dor de barriga, ela até disse que eu devia deixar de ser besta e fazer cocô nas calças feito ela? 

- Oxeeee essa tua mãe Wéllia não é normal, só pode. Ela foi quem colocou na cabeça de minha irmã Cássia fazer isso, também, mas felizmente, ela já abandonou esses hábitos nojentos, embora ela ainda goste de se sujar de lama. Mas isso é menos mal. 

- Eu a amo muito.... mas fico muito triste com essas atitudes dela. 

Quitéria disse:

- Horácio e Wéllia brigam por você. Com quem você vai querer ficar?

- Quer que eu seja sincera? Nenhum dos dois. Eu amaria ficar com a tia Malu. Ela, sim, é uma mãe pra mim, se preocupa comigo, me ama, quer o meu bem. 

- Maria Luísa realmente é um amor, muito diferente da Wéllia. E essa Capitu, que descobriram recentemente?

Alice disse:

- É uma longa história, Capitu foi jogada no lixo pela minha avó e cresceu longe daqui com família pobre, coitada, ficou doida, também, vivia pelas ruas... mas Valdenes me contou que agora ela tá no albergue. Fizeram um albergue aí para uns mendigos, e alguns foram. Mas a tia Rita de Cássia não foi, não, ela quer continuar morando na rua. 

- É isso eu sei, Rita já passou aqui e já me disse que não quer viver mais debaixo de teto nunca mais na vida dela. Parece que o trauma que Wéllia fez nela não foi pequeno...

- Verdade... 

Alice lanchou e depois, se despediu e foi embora. 
 

A triste vida de Valdinha


Homenageada dando seu nome ao recente albergue construído pela Prefeitura em Lagoa da Italianinha, Valdinha vivia nas ruas de Vila Dourada, ao lado de sua filha Rayane, por volta dos anos 30 e 40. Nascida em 1881, Valdinha chegou a frequentar a alta sociedade, mas por volta dos anos 20, acabou caindo na pobreza absoluta. 

Costumava pedir esmolas na porta da igreja e na rua central em Vila Dourada. Sua filha Rayane não queria sair de perto de sua mãe. Valdinha era bastante suja, usava um vestido verde e vivia descalça. Quem lhe dava comidas algumas vezes era Janaína, que vendia comidas nas ruas da cidade. 

Valdinha era odiada pela ricaça Lady Andréia, que também era beata e vivia infernizando a moradora de rua. Em meados dos anos 40, já com vinte anos morando nas ruas, Valdinha entrou em profunda depressão, e se entregou de vez. Ela recusava ajuda por que "dizia estar pagando pecados que cometeu no passado" e "merecia este destino". No ano de 1946, Valdinha tinha 65 anos e estava muito doente e sem cuidados. 

Rayane só saiu das ruas quando ficou sozinha. E Lady Andréia, que tanto humilhava Valdinha, acabou virando mendiga anos depois. 

A título de curiosidade, a neta de Rayane, Patrícia, também vive nas ruas atualmente, em Lagoa da Italianinha. Já cinquentona e corcunda, Patrícia nem quis ir para o albergue que leva o nome de sua bisavó. 

De mendigo a secretário

 

Há apenas dois anos tendo saído das ruas de Lagoa da Italianinha, a vida de Valdenes deu um grande salto nesse período. De mendigo, agora vai ser secretário de Turismo na cidade, escolhido pela prefeita Myllena. Alguns questionam se ele terá capacidade para tocar tal secretaria adiante. 

Nas horas que não estiver na secretaria, estará ajudando a juíza Suely em seu escritório, como já vem fazendo há alguns dias. Tornou-se um ajudante de confiança da juíza e virou amigo também da filha dela, a vereadora eleita Sara. 

Desde que ele saiu das ruas e foi morar no conjunto Bella Ciao, ele começou a se destacar. No prédio, ele assumiu uma postura de síndico, ou seja, exerce uma certa liderança por ali. Vale ressaltar que quando vivia na ruas, Valdenes gostava de ler, e por isso, ele não foi vencido pelo analfabetismo. Até o poder de convencimento dele surpreende: ele teria convencido a ex-mendiga Flaviana a também adotar o hábito de tomar banho de roupa. 

Disputou até mesmo uma eleição, sendo candidato a vice-prefeito na chapa de Eraldo. A chapa ficou incrivelmente em terceiro lugar, atrás apenas da reeleita Myllena e sua filha Giovanna e da chapa que ficou em segundo lugar, representado pela candidata a prefeita Mimi e a vereadora Kátia. 

Valdenes ainda descobriu ser primo de Kátia, a vereadora que vai também assumir uma secretaria: a de Ação Social, sendo portanto neto de Antônio Neto, o ex-pracinha que lutou na Segunda Guerra Mundial. 

Mas para muitos, chama a atenção que essa pequena ascensão não subiu à cabeça de Valdenes: ele permanece simples, com alguns hábitos que ele tinha quando vivia nas ruas. Hoje, vive com roupa social, mas sempre andando descalço, até mesmo no trabalho e pelas ruas. Apenas quando vai tomar banho é visto de sapatos. 

Inclusive, Valdenes quer que trabalhe com ele na secretaria a hippie Edneide, sua amiga próxima. Conta-se que quando estava para sair das ruas, Valdenes disse que queria continuar andando descalço para todos os lugares, que queria continuar se banhando de roupa e tudo, mas tinha medo de críticas, e Edneide foi uma das que incentivou que ele não mudasse seu jeito de ser. 

Até mesmo a vida amorosa dele foi movimentada: apaixonado por Wéllia no passado - mas sem ser correspondido e odiado por ela -, acabou se envolvendo com Josiane por um tempo, mas foi proibido pelo fato do pai dela, o deputado estadual Moab, proibir o romance. Hoje, namora Aline Débora. Por fim, Valdenes acabou de ser eleito presidente da Sociedade dos Pés Livres - que reúne os descalços da cidade -, com apoio de Myllena, e também virou sócio em um clube de lazer liderado por Josenilda, onde se pode entrar na piscina com roupa e tudo, do jeito que ele gosta, e até vive alguns momentos de relaxamento antes de pegar no batente e levar pressão que a secretaria de Turismo vai lhe exigir. 

domingo, 29 de dezembro de 2024

A loucura de Andreza


Morando nas ruas há cerca de oito anos, Andreza segue na sua situação caótica. A ex-modelo que causou suspiros em muitos homens pela sua beleza de índia quando desfilava nas passarelas de Caruaru na sua adolescência e parte da idade adulta deu lugar à uma mulher marcada pelo ódio e para muitos, pela falta de amor próprio. 

