quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A nostalgia de Valdinha

 

Morando nas ruas de Vila Dourada na década de 30, a mendiga Valdinha costumava ficar com lembranças de um passado mais glorioso. Nascida em 1881, ela chegou a ver a Monarquia brasileira, que acabou quando ela tinha oito anos de idade, chegando até mesmo a ir para a Côrte. 

No ano de 1936, ela, com 55 anos de idade, se via na sarjeta, sem casa para morar, e com uma filha, a Rayane. Costumava pedir esmolas para as pessoas que passavam pelo centro da cidade. Ela ficava preferencialmente na calçada da Igreja, onde recebia também uma ajuda do Padre Francisco e da Irmã Renata Augusta. 

Lady Andréia, uma madame beata que andava por ali, e a Mônica, infernizavam a mendiga, chamando-a de vagabunda. 

Mas além do padre e da freira, outra que lhe dava uma atenção era Janaína, uma mulher que vendia comida nas ruas. Janaína fazia algumas comidas a mais para doar para Valdinha e Rayane. Numa certa ocasião, Janaína disse:

- Eu fico tão triste ver a senhora assim nas ruas, sofrendo... 

- Estou acostumada e mereço. Tu já fosse rica alguma vez?

- Nunca fui! Eu sempre fui pobre! - disse Janaína. 

- Que idade tu tem? 

- Tenho 48, e a senhora?

Valdinha disse:

- Tenho 55. Mas estou aqui, por merecer, por minhas escolhas erradas. 

- Mas não pode ficar se lamentando, dona. 

- Eu mereço e pronto. 

- E sua filha?

Valdinha disse:

- Eu já disse à Rayane que se ela quiser, pode procurar uma família... mas ela quer ficar do meu lado. 

- Puxa, isso não é justo...

Janaína ficou penalizada, e foi para casa, almoçar com seus familiares, enquanto Valdinha se deitou na calçada pra dormir. Em casa, Janaína disse ao seu marido Jadílson tudo que a mendiga havia falado. Jadílson disse:

- Ela é sofredora demais, e parece que aceitou o sofrimento. 

- Coitada dessa senhora - disse Jadiel, o filho mais velho. 

Jamile, a filha mais nova, disse:

- Ela é uma louca, isso sim. 

- Não fala assim, Jamile. Eu não a julgo, a gente não sabe o que se passa no coração dela, coitada. - disse Janaína. 

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