Nas ruas de Lagoa da Italianinha, muito tarde da noite, a mendiga Warlla perambula pelo relento, vestida como uma madame, de posse de sua bolsa. Mesmo aceitando sua realidade e dizendo que é uma moradora de rua, Warlla ainda tem "nariz empinado", pois diz sempre a frase: "perdi tudo, mas não perco a pose". Além de Warlla ser rejeitada pelos ricos, também sofre rejeição da maioria dos moradores de rua, pela forma como se veste.
Numa certa hora, Warlla sentiu calo e tirou um pouco seus sapatos salto alto. Ficou enojada, pois odeia andar descalça e não se imagina sem sapatos nos pés, tanto é que não os tira nem pra tomar banho e nem pra dormir.
Quando ela colocou novamente seus sapatos, Warlla foi andar um pouco pela praça 27 de Dezembro, e via algumas pessoas da alta sociedade, da qual ela um dia já fez parte. Ela os olhava com ódio e ressentimento. Ela dizia pra si mesma:
- Quando eu era rica, só viviam me lambendo os pés... agora, que moro nas ruas, fingem que eu não existo...
Warlla foi se aproximar deles, e eles saíram imediatamente, de fininho, de forma disfarçada. Warlla se sentou em um banco e começou a chorar. A mendiga Gabriella apareceu e disse:
- O que tu tem, amiga?
- O que te interessa?
Gabriella sorriu e disse:
- Já sei. Você viu esses ricos e eles fugiram de você. Quantas vezes aconteceu isso comigo no Recife.
- Olha, não me venha com suas experiências de vida, que não me interessa nem um pouco, além do mais, tu tem idade pra ser minha filha, certo?
- Não seja dura, Warlla. Nós podemos ser amigas.
- Proposta boa, mas não me interessa nem um pouco.
- Por que?
- Desculpe, me incomoda muito ser amiga de uma mulher suja, descalça, descabelada e com cheirinho meio forte...
Warlla se levantou, e Gabriella a olhava, sorrindo:
- Coitada, tão dura de coração...
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