Nesses oito anos, Andreza se recusou por duas vezes de sair das ruas: uma em 2022, quando alguns mendigos foram morar em conjuntos residenciais, e outra em 2024 quando se recusou a ir para um albergue municipal. 

Com poucos dentes na boca, um mau hálito que chega até longe, cheiro forte de urina - ela sempre faz xixi nas calças - e com um forte odor nas axilas, Andreza acaba afastando e espantando muitos amigos, até mesmo os de rua. Ela, embora ocasionalmente tome banho no chafariz da praça com roupa e tudo, ela também segue sendo muito suja. Sem contar que ela fuma e bebe excessivamente. Sua aparência atual em nada lembra os seus áureos tempos de modelo: cheia de rugas, cabelos brancos, desdentada e deixou-se ficar bastante feia, tendo ainda, apesar de ter 46 anos, uma aparência de já ter passado dos 60.

Apesar de odiar andar descalça, Andreza é vista quase sempre andando descalça pelas ruas, só umas vezes ou outras, usa sapatos velhos. Devido a isso tudo, Andreza se tornou motivo de chacota especialmente para sua irmã Carla e para seu ex-noivo Hamilton, responsáveis por tirar tudo que ela tinha e jogá-la nas ruas. 

Andreza também anda incomodada com o fato do mendigo Guilherme estar apaixonado por ela, pois ela não quer mais casamentos e nem deseja mais constituir família. Definitivamente, Andreza se entregou à solidão, ao vício e ao ódio. Andreza nutre ódio contra Carla e Hamilton, chegando ao ponto de desejar-lhes o mal. 

Para muitos, Andreza não é uma má pessoa, senão com ela mesma. Outros acreditam que essas atitudes são frutos de um transtorno mental, uma loucura que Andreza adquiriu por ter perdido tudo - tipo aconteceu com Cássia e Rafinha. Andreza diz ainda que quer ser "feia e fedida" para "afastar os cafajestes". E assim, segue solitária a ex-modelo em uma situação deplorável. 

sábado, 28 de dezembro de 2024

O desafio de Kátia


Prestes a assumir a secretaria de Ação Social na segunda gestão de Myllena, a vereadora Kátia anda preocupada com a questão do novo albergue que foi aberto em Lagoa da Italianinha, o Albergue Dona Valdinha. Embora tenha capacidade para receber quase todos os 50 mendigos que vivem pelas ruas de Lagoa da Italianinha, apenas sete foram para lá até agora: Suzy, Iago, Capitu, Alana, Dardina, Laísa e William. 

Alguns não deram resposta, mas outros já se recusaram a ir para o albergue. Alguns deles se recusaram a sair das ruas pela segunda vez desde 2022, quando alguns foram morar nos prédios Luar do Sertão e Bella Ciao. Quanto aos que não querem saber de viver debaixo de um teto, o que se sabe é que Renata, Gílson, Deza, Lúcio, Esvalda e Jéssica detestam tomar banho e querem viver sujos; Rita de Cássia, por sua vez, mora nas ruas há pouco tempo e quer continuar no relento; Patrícia se recusou a ir, mesmo já sendo da terceira idade porque segundo ela, "ela já se acostumou e não se vê debaixo de um teto". Já Andreza também se negou a sair das ruas, pelo mesmo motivo de Patrícia, e Guilherme deseja acompanhá-la; Fábia não pensa em viver debaixo de um teto, também. Warlla, que já foi rica, e se veste como madame, quer ficar nas ruas porque "prefere assim do que viver de favor ou pagar aluguel". Lua, sua aliada, não aceita ir para um abrigo "porque não gosta de muvuca". Fabiana, a venezuelana, e seus filhos Eduardo Felipe, Emerson Isaías e Everton Samuel não quiseram ir para nenhum abrigo porque segundo ela, o histórico dela em abrigos não é nada bom. 

Ainda tem Silvana, que não aceita sair das ruas e chamou até de "fraco" quem foi pro albergue, além das irmãs Hyasmin e Gabriella, que quer ficar nas ruas por "missão". Cristã, Gabriella acredita que perdeu tudo por permissão divina e acha que seu lugar é no relento por ter o maior número de sofridos. Já Solange e Juliana alegaram querer ficar nas ruas por se sentirem mais "livres", sem amarras. Outros ainda não deram respostas. Kell também se negou a ir para o abrigo por "causa dos animais". 

Kátia pretende, assim que tomar posse na Secretaria, tentar convencer os outros mendigos que ainda não deram resposta. Ela não pretende obrigá-los a ir para abrigo algum, mas apenas convencer dos benefícios. Entre eles estão Maria, Plácido, Priscila, Uleuda, Eric, Madame Anne, Gigi, Sandra, Moninha, José Felipe, Ruivinha, Lorena, Eduarda, Ítalo, Edna e Vida. 


Grupos excêntricos em Lagoa da Italianinha

 

Completando 61 anos de emancipação política, Lagoa da Italianinha, encravada em pleno agreste de Pernambuco, caracterizada por ter sido fundada por italianos e ter presenças alemã, portuguesa e sueca, ganhou ares de uma cidade um tanto excêntrica, com a presença de uns grupos que adotam hábitos diferentes a maioria inclusive de seus próprios habitantes. 

Foi aberto recentemente pela Josenilda um clube de lazer, onde se é permitido se banhar com roupa e tudo, algo que não somente ela, como alguns da cidade fazem: as irmãs Josiane e Danúzia, Valdenes, Wêdja, Josy, Marlene, Valéria, Samuel, Andy, Cássia, entre outros. O clube ganhou uma adesão de sócios, até mesmo de bairros carentes, como a Santa, que vive no Alto do Cruzeiro. 

Há também uma intenção de se reunir um grupo de mulheres que são carecas por opção, ideia essa que partiu de Sara, vereadora eleita. Ela e sua mãe, a juíza Suely, são carecas por escolha, e inspiradas nelas, algumas outras mulheres renunciaram aos cabelos, como por exemplo, a atual vereadora Maria Isabel, a Monalisa e a ex-candidata a prefeita Mimi. 

Mas o maior grupo na cidade é o de "descalços", aqueles que não usam calçados nem mesmo quando vão trabalhar. A prefeita Myllena, a bióloga Kinha, a vereadora Vanessa e a Gilvânia, por exemplo, têm esse hábito e não possuem um par de calçados sequer. Há aqueles que andam descalços frequentemente, a maioria do tempo, até na rua e no trabalho, mas não sempre, como Valdenes e a Ana Karina, por exemplo. Foi até criada uma sociedade para eles, chamada de Sociedade dos Pés Livres, que por questões políticas, ganhou uma dissidência, fundada por Vanessa, chamada de Sociedade dos Penudos - o nome vindo de "pé nu". 

