- Pensei que tinha voltado para Caruaru!
- Não, claro que não. Vou me estabelecer aqui!
- Bem, como sabe, eu quero ser candidata a vereadora, ser eleita e desfrutar muito das benesses do dinheiro público.
- Danúzia, como você sabe, terá que falar tudo que eu disse. Beijar pobres, tratar pobres bem...
- Oxe, não sei pra que isso. A maioria dos políticos não gostam de pobre, porque é assim?
- Eles não expressam isso abertamente, mas você, Danúzia, abertamente, diz não gostar de pobres. E os pobres são a maioria do eleitorado. Ou faça o que estou sugerindo, ou esqueça sua candidatura.
- Tá bom, vou me sacrificar.
Hamilton disse:
- Pronto, vamos tomar um café agora?
- Qual restaurante chique a gente vai agora?
- Nenhum. Vamos no Mercado Público.
- O que??????
Hamilton disse:
- Danúzia, eu também não gosto de pobres... mas tu tem que se adequar. Depois que tu for eleita, tu faz o que tu quiser. Mas até lá, tu tem que se sacrificar.
Mesmo contra sua vontade, Danúzia foi com Hamilton ao Mercado Público, e lá pediram café na lanchonete de Edsandra, onde trabalhava também a atendente, a ex-mendiga Andréa Descalça.
Andréa serviu o café e disse:
- Danúzia, que milagre, a senhora aqui em ambiente de pobres?
- Eu estou aqui pra tomar um café...
- Pois é, quem te viu quem te vê... quando eu morava nas ruas, você me pisoteou várias vezes, e...
- Vamos parar com isso, eu tô aqui numa boa!
Pouco depois, quando saíram dali, Danúzia disse ao Hamilton:
- Pense numa vontade tive de dar uma bolacha naquela pé sujo atrevida! Pobre não é gente, definitivamente!
- Danúzia, foi a imagem que você construiu. Faça feito a filha da prefeita, sirva sopão, quem sabe, melhora pra você.
Danúzia estava incomodada.
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