Desde que deixou Portugal e embarcou num navio com imigrantes italianos para irem para o interior de Pernambuco, a cantora Mary Dee sempre aprontou muito no pequeno sítio Maniçoba, onde ela vivia. Para se ter uma ideia, quando ela chegou no porto do Recife, em 1935, Mary Dee chegou a se jogar de roupa e tudo no mar como comemoração.
Mary Dee, que deixou seu país por conta do Salazarismo, era tida como liberal e desafiou muito a sociedade conservadora no interior de Pernambuco. Chegou várias vezes a brigar com a Mônica, a beata que dizia claramente que a portuguesa era "enviada do inimigo". Ela tinha mais raiva de Mary Dee do que dos imigrantes italianos.
Mary Dee costumava sempre ser vista na venda de Ed, bebendo excessivamente, tendo chegado várias vezes a ser levada bêbada para casa. Numa certa manhã em 1936, Ed abriu sua venda e encontrou Mary Dee dormindo na calçada. Ele a acordou, e disse:
- Mas o que está fazendo aqui?
- Eu bebi tanto que adormeci aqui!
Mas, apesar das loucuras, Mary Dee era tida como uma pessoa boa. Ela chegou várias vezes a ajudar Valdinha, uma moradora de rua que vivia ao relento em Vila Dourada. Como Portugal não se envolveu na Segunda Guerra Mundial, Mary Dee não sofreu nenhuma retaliação, como aconteceu com a alemã Inalda e as famílias italianas.
Por algum tempo, Mary Dee morou em uma mesma casa com a cantora Adelma e a professora Issa, pessoas de quem ela se tornou grande amiga. Ela teve dois auges em sua carreira de cantora: um na década de 20 em Portugal, e outro na década de 50, já no Brasil. Nos dias de hoje, Mary Dee dá um nome a um bairro onde moram alguns de seus descendentes.
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