Morando nas ruas de Vila Dourada na década de 30, a mendiga Valdinha costumava ficar com lembranças de um passado mais glorioso. Nascida em 1881, ela chegou a ver a Monarquia brasileira, que acabou quando ela tinha oito anos de idade, chegando até mesmo a ir para a Côrte.
No ano de 1936, ela, com 55 anos de idade, se via na sarjeta, sem casa para morar, e com uma filha, a Rayane. Costumava pedir esmolas para as pessoas que passavam pelo centro da cidade. Ela ficava preferencialmente na calçada da Igreja, onde recebia também uma ajuda do Padre Francisco e da Irmã Renata Augusta.
Lady Andréia, uma madame beata que andava por ali, e a Mônica, infernizavam a mendiga, chamando-a de vagabunda.
Mas além do padre e da freira, outra que lhe dava uma atenção era Janaína, uma mulher que vendia comida nas ruas. Janaína fazia algumas comidas a mais para doar para Valdinha e Rayane. Numa certa ocasião, Janaína disse:
- Eu fico tão triste ver a senhora assim nas ruas, sofrendo...
- Estou acostumada e mereço. Tu já fosse rica alguma vez?
- Nunca fui! Eu sempre fui pobre! - disse Janaína.
- Que idade tu tem?
- Tenho 48, e a senhora?
Valdinha disse:
- Tenho 55. Mas estou aqui, por merecer, por minhas escolhas erradas.
- Mas não pode ficar se lamentando, dona.
- Eu mereço e pronto.
- E sua filha?
Valdinha disse:
- Eu já disse à Rayane que se ela quiser, pode procurar uma família... mas ela quer ficar do meu lado.
- Puxa, isso não é justo...
Janaína ficou penalizada, e foi para casa, almoçar com seus familiares, enquanto Valdinha se deitou na calçada pra dormir. Em casa, Janaína disse ao seu marido Jadílson tudo que a mendiga havia falado. Jadílson disse:
- Ela é sofredora demais, e parece que aceitou o sofrimento.
- Coitada dessa senhora - disse Jadiel, o filho mais velho.
Jamile, a filha mais nova, disse:
- Ela é uma louca, isso sim.
- Não fala assim, Jamile. Eu não a julgo, a gente não sabe o que se passa no coração dela, coitada. - disse Janaína.
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