segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Sabedoria de Alessandra

 

Na sua velhice morando em Maceió, a alemã Alessandra, apesar de viver bem, guardava lembranças tenebrosas de quando viveu em um campo de concentração na época da Segunda Guerra Mundial. Ela contava muitas coisas ao seu pequeno neto Humberto. Certo dia no ano de 1970, o seu filho lhe disse:

- Mãe, para que a senhora fica contando esses horrores para meu filho? Não tem medo que ele fique traumatizado? 

- Eu conto por que não quero que ele viva em uma redoma de vidro, e também saiba do que o ser humano é capaz. Mas que sobretudo, ele aprenda a fazer a diferença nesse mundo tão mau, para que experiências como as que eu vivi não se repitam nunca mais. 

Alessandra, nessa época, já tinha 73 anos, e se preocupava com que as novas gerações não experimentassem regimes autoritários. Ela andava incomodada com o regime militar no Brasil, e mesmo sendo de esquerda, criticava as experiências de ditaduras socialistas mundo afora. 

Alessandra também tinha algumas doenças que ela carregava como resultado dos seis anos no campo de concentração. Mas conseguia viver normalmente, se consultando regularmente com um médico alagoano. Mesmo nas suas consultas, costumava dar seus depoimentos e pensamentos. Ela disse ao médico:

- O senhor como médico, sabe que as pessoas precisam agir sempre pela razão, jamais pela emoção. Por pior que um país esteja, nunca deveremos deixar a emoção nos dominar. Sempre temos que pensar antes de optar por uma escolha. Meu país pagou um alto preço por escolher um partido extremista, que apenas se aproveitou da situação de miséria que o país atravessava. Um partido que prometeu soluções rápidas e apenas levou o povo ao caos. 

Mas se por um momento, Humberto parecia que ia crescer traumatizado, isso não ocorreu. Tanto é que quando adulto, anos mais tarde, não teve dificuldades em receber como esposa a Amália, cujo primeiro marido, Ademar, era um homem cruel. 

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