segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Os escritos de Tia Sandra

 

Durante o tempo que esteve internada em um manicômio em Milão, entre 1939 e 1946, Tia Sandra chegou a escrever algumas memórias do período. Portadora de um problema mental que a fazia agir como criança, sendo inclusive dona de uma boneca da qual nunca largou, nem mesmo quando idosa, ela escrevia seus sentimentos enquanto estava no manicômio. 

Por várias vezes, usou camisa-de-força, mas quando não estava com esse material, na solidão do seu quarto, escrevia. Desabafava seus sentimentos sobre a guerra que estava em curso, sua rejeição na família e sua saudade da sua sobrinha Lanie, que estava no Brasil. 

Numa certa noite de 1942, Tia Sandra, que tinha 51 anos, estava sendo medicada por uma enfermeira, e ela disse:

- Quero um lápis e um papel, pode ser?

- Sim, senhora. 

Naquela noite, Tia Sandra sentia frio, e ela escreveu:

"Quantas noites sofri com esse frio sem teto pelas ruas de Verona, tudo por que minha família não se interessava em mim. Parecia que eu era estorvo, indesejada. Minha única parente de verdade está lá do outro lado do oceano, no Brasil, para onde foram tantos conterrâneos nossos. Minha única companhia desses anos tem sido minha boneca, a minha filha de verdade. E será assim até o fim". 

Esses escritos jamais foram publicados. Era apenas uma forma dela desabafar suas tristezas. Lanie ficou com todos eles, de modo que hoje, quem os detém é a Alycia, filha de Lanie, que atualmente tem 93 anos e mora em Verona. 

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