Renata e Rita de Cássia se tornam amigas

 

Numa certa noite, nas proximidades da antiga Estação Ferroviária em Lagoa da Italianinha, a mendiga Renata viu a Rita de Cássia, a maluquinha que tem mente de criança e que está morando nas ruas. Rita estava sentada, com um lençol e com sua boneca na mão, e como sempre usava chupeta. 

Renata disse:

- Posso me sentar aí?

- Pode, sim, claro. 

Renata disse:

- Ouvi dizer que tua família é rica, tu teria casa...

- Sim, mas eu saí, não quero mais saber de casa nenhuma. 

- Por que essa decisão tão radical? - perguntou Renata. 

- Porque Wéllia é má, tia Selma é má... 

Renata disse:

- Pois é, eu nem casa tenho, vivo nas ruas, mesmo, sem teto, sem lugar pra me abrigar. Mas olha, eu gostei de tu, quero ser sua amiga. 

- Obrigada, galeguinha suja. 

- Bom, me chamam assim é?

- Sim. 

Renata disse:

- Só porque odeio tomar banho, só tomo banho de mês em mês...

- Eu tomo todos os dias. 

Renata disse:

- Rita, me diz uma coisa: Por que tu usa chinelo só no pé direito, e o pé esquerdo é descalço? Faz que nem eu, que ando descalça com os dois pés. 

- É que meu pai usava calçados e minha mãe andava descalça. 

- Ah, tá. E esse cheirinho meio esquisito que tô sentindo?

- Oxe, eu fiz cocô nas calças! - disse Rita. 

- Nem te condeno por isso, já fiz isso algumas vezes. Já mijei nas calças, também. Sabe como é, eu nem casa tenho, como vou ter banheiro? 

Renata viu que Rita não parava de brincar com sua boneca. Renata disse:

- Posso tocar na boneca?

Rita não quis dar a boneca, e disse:

- É minha filha Dalila!

- Tudo bem, eu te entendo. 

Renata se deitou, e disse:

- Hoje, nem estou com vontade de ir lá pra perto da rodoviária, vou dormir aqui hoje.

- Tá certo, Renata. Boa noite de sono pra tu!

Renata adormeceu na calçada e pegou no sono. Rita só dormiu depois.