Numa certa noite, Danúzia estava em sua casa, quando seu pai, o deputado estadual Moab, mandou chamá-la em seu escritório. Ela lhe disse:
- Fala, pai.
Moab disse:
- Danúzia, você anda insistindo querendo ser candidata a vereadora, querendo ser minha sucessora na política.
- Mas é claro, pai. Eu devia estar naquela Câmara. Eu sou muito mais inteligente que o paspalho do Marco Aurélio, não acha?
Moab retrucou:
- Sim, mas você anda muito mal nas pesquisas. Sua fama na cidade é péssima, você vive envolvida em confusão, e o que é pior. Odeia pobres. Como quer se eleger, se a maioria é pobre?
- Dinheiro, pai. Tenho muita grana, sou advogada e sabe como é, né?
- Sim, o dinheiro é importante. Mas nem sempre é unicamente essencial em uma campanha eleitoral. Mas, olha, Danúzia. Provavelmente, Marco Aurélio, depois dele ter passado uns dias na cadeia, tá com a imagem mais arranhada. Vou precisar contratar um consultor político pra lhe acompanhar. Se quiser ser candidata, terá que seguir algumas normas. Uma delas: deixar desse seu ódio contra pobres.
- Oxe, eu vou ter que pegar em menino sujo, em gente de pé no chão, em mulher e homem fedorentos?
- Vai ter que fazer isso, Danúzia. Caso contrário, não tem como tu ser candidata a nada.
- Só falta querer que eu saia por aí vestida de mendiga e de pé no chão feito essa mundiçada toda.
- Não precisa chegar a tanto, Danúzia. Mas se quiser se eleger, terá que seguir essas regras. Outra coisa, eu mandei encomendar uma pesquisa sobre tu, e o povo aí te vê como uma pessoa que odeia pobres.
- Mas eu odeio pobres mesmo. Gente inútil!
- Mas é a maioria. Só com o voto de gente rica tu não se elege! Vai aceitar ou não?
Danúzia, contrariada, disse:
- Tá bom, pai. Mas depois que eu me eleger, quero distância dessa gente!
- Bom, isso é pra depois, aí tu faz o que tu quiser.
- Sim, pai, vou ficar mais rica do que já sou e ainda vou propor um projeto de lei para proibir essas pessoas de andarem descalças por aí, nossa cidade fica com uma péssima fama por isso, gente sem noção e amundiçada, até uma prefeita. Vou acabar com isso!
- Aí não posso garantir que tu vai conseguir proibir as pessoas de andarem descalças. Bom, Danúzia, amanhã o instrutor político que cuidou das minhas campanhas vai lhe procurar.
- Está bem, pai.
- Pode ir.
Danúzia saiu dali e foi se jogar de roupa e tudo na piscina.
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