Lá em Vila Dourada, cidade vizinha e meio rival, se comenta que "Lagoa da Italianinha é a cidade dos malucos", sendo considerada a "capital dos excêntricos". 

Andreza aconselha Guilherme a ir para o albergue


 Mesmo batendo o pé dizendo que não sai das ruas, Andreza não pensa o mesmo em relação ao seu amigo Guilherme. Andreza o tem como um irmão, mas ela sabe que ele não sai das ruas porque está apaixonado por ela. Andreza, certa tarde, estava na praça, e disse para Guilherme:

- Parceiro, quero conversar uma coisa séria contigo. 

- Diz. 

- Tu devia ir pra esse albergue novo que fizeram. 

Guilherme tomou um susto, e disse:

- Oxe, que bestagem é essa?

- Pensa comigo, teu irmão Valdenes saiu das ruas, tá morando lá nos prédios, ele fica fazendo de tudo pra tu também sair. Guilherme, pelo menos vá pro albergue. 

- Mas Andreza, tu nem quer ir pra lá, tu quer ficar nas ruas. 

- Claro, mas isso é decisão minha, eu gosto de ser de rua, mesmo, sou livre, leve e solta. Mas tu parece que sofre muito nas ruas, e eu quero teu bem, amigo. Tu podia ir pro albergue. 

- Quero ficar junto de tu!

Andreza disse:

- Olha, parceiro, tu não vai ficar longe de mim, o albergue é aqui perto, a gente pode passar o dia juntos, não se apoquente com isso. Mas tu deixar de ter abrigo por minha causa, não. E outra. Eu te enxergo como um irmão, mas tu é apaixonado por mim. Garanto que não é que você não mereça, mas eu não quero nada com ninguém, eu quero passar o resto da minha vida nas ruas, sozinha, solteira e solta. 

- Não é justo, Andreza!

- Não é justo é tu ficar se sacrificando por mim. Olha.... tu merece uma mulher muito melhor que eu. Eu sou suja, feia, eu tenho mau cheiro de suvaco, mau hálito, tenho poucos dentes, catinga de urina, além do mais, eu fumo e bebo muito. Não sou a melhor pessoa pra tu, parceiro. 

- Mas... tu não me quer junto de você?

- Seu besta, se tu for pro albergue, só não vamos dormir perto um do outro, mas podemos passar o dia juntos. Eu quero, sim. Mas eu quero que tu fique nas ruas se for o seu desejo, não por causa de mim ou qualquer outra pessoa. 

- Bem, não sei...

- Pense direitinho, tá? 

Laísa vai para o albergue

 

Diferente de sua irmã Juliana, que preferiu ficar dormindo nas ruas, a Laísa decidiu ir para o albergue. A mendiga tomou a decisão depois que Dardina, com quem gosta de dar alguns golpes, decidiu ir para lá. Laísa chegou por lá, já cadastrada, e passou a dividir o quarto com outras andarilhas, a exemplo de Dardina, Suzy, Alana e Capitu.

Apesar de serem irmãs, Juliana e Laísa não se dão muito bem, e costumam ter brigas constantes. Até nesse ponto, as duas pensaram diferente: Juliana se recusou a ir para um albergue e preferiu ficar morando nas ruas, sem teto. Mas Laísa decidiu seguir outro rumo. 

Com a chegada de Laísa, o albergue vai aumentando aos poucos de moradores, sendo que agora, dos mendigos, sete já estão lá, com promessa de mais irem também. 

Vanessa, a descalça convicta


A vereadora Vanessa, que agora brigou com a prefeita Myllena e saindo da Sociedade dos Pés Livres - que reúne os descalços da cidade -, fundou a Sociedade dos Penudos, para concorrer com a outra. Vanessa se considera uma descalça autêntica, e mais apta a lutar pela causa. 

Nascida de família de índios, Vanessa, desde pequena, nunca gostou de usar calçados. Enquanto suas irmãs Milady, Valéria, Bruna e Rafinha compravam sapatos novos o tempo inteiro, Vanessa os rejeitava. Diferente do que aconteceu com a prefeita Myllena, Vanessa foi criada na zona urbana e enfrentava o pai, que queria que a filha "não andasse descalça feito maloqueira". A mãe era quem segurava a barra. 

Curiosamente, com o passar dos anos, Vanessa conseguiu fazer sua irmã Bruna também gostar de andar descalça. O tempo passou, e Milady foi morar na Alemanha, Valéria virou aeromoça, casou e teve um filho, e Rafinha enlouqueceu. 

Já aos 18 anos, começou na fotografia porque costumava antes tirar foto de pessoas descalças, a quem ela dizia:

- Essas são das minhas. 

Mas Vanessa acabou se enveredando pelo lado da política: ela começou a fotografar descasos administrativos, o que quase custou sua vida, inclusive. Ela já apoiou Moab, depois, Sandra Valéria, e por fim, Myllena, com quem acabou de romper. Vanessa conseguiu ser eleita vereadora em 2020 e foi reeleita agora em 2024. 

Apesar de sua inimizade com Myllena, Vanessa deve à ela algo inusitado: o fato dela poder ir para as sessões descalça se deve a um projeto de lei da própria Myllena - também descalça - que foi aprovado quando ela foi vereadora a primeira vez, em 2005. Antes, era terminantemente proibido. 

A má influência de Wéllia

 

Depois que estourou na cidade de Lagoa da Italianinha algumas histórias chocantes envolvendo a conduta de Wéllia quando à sua higiene pessoal, ela começou a ser um pouco rejeitada entre as madames da alta sociedade. A publicitária confessou que faz necessidades nas calças e se suja na lama, além de também tomar banho de roupa e tudo - este último também chocou porque Wéllia costuma chamar de "matuto" quem toma banho de roupa, sendo que ela própria pratica tal hábito. 

O curioso é que Wéllia também foi uma influência para alguns. Rita de Cássia, sua prima, passou a também defecar e urinar nas calças por influência dela. Depois que foi morar nas ruas, Rita ficou ainda mais adepta desse costume. 

Cássia, a outra prima distante, também tinha esse mesmo hábito. Ela, que sofre de esquizofrenia, tinha o hábito de defecar e urinar nas calças desde que Wéllia a ensinou. Mas Cássia abandonou esse hábito depois dos conselhos de sua irmã Lúcia. Cássia também passou a se sujar na lama, mas esse ela não abandonou até hoje. 

As mendigas Deza e Esvalda, que também fazem isso, chamam Wéllia de "colega". Certa tarde, elas passaram por Wéllia, e Esvalda disse:

- E aí, colega? Ficamos felizes em saber que não é só nós pobres que cagamos e mijamos nas calças, não... uma rica madame fina também...

- Vão pro inferno! - disse Wéllia. 

- Calma, a gente tá te elogiando - disse Deza. 

Num certo dia, Wéllia estava pra sair de casa, quando sua filha Alice disse:

- Mãe, posso falar com a senhora?

- Fale. 

- Olha, a senhora poderia parar com isso... sabe, a cidade toda já sabe que a senhora...er... faz xixi e cocô nas calças. Meu pai espalhou isso, e a senhora já tá falada. Eu acho que a senhora poderia abandonar...

Wéllia interrompeu:

- Nunca!!!! Eu faço isso desde que eu era adolescente, mas ninguém sabia. Mas agora que já sabem, vou continuar fazendo. E tu devia fazer o mesmo, Alice!

- Oxe, tá louca? Sou nojenta, não. Eu posso até rolar na lama, mas cagar e mijar nas calças, nunca. 

- Uma pena, filha... mas olha. Eu faço isso e isso não tira minha elegância. Mesmo assim, sou uma madame linda e poderosa. Tenho amigas da alta sociedade que continuam minhas amigas. Então, não tenho porque mudar. Agora, com licença, que eu preciso trabalhar. 

Wéllia se retirou, e Alice pensava consigo:

- Mãe não é normal, não é possível. 

Alexsandra no chafariz de Vila Dourada

 

Num sábado pela manhã, a camponesa Alexsandra, que vinha do sítio Facheiro, estava em Vila Dourada, caminhando pela rua. De vestido branco e descalça, ela perambulava pelo centro da cidade. Até que ao passar pela fonte na praça principal, Alexsandra não parava de olhar a fonte. Foi quando ela entrou ali e começou a tomar banho no chafariz. 

Alguns a olhavam, com certa repulsa, chamando-a de "louca". Diferente da vizinha Lagoa da Italianinha, essa cena não era muito comum de ver por ali. De repente, chegaram dois policiais, que ao verem Alexandra ali, disse:

- Moça, não pode tomar banho aí no chafariz. 

- Mas... senti calor e não resisti, entrei pra me divertir...

- Sim, mas não pode. 

Alexsandra, meio desolada, saiu do chafariz. Ela acabou indo para a feira onde iria fazer as compras de vestido molhado, e alguns a olhavam de forma estranha. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A vida de Alessandra antes da política

Em 1917, com apenas 20 anos de idade, a bela jovem Alessandra, alemã filha de indianos, levava uma vida pacata, morando em Berlim, capital da Alemanha. Mesmo com seu país envolvido na Primeira Guerra Mundial, Alessandra gostava de sair com amigos. Ela não pensava em casamento, embora atraísse o interesse de alguns berlinenses. 

Sua melhor amiga Inalda, que crescera com ela, havia se mudado para o Brasil dois anos antes. Danielly, a cantora prima de Inalda, não era muito ligada à Alessandra. Assim, ela praticamente teve que buscar outros amigos. 

Alessandra, porém, começou a ter sua vida mudada quando começou a estudar os livros de Karl Marx e Frederich Engels. Soube da Revolução Russa que havia acontecido, e começou a se inclinar para o comunismo. 

Alessandra ainda criou uma forte admiração por Rosa Luxemburgo, líder comunista alemã. Em 1919, Alessandra não era mais a jovem pacata e estava no meio do Levante Espartaquista, que sonhava em instalar na Alemanha um comunismo nos moldes da Rússia. Alessandra chegou a ser ferida durante uma briga, mas escapou ilesa. Pouco depois, ela soube do assassinato de Rosa Luxemburgo. 

A partir daí, a vida de Alessandra não seria mais a mesma. Militante política, enfrentou os grupos de extrema-direita, que viriam a governar o país nos anos 30. Chegou a ser perseguida cruelmente. Escapando para a Polônia, acabou capturada lá quando o país foi invadido pela Alemanha, e ficou seis anos em um campo de concentração. Depois que sobreviveu, se mudou para o Brasil, mais precisamente, Maceió, onde viveu o resto de sua vida. 

Lagoa da Italianinha faz aniversário


O dia 27 de Dezembro foi feriado em Lagoa da Italianinha, uma vez que a cidade fez 61 anos de existência. A prefeita Myllena, a presidente da Câmara Karoline, o deputado federal Arinaldo e a deputada estadual Janayna, em cerimônia na Praça 27 de Dezembro, hastearam as quatro bandeiras que ali ficavam. Myllena hasteou a bandeira de Lagoa da Italianinha, Karoline de Pernambuco, Arinaldo do Brasil, e Janayna, da Itália, a terra natal dos fundadores. 

Várias pessoas estavam ali na festa. A prefeita descalça fez um discurso inflamado, exaltando o desenvolvimento da cidade. 

Um bolo de 61 metros foi servido, e alguns mendigos que ali estavam, como Rita de Cássia, Patrícia, Guilherme, Andreza, Gílson, Renata, Solange, Juliana, Fábia e Gabriella, começaram a disputar o bolo. 

Cássia estava ali com Lúcia, e disse:

- Eu quero levar bolo na cara...

- Oxe, tá doida?

- Claro, eu amo me lambuzar. Mas infelizmente, ninguém joga bolo em mim...

Quem ali estavam eram Eraldo e Valdenes, conversando com um ex-candidato a vereador. Eraldo disse:

- O senhor tem muito orgulho desta cidade?

- Bastante, meu caro Eraldo. Esta cidade tem o berço da luta, aqui, o filho da saudosa Francielly Villegagnon, humilhada lá em Vila Dourada, fez história. 

- Muito bom - disse Valdenes. 

De repente, o homem chamou seu neto:

- Diploma, venha aqui!

- Diploma????? - perguntou Eraldo. - esse é o nome dele????

- Não, não, o nome dele é Clóvis! 

Valdenes disse:

- E por que Diploma?

- Sabe o que é? É que minha filha foi estudar lá em Recife, numa universidade, e quando ela voltou, trouxe esse "diploma" aí! 

As mendigas Warlla e Lua estavam ali, e Warlla disse:

- Vê que coisa, eu sou uma mendiga, mas eu não tiro meus sapatos salto alto... a prefeita aí, rica, mas só vive descalça. 

- Nem gosto dessa prefeitinha... isso é outra - disse Lua. 

Myllena se aproximou delas e disse:

- Bom dia, tem bolo ali, querendo se servir, podem se servir...

- Obrigada, prefeita pé no chão... - disse Warlla. 

A juíza Suely e sua filha, a vereadora eleita Sara, estavam por lá. As duas, que são carecas, chamavam atenção. Suely foi cumprimentar sua irmã, a prefeita Myllena. Para alegria de muitos, as duas, que estavam meio brigadas, haviam se reconciliado. 

A festa continuou na praça por muitas horas. Ainda haveria um show pela noite. 

Dardina vai para o albergue


 A mendiga Dardina foi mais uma em Lagoa da Italianinha que foi pro novo albergue construído pela prefeitura. A golpista via isso como uma forma de ter um abrigo para escapar de possíveis vítimas de seus golpes. 

Ao chegar no albergue, Dardina se aliou logo com Iago, também acostumado a práticas ilícitas. Dardina ainda arrumou confusão com Suzy, Alana, Capitu e William, tendo logo inimigas. Como os quartos eram separadas de homens e de mulheres, Dardina foi para o mesmo quarto que Suzy, Alana e Capitu, e Dardina insistia em infernizá-las. 

A responsável pelo albergue disse para Dardina:

- Não arrume confusão aqui, aqui tem regras!

- Oxe, maluco, seguir regra não é muito comigo, não. 

- Ou segue, ou volta pra rua!

Como Dardina não queria voltar a dormir nas ruas, teve que se adaptar. Mas não desistia de aprontar. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Última reunião da Câmara de 2024

 

Na Câmara de Vereadores de Lagoa da Italianinha, a vereadora Karoline conduziu sua última sessão como presidente da Câmara. Tratava-se de um projeto da prefeita Myllena, que foi aprovado, inclusive com votos da oposição. Karoline realizou a última sessão, ao lado da primeira-secretária Kátia, do segundo-secretário Diego e dos demais vereadores Josimar, Flávia Andréia, Goy, Ari, Wilon, Kauan, Fagner, Mauricélia, Vanessa, Maria Isabel, Alba Valéria e Marco Aurélio. 

O clima foi de despedida para Karoline, Kátia, Diego, Flávia Andréia, Kauan e Maria Isabel. Karoline optou por não disputar a reeleição, Kátia foi candidata a vice-prefeita e os demais não foram reeleitos. Mas cinco deles irão fazer parte da gestão da prefeita Myllena a partir da janeiro. Karoline será secretária de Finanças, Kátia de Ação Social, Diego no jurídico, Flávia Andréia de Infraestrutura e Maria Isabel, da Mulher. Kauan não fará parte da gestão e continuará na oposição. 

A partir de janeiro, a cidade ganha mais dois vereadores, passando de 15 para 17, e além dos que vão continuar - Josimar, Goy, Wilon, Fagner, Mauricélia, Ari,Vanessa, Alba Valéria e Marco Aurélio -, vão entrar oito novatos: Flávia, Sara, Nikolle, Jane, Taciana, Cíntia, Quitéria e Cileide. 

Na eleição para presidente da Câmara, Alba Valéria será mesmo a presidente, Ari o primeiro secretário e Taciana a segunda secretária, num acordo entre Governo e Oposição. Com o recente rompimento de Vanessa com a gestão de Myllena, cogitou-se um bate chapa ou uma possibilidade dela se abster do voto. Mas Vanessa confirmou que votará em Alba Valéria: "Meu problema não é com ela, é com a prefeita!", disse. 

Na composição de bancadas, Alba Valéria, Ari, Josimar, Goy, Wilon, Fagner, Mauricélia, Flávia, Sara, Nikolle, Jane, Quitéria e Cileide serão da bancada da Situação, enquanto Marco Aurélio, Cíntia, Taciana e Vanessa serão da bancada da Oposição. 

A polêmica lenda do voo de Tia Sandra

 

A história contada em Lagoa da Italianinha, no agreste de Pernambuco, que a italiana Tia Sandra tinha voado para o céu em 1961 não é acreditada por muitas pessoas. Tia Sandra tinha a mente de criança e não largava seu ursinho de pelúcia e sua boneca de pano que carregava desde criança. Ela já tinha 70 anos, e quando o fato ocorreu, estavam Lanie, sua sobrinha, ao lado de seu marido Jadiael e os filhos - já adultos - Alycia e Arthur, a família de imigrantes italianos.  

Na época do fato, Lagoa da Italianinha ainda era a Vila Maniçoba, que era distrito de Vila Dourada, de quem se emanciparia dois anos depois, em 1963. 

Atualmente, Alycia, que já tem 94 anos e atualmente mora em Verona, sustenta a versão de seus pais e seu irmão, e diz que viu sim, sua tia-avó Sandra voando em direção ao sol. 

Algumas pessoas tentam desacreditar dessa história, sendo que alguns alegam que ela na verdade voltou para a Itália, e ainda chegou a passar dos 100 anos, vivendo até a década de 90. Outros dizem que ela ficou escondida na fazenda por muitos anos. Alguns chegam a dizer que ela ainda vive, e já tem 133 anos. 

Esse é um dos maiores mistérios e lendas da história de Lagoa da Italianinha. 

Solange vira amiga da mendiga venezuelana Fabiana


 A moradora de rua Solange, certa noite, passava pelo terminal de ônibus em Lagoa da Italianinha - onde ficava a antiga rodoviária -, e ao ver a mendiga venezuelana Fabiana, se sentou e puxou conversa, dizendo:

- Cadê teus filhos?

- Por aí... - disse Fabiana, já quase aprendendo a falar português. 

- Eu pensei que eles tinham ido para um albergue...

- Non, não, non deixei eles irem, eu também não irei...

Solange disse:

- Eu também, não. O albergue é cheio de regras. Prefiro ficar onde estou mesmo. 

- Tá certo...

Solange disse:

- Olha, eu sei que tu é da Venezuela, viesse de lá, olha, saiba que tu não tá sem amiga, não, e quero ser sua amiga, tá?

- Obri...gada. - disse Fabiana, se esforçando para falar português. 

- De nada, tu se chama como?

- Fabiana... e tu nombre? 

- Solange. 

A partir daquela noite, Solange e Fabiana passaram a ser amigas. Elas foram lanchar juntas na barraca de Josinete. 

William é levado para o albergue

 

O menino de rua William, que é órfão de pai e mãe, foi convencido por sua amiga Hadassa para sair das ruas e ir para o Albergue Dona Valdinha, recém-aberto pela Prefeitura. 

Chegando lá, o menino foi bem recebido pelos que cuidam do local, tomando um bom banho e recebendo ótima alimentação. Suzy, que também veio das ruas, ficou encantada com o menino, e praticamente adotou como seu filho. 

Os administradores do albergue anunciaram que mais moradores de rua iriam para lá nesses dias, valendo ressaltar que alguns deles se interessaram em saber como funciona o local e as regras. 

Quando viu que seu amiguinho William foi aceito no albergue, Hadassa estava extremamente feliz, e contou ao seu pai Esdras, que também ficou radiante. 

Vanessa funda a Sociedade dos Penudos

 

Após ter perdido para o Valdenes na disputa pela presidência da Sociedade dos Pés Livres, que reúne os descalços de Lagoa da Italianinha, a vereadora Vanessa logo fundou a "Sociedade dos Penudos" (nome advindo de pés nus), e levou consigo os cinco que votaram nela: Branco, Karla Patrícia, Izabel, Marília do Acordeon e Sílvia. Vanessa manteve a mesma mesa diretora da sociedade da qual saiu, sendo ela presidente, Branco vice e Karla Patrícia tesoureira. 

Em seu discurso de fundação, Vanessa diz que fundou a nova sociedade, "uma verdadeira sociedade para os descalços, pois a outra virou política", além de acusar Myllena de promover uma manobra política para tirá-la de lá. Apesar de dizer não ter nada contra Valdenes, Vanessa diz que a Sociedade dos Pés Livres virou uma propriedade particular da prefeita Myllena. 

Izabel produziu a ata de fundação da sociedade, e todos assinaram. Vanessa disse:

- Nossa sociedade é pequena, temos apenas 6, enquanto 12 ficaram lá. Eles são mais fortes que nós, mas vamos dar a volta por cima e crescer mais que eles. 

Sara espanta as mendigas Warlla e Lua da frente de sua loja


Numa certa noite, a jovem Sara ainda não havia fechado sua loja de roupas. Ela, que foi eleita vereadora, anda procurando uma pessoa para ser gerente em sua loja, tanto em Lagoa da Italianinha como no Rio de Janeiro. Ela estava sozinha, quando um homem, que era o dono da loja vizinha entrou, dizendo:

- Dona Sara Jéssica, com licença. 

- Pois não?

O homem disse:

- Olhe, tome cuidado, porque tem duas mulheres ali sentadas na outra calçada, e eu percebi que elas estão olhando muito pra sua loja. Uma está vestida como madame, a outra parece uma gótica, mas elas vivem nas ruas, elas são conhecidas. 

- Pode deixar, não se preocupe.

Enquanto isso, elas olhavam a loja de Sara. A mendiga "chique" Warlla e a mendiga gótica Lua estavam planejando algo. Warlla disse:

- Essa loja dessa carecona tá pra nós, viu? 

- Também, uma mulher careca... será que ela tá doente? 

- Não, eu a conheço. Ela é careca por que quer, Lua. Vontade dela. 

- Então, deve estar doente, sim, de loucura. 

De repente, elas perceberam que Sara vinha em direção delas, e Warlla disse:

- Disfarça, disfarça...

Sara disse:

- Posso ajudar as senhoras em alguma coisa? 

- Nada, a gente só está passando por aqui... - disse Warlla. 

- Olha, me avisaram que vocês duas estão olhando muito para minha loja. Por que?

Lua disse:

- Oxe, dona, as roupas são bonitas, só isso. 

- Sei... olhem, eu recomendo que tomem cuidado se for assaltar, sabe como é... tem câmeras de segurança, e sou vereadora eleita e filha de juíza, sabe? Quem fizer o mal pra mim pode pagar um preço muito caro. 

Warlla disse:

- Que é isso, dona? Não passou pela nossa cabeça assaltar ninguém. Vamos embora, Lua. E quer um conselho, dona? Deixa teu cabelo crescer, tá esquisita assim careca... a Lua pensou até que tu tava doente. 

- Se eu sou careca ou não, isso não é assunto de vocês. Vão circulando as duas! 

Lua disse:

- Vixe, ela tem linguagem de poliça, vamo embora, Warlla. 

- Vamos, sim. 

As duas mendigas se afastaram, e Sara, perto do seu vizinho de loja, fechou as portas do seu estabelecimento. 


Sociedade dos Pés Livres sofre divisão por questões políticas

 

A Sociedade dos Pés Livres, fundada em 2023 em Lagoa da Italianinha, que reúne as pessoas descalças, andou vivendo dias turbulentos, principalmente por conta da briga entre a prefeita Myllena e a vereadora Vanessa, duas descalças convictas. Vanessa é presidente da Sociedade, e pensa em desfiliar Myllena da organização. 

A diretoria atual é composta por Vanessa, como presidente, Branco, como vice, e Karla Patrícia, como tesoureira. Outros que participam são Myllena, Valdenes, Izabel, Marília do Acordeon, Kleyze, Karine, Andréa Descalça, Faby Pés Sujos, Janielle, Greta, Sandrinha, Claudinês e Leila. 

Mas o pior da briga aconteceu porque a sobrinha de Myllena, a bióloga Kinha, também demonstra interesse em participar do grupo, pois ela também anda sempre descalça, como a tia, mas Vanessa barra a entrada de Kinha. 

Vanessa é acusada de ditadora, mas se defende, alegando que Myllena quer mandar na sociedade dos descalços e também tem barrado a entrada de Sílvia, a sobrinha da deputada Sandra Valéria, inimiga de Myllena. 

Os descalços foram convocados para uma espécie de assembleia, para definir os rumos da organização. Até mesmo Kinha e Sílvia marcaram presença. Myllena fez a proposta pela entrada de Kinha, e tentou pacificar o ambiente, dizendo que aceitará Sílvia. 

Como não havia acordo, propuseram uma eleição. Esperaram cerca de uma hora, para conquistar apoios. Myllena conseguiu reunir uma boa parte do apoio para que sua sobrinha Kinha pudesse entrar na organização, inclusive como presidente. 

Vanessa rejeitou a candidatura de Kinha, pois ela nem era membro na organização. Houveram até mesmo troca de acusações entre Vanessa e Myllena. 

Submeteram aos presentes na reunião a entrada de Sílvia e Kinha, que foi aprovada pela maioria. Mas o regulamento da sociedade impedia que recém-filiados disputassem a presidência, podendo ocupar outros cargos na mesa diretora. 

Com isso, Myllena decidiu apoiar Valdenes para presidir a Sociedade dos Pés Livres, tendo como vice Kinha, e Sandrinha como tesoureira. Assim, foram mais duas horas para a busca de apoios, até a votação ser realizada. 

Findada a votação, Valdenes venceu, tendo os votos dele, Myllena, Kinha, Sandrinha, Claudinês, Andréa Descalça, Leila, Greta, Karine, Faby Pés Sujos, Janielle e Kleyze (12), contra Vanessa, que teve os votos dela, Branco, Karla Patrícia, Sílvia, Izabel, Marília do Acordeon  (06). Entretanto, Vanessa decidiu se desligar da sociedade, juntamente com os que votaram nela, para fundar uma outra sociedade voltada para os descalços: Sociedade dos Penudos (nome vindo de pés nus). Assim, a cidade agora teria duas sociedades para os descalços. 

Fábia, a mendiga repleta de perguntas sem resposta


Algo que chama a atenção nas ruas de Lagoa da Italianinha é a aparência da mendiga Fábia. Apesar de sua vida sofrida, andar maltrapilha, descabelada, suja e descalça, e até de chupeta na boca, Fábia surpreende pelo fato de ter uma aparência de adolescente, sendo que já passou dos 40 anos - alguns alegam que ela já tem 45 anos. 

Fábia não tem um fio de cabelo branco em sua cabeça, e alguns se surpreendem como ela, mesmo levando uma vida sofrida pelas ruas, pode estar assim. Alguns acreditam que ela vive nas ruas há apenas pouco tempo, o que é desmentido pelo depoimento de algumas pessoas. A mendiga Gabriella, que chegou em Lagoa da Italianinha por volta de 2017, já alega tê-la visto nas ruas já nesse período. 

Já Marlene, que morou nas ruas entre 2001 e 2008, diz ter conhecido Fábia já morando nas ruas mesmo. Cássia, a maluquinha, quando ela ainda era "normal" e sonhava em ser médica, havia acabado de chegar aos 18 anos em 2000 e já dava comidas para Fábia que já vivia nas ruas e era adulta. 

Alguns se assustam quando Fábia é colocada lado a lado com a mendiga Andreza, que tem 46 anos - apenas um ano a mais que Fábia. Alguns pensam que Fábia seria filha - e até neta - de Andreza, tamanha a disparidade: enquanto Fábia tem um rosto de adolescente, Andreza já tem aparência velha, com poucos dentes na boca, cheia de rugas e cabelos brancos por todo lado. A beleza de Fábia acaba contrastando com a feiura de Andreza. Ironia do destino, enquanto Fábia já vivia nas ruas no fim dos anos 90, Andreza era modelo, tida como exemplo de beleza em Caruaru. 

Talvez o fato de Fábia usar um chupeta na boca o tempo todo lhe empreste mais características infantis. Mas o mistério prevalece, pois a maioria dos mendigos têm sua vida conhecida, mas Fábia não. Muitas especulações são levantadas de como ela foi parar nas ruas. Alguns alegam que ela ficou sem família, teria enlouquecido e ficado desorientada. Outros acham que ela se perdeu da família e nem se lembra mais de onde vem. Outros alegam que Fábia tem problemas mentais, assim como Cássia. E até hoje não apareceu ninguém pra reivindicar parentesco com a mendiga. 

Andréa Descalça tenta convencer Guilherme a desistir de Andreza

 

Numa certa tarde, a ex-mendiga, conhecida por ser sedutora, Andréa Descalça, estava na lanchonete no mercado público, onde trabalhava, e viu ali o mendigo Guilherme. Ela o chamou e deu café a ele, dizendo:

- Me lembro que fomos de rua, eu era de rua, eu já saí das ruas, e tu vai sair quando?

- Enquanto Andreza continuar nas ruas, eu não saio das ruas. 

Andréa Descalça disse:

- Oxe, te toca, Guilherme. Aquela mulher já disse que não gosta de tu, a não ser como amigo. Olha, eu não tenho nada contra ela, mas ela não te ama. Tu fica se sacrificando dessa forma, teu irmão Valdenes, tua irmã Jad, já foram lá pros prédios e tu nas ruas por conta dela. 

- Eu amo a Andreza. 

Andréa Descalça disse:

- Andreza, coitada, veja ela, ela nem tem amor próprio. Toda suja, fede a urina, ela tem uma suvaqueira da gota serena, e ainda por cima, uma catinga de boca, não sei como tu ia aguentar beijá-la. Além do mais, coitada, tá velha e feia, dizem que ela já foi modelo, mas nem acredito... tão feinha, a pobre. 

- Andréa, não gostaria que você falasse assim de Andreza. Você não conhece a história dela pra falar essas coisas. 

- Tá bom, não tá mais aqui quem falou. 

Guilherme se retirou, e Andréa dizia:

- Se ele soubesse que tem alguém querendo casar com ele...

Ana Rowena inspira Vilma a ser racista

 

A malvada e cruel Ana Rowena, ser das trevas, anda fazendo suas caças e tentando levar o máximo de pessoas a serem destruídas junto com ela. 

Uma das irmãs do médico Vinícius, a Vilma, é uma mulher cruel e perversa. Ana Rowena colocou no coração de Vilma idéias racistas e anti-pobre. 

Numa certa tarde, Vilma estava em casa com seu pai, o ex-vereador Zé Bento, e ela disse:

- Hoje a gente almoçou naquela floricultura e não gostei daquela tal de Cileide lá, ainda por cima, fiquei sabendo que ela é vereadora. 

- Mas porque não gostasse dela? Ela é tão boa pessoa. 

- Oxe, pai, ela não é branca feito a gente, e...

Zé Bento interrompeu:

- Pode parar, não admito racismo na minha família!

- Não é racismo, é a verdade, pai. Nós somos superiores. 

Ana Rowena estava rindo da cena, e dizia:

- Muito bem, Vilma, continue assim, seja racista! Assim, nós queimaremos no fogo pra sempre!!!! Mais uma que vai padecer comigo!

Zé Bento disse:

- Escute, Vilma, se tu repetir isso de novo, você pode procurar outra casa pra morar. Não vou dividir o teto com uma racista! Tá avisada! 

Kell fica nas ruas por amor aos animais


 A mendiga Kell, em Lagoa da Italianinha, recebeu um convite para ir para um albergue, onde já estão Suzy, Iago, Alana e Capitu, além de outros, mas Kell resolveu recusar. Um motivo é o seu amor pelos animais: no albergue, é proibido qualquer pessoa possuir animal. 

Kell costuma fazer carinhos em animais de rua. Ela é solitária, sem família e vive pelas ruas há muito tempo, tendo passado por algumas cidades até chegar em Lagoa da Italianinha. 

Diferente de Silvana, que criticou quem foi pro albergue, Kell desejou felicidades aos que lá estão e até disse que incentivaria alguns amigos de rua a irem pro albergue. Mas ela decidiu não ir. 

Benjamim sofre boicotes em Nova Humaitá


Morando há algum tempo em Nova Humaitá, o jovem Benjamim ajudou na campanha de reeleição de José Rodrigues para prefeito, mas ele não anda tendo a compensação devida. Benjamim tenta um lugar na segunda gestão, principalmente após saber que o prefeito vai mudar parte da equipe. 

Mas Benjamim não encontrou espaço e anda muito incomodado com isso. Suas contas andam apertando, e ele já está sendo cobrado por sua noiva Rosângela, que mora em Lagoa da Italianinha, que fica muito longe. 

Mas dentro da gestão, alguns se incomodam com a presença do "forasteiro", pois eles acham que ele veio "tomar o lugar". Como ele é sozinho, sem família e sem proteção de político nenhum, Benjamim se encontra abandonado à própria sorte: para se ter uma ideia, ele está tentando alugar outro quartinho, mas está sem dinheiro para pagar fiança. 

Waldo cogita desistir de Margarete e dar uma chance a Karola

Há muito tempo sofrendo rejeição de Margarete, por quem é perdidamente apaixonado, Waldo anda cogitando desistir dela, e tentar a sorte com Karola, que não esconde seu amor pelo rapaz. Waldo é aconselhado pelos seus amigos Fritz, Égon e Félix a deixar Margarete de lado. 


Numa certa manhã em Berlim, Waldo deu ainda mais a entender que poderia realmente investir em Karola, quando estava em uma manhã tomando café e viu Karola cantando. A sua bela voz e sua performance encantaram o moço. 

Quando Karola ia saindo, Waldo a chamou:

- Por favor, venha tomar um café comigo. 

- Waldo, eu tô um pouco apressada, e...

- Não, por favor, só uns dois minutos. 

Karola aceitou, e Waldo disse:

- Além de muito bonita e inteligente, ainda tem uma bela voz...

- Obrigada, meu caro!

Apesar de ter prometido ficar apenas dois minutos, Karola acabou passando vinte minutos. Depois, ela se retirou, dizendo:

- Foi muito bom conversar com você. 

Karola saiu, e Waldo a olhava. Entretanto, havia um desafio para Waldo: apesar de Karola amá-lo de verdade, ela não queria ser enxergada como uma "segunda opção" ou "plano B" apenas para ele esquecer de Margarete. Daí a sua resistência inicial. 
 

Suely visita colégio de freiras

 



Numa certa manhã, a Irmã Alcinéia estava no Colégio Irmã Renata Augusta quando chegaram a juíza Suely e seu ajudante do escritório, o Valdenes. 

Irmã Alcinéia viu Suely e Valdenes, e mandou Suely entrar. Valdenes não entrou porque estava descalço, e isso contrariava as regras do colégio. 

Suely cumprimentou Irmã Alcinéia, que perguntou:

- Seu ajudante não entrou? 

- Não, ele está descalço. Eu mesma tive que colocar sapatos pra entrar...

- Bom, pode deixar ele entrar. Hoje nem tem movimento aqui mesmo...

Valdenes recebeu a permissão de entrar, e disse:

- Muito obrigado, irmã. 

Irmã Alcinéia conversou longamente com a juíza Suely. Em dado momento, Suely disse:

- Quando eu largar a carreira de juíza, pretendo seguir a carreira de cantora. 

- Já a vi cantando, você tem uma bela voz. E quando vais deixar seus cabelos crescerem, Suely?

- Nunca mais. Estou amando ser careca. 

Alcinéia disse:

- Cada qual tem seu jeito, o Valdenes andando descalço e a senhora careca... 

A luta de Leila

 

A jovem Leila, em Lagoa da Italianinha, luta para sobreviver. Ela vende picolés pelas ruas da cidade e mora no Alto do Cruzeiro, desde que chegou na cidade, vindo de Santana do Pajeú. Leila, que sempre foi muito pobre, mal sabe ler e escrever. 

A "Barbie descalça", como é conhecida, pois usa roupa rosa e anda sempre descalça - inclusive nas ruas e no trabalho -, nas horas vagas, tenta estudar, para aprender a ler e a escrever. Mas ela sofre vários preconceitos, por sua pobreza, seu hábito de viver sempre de pés no chão e por seu trabalho. Mas Leila sempre fala com orgulho do seu trabalho de vender picolé. Adora também ser chamada de "Leila do Picolé". 

Leila, nas horas vagas, ainda chega a fazer peraltices, como tomar banho no chafariz da praça. Leila já chegou a passar noites nas ruas de Lagoa da Italianinha quando chegou na cidade, por isso, ela tem amizade com alguns mendigos, em especial, a mendiga Fábia. 


quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Natal na guerra


 No Natal de 1944, no norte da Itália, os pracinhas brasileiros passaram esse período longe de suas famílias. Antônio Neto, Gabriel, Rodrigo e Mateus passaram o dia combatendo contra as forças alemãs, até que à noite, tentaram descansar. 

Antônio Neto disse:

- Nunca passei o Natal longe da minha mãe, é a primeira vez. 

- Eu também! - disse Gabriel. 

Rodrigo disse:

- Tudo por causa de brigas de governantes, o que temos a ver com isso? 

- Verdade! - disse Mateus. 

Enquanto isso, no interior de Pernambuco, no sítio Maniçoba, Mônica lembrava de seu filho. Ela disse para a italiana Giuliana, que trabalhava com ela:

- Primeiro Natal sem meu filho...

Giuliana disse:

- Mas ano que vem, ele estará com a senhora!!!!!

- Assim espero, italiana...

Andreza é vista no chafariz por sua irmã Carla

 

Durante a tarde do feriado de Natal, a mendiga Andreza estava no chafariz da praça, tomando banho, quando sua irmã Carla apareceu, dizendo:

- Oxe, tu pensa que tomando banho assim, tu vai tirar teu grude e tua catinga de sovaco, de boca e de urina? 

Andreza saiu do chafariz e disse:

- Eu pedi sua opinião?

- Não. Mas estou dando! 

- Sai daqui que não quero te ver!

Carla disse:

- É assim que tu deseja feliz natal pra sua irmã querida?

- Oxe, não desejo feliz natal pra cobras e serpentes! Saia!

- Caramba, Andreza, não fale perto de mim, tua boca tá fedendo demais, misericórdia. 

- Eu espero ficar ainda mais fedorenta pra afastar pessoas do seu tipo! 

Carla disse:

- Eu fico imaginando como aquele mendigo, o tal de Guilherme, aguentaria te beijar! Coitado, desmaia na hora. 

- Isso é um problema meu e dele. E ele não é meu namorado. 

- Oxe, na cidade falam que vocês dois namoram. 

Andreza disse:

- E o que tu tem com isso, bruaca?

- Nada. Mas vou te dizer, se isso for verdade, Andreza, que fundo do poço tu caiu, viu? 

Andreza pegou Carla pela camisa, que disse:

- Me solta!!!!

Andreza puxou Carla para o chafariz, e jogou a irmã na fonte. Andreza disse:

- Agora, suma e não se meta na minha vida!

Andreza se retirou, e Carla, no chafariz, dizia:

- Nojenta! Eu odeio essa traste! Tenho nojo de tê-la como irmã! 


O orgulho da "mendiga chique"

  A mendiga chique Warlla, que vive pelas ruas de Lagoa da Italianinha desde 2022, segue chamando atenção por sua pose de elegante. Warlla n...