Uma cidade à francesa

 

Lagoa da Italianinha, como se sabe, é uma cidade em pleno Agreste de Pernambuco que preserva, além de sua própria cultura nordestina, a cultura italiana, trazida por famílias que fundaram a cidade. Além disso, Lagoa da Italianinha abriga pequenas colônias alemã e portuguesa. 

Mas a cidade vizinha, Vila Dourada, inspirada na sua co-irmã - que pertenceu a ela até 1963 - também começou a fazer uso de cultura de outro país europeu: a França. Na realidade, a fundação da cidade é atribuída a um pernambucano, porém a esposa dele, Jacilene, era francesa. No começo do século XIX, Jacilene, já com seus 50 anos de idade, por volta de 1802, trouxe muitos familiares seus franceses. Vila Dourada se emanciparia em 1811. 

Anos mais tarde, um outro francês, descendente de Jacilene, foi um líder empresarial e político na cidade: Jorge Villegagnon também nascera na França, e se estabeleceu em Vila Dourada, se casando com a pernambucana Joana e gerando sete filhos, além de adotar uma outra filha. Um dos filhos de Jorge, Carlos, seria prefeito de Vila Dourada. 

Vila Dourada mostrou-se tão ligada à cultura francesa que na Segunda Guerra Mundial, quando a França foi invadida pela Alemanha, Jorge Villegagnon chegou a oferecer a cidade pernambucana para seus amigos e colegas de lá, além de estimular o delegado a perseguir as alemãs Inalda e Danielly, que viviam no sítio Maniçoba, atual Lagoa da Italianinha, na época, parte de Vila Dourada. Arnaldo Villegagnon, filho de Jorge, era militar e foi chamado para combater na guerra, e ao sair, a mãe teria dito:

- Honra o Brasil e honra a França, terra natal do teu falecido pai...

- Pode deixar, mãe...

Mas Arnaldo não voltou vivo da guerra, morrendo durante a tomada de Monte Castelo nas mãos de Antônio Neto, que chorou por não conseguir salvar sua vida. 

Alguns dos moradores de Vila Dourada, que é pequena, tendo por volta de 15 mil habitantes, muito menor que sua vizinha Lagoa da Italianinha, se orgulham de serem descendentes da Jacilene e do Jorge Villegagnon, e cultivam, além da bela cultura nordestina e pernambucana, a cultura francesa. 

Em Vila Dourada, chegaram até mesmo a fundar um time chamado Gália - antigo nome da França -, que é a segunda maior força esportiva da cidade, somente atrás do Vila Dourada. Os municípios de Lagoa da Italianinha e Vila Dourada têm uma relação um tanto conflituosa - principalmente por causa de um importante povoado na divisa dos dois municípios -, e muitos nordestinos brincam dizendo que é uma "guerra entre Itália e França dentro de Pernambuco